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04 junho 2007

Lembranças de "O Iluminado"






Para o lançamento do aguardado O iluminado (The shining), em 1980, a Warner concordou em lançar cópias originais e dubladas. Considero a dublagem um crime, um atentado à integridade da obra cinematográfica. Se, por exemplo, a dublagem viesse a se tornar rotina no Brasil (como o é na Europa) deixaria de ir ao cinema. Detesto filmes dublados, pois a inflexão vocal tem muito a ver com a interpretação, a construção do personagem. Além do mais, quando dublado, as bandas sonoras se desintegram, ficando com a predominância a banda dos diálogos em detrimento a de ruídos e a da partitura musical. Mas estava me referindo à estréia de O iluminado, de Stanley Kubrick. Fiquei espantado com a concordância da Warner em permitir que cópias dubladas fossem colocadas no mercado. Um xenófobo, ao qual expus a minha indignação, saiu-me com esta: "Mas a dublagem vai ser supervisionada por Nelson Pereira dos Santos!" Ha, ha, ha. Sem comentários. E para a minha desgraça, soteropolitano, quando lançado O iluminado, apenas um cinema, o Liceu, exibiu-o. Mas em cópia dublada! Tive que amargar a primeira visão de The shining dublado em português. Mandei Nelson Pereira dos Santos para o diabo, e entrei na sala para assistir ao novo filme de Kubrick. Anos depois, com o VHS, é que pude ver a original. A Warner argumentou diante dos críticos da dublagem que haveria uma cópia original e uma cópia dublada em cada capital. Mas isto não aconteceu. No Rio, São Paulo, e outras cidades, sim, as duas foram mostradas.

Revi em DVD The shining. Há um documentário de Vivien Kubrick, que, penso, deve ser sua filha, que mostra os bastidores de suas filmagens: Kubrick no chão para filmar Nicholson, este no banheiro escovando os dentes, fazendo ginástica, movimentando-se com o machado, etc. É bom para ver os atores à vontade, brincando. Kubrick calmo, conversando. É impressionante os travellings de Danny Lloyd, o garoto, de velocípede nos corredores do Hotel Overlook. Antológica é o plano em que o sangue jorra abundante do elevador, como uma cachoeira. E as duas meninas, lembrança dos mortos, são duas imagens de verdadeiro terror porque idéia do além-túmulo.

4 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Não me lembrava desta versão dublada. Desde a primeira vez que vi o filme foi no original.
O absurdo, relamente, foi este detalhe de aí em Salvador terem lançado a versão dublada sem opção... Um absurdo.

André Setaro disse...

Houve um tempo, se não me engano o deputado era Leo Simões, que o Congresso estava prestes a aprovar lei que obrigaria a dublagem dos filmes estrangeiros. Alguns xenófobos defendiam-na sob o argumento de que iria criar empregos com o aumento de trabalho nos laboratórios. Não compreendia tais argumentações, porque em primeiro lugar se encontra a manutenção da integridade da obra cinematográfica. A dublagem é uma ingerência, um ato criminoso, um atentado contra esta integridade. Quem acha filme dublado bom para mim nada entende de cinema. Ou melhor: não gosta de cinema.

Anônimo disse...

Gosto da dublagem de O Iluminado. Nelson Pereira dos Anjos dublou todas as vozes, um feito impressionante! numa epoca sem computadores. Pensei, como pode alguem imitar tantas vozes ao mesmo tempo?

André Setaro disse...

Com todo o respeito que possa ser devido a Nelson Pereira dos Santos, não deixou, ao dublar 'O Iluminado' de praticar um crime, um atentado à obra cinematográfica. E você, Mara, gostar de dublagem me faz pensar que não gosta de cinema não!