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11 setembro 2008

"Os inocentes": terror psicológico brilhante



Realizado em 1961, Os Inocentes (The Innocents), encontrava-se, há décadas, fora de circulação até o seu recente lançamento em DVD pela Fox. Dirigido pelo inglês Jack Clayton, que, três anos antes, com Almas em Leilão (Room at the Top, 1958), consolidou-se como um dos principais cineastas do free cinema (a nouvelle vague britânica), Os Inocentes é a adaptação de uma novela curta do famoso escritor Henry James (feita pelo célebre e polêmico Truman Capote e William Archibald), The Turn of the Screw (A Outra Volta do Parafuso).
O filme rechaça, no entanto, a ambigüidade do texto literário e opta francamente pela irrealidade das aparições. O terror, portanto, em Os Inocentes, surge como um recurso para uma abordagem mais profunda da repressão da era vitoriana. E as aparições, neste caso, ao invés de serem, na verdade, tormentos do sobrenatural, constituem-se nas mórbidas corporações do puritanismo e do sexo reprimido da protagonista principal, uma instrutora (Deborah Kerr em um de seus melhores desempenhos) que projeta sobre duas crianças (Pamela Franklin e Martin Stephens) os fantasmas de suas repressões sexuais, e, em conseqüência, causa sua desgraça.

Clayton brilha mais nas cenas exteriores - de sutil perversidade – do que nas interiores (nas quais se repetem os lugares comuns dos filmes de terror ingleses: ruídos inexplicáveis, portas que se abrem e se fecham, etc).
De qualquer forma, o realizador é hábil o suficiente para dotar Os Inocentes de uma inteligente descrição do ambiente e da mentalidade da era vitoriana. Vale destacar a brilhante e eficaz fotografia de Freddie Francis – que, posteriormente dirigiria várias fitas de terror para a Hammer, produtora inglesa, e que foi chamado por Martin Scorsese para fazer a fotografia de seu Cabo do Medo (bela luz mas filme ruim), e a inexcedível interpretação de Deborah Kerr – vítima e verdugo da perversa fascinação de seus jovens alunos.

Entre os filmes de Jack Clayton, diretor de raro domínio formal sobre o seu meio de expressão, embora pouco reconhecido e comentado – talvez dada a dificuldade de encontrar as suas obras mais notáveis, os que mais se destacam são este Os Inocentes e Almas em Leilão, seu primeiro longa metragem, um melodrama social sobre a ascensão de um jovem arrivista, muito bem acolhido, na época, pela crítica. Como características de sua mise-en-scène, podem ser detectados rigor expositivo e beleza formal dentro de um estrito classicismo.
Também se pode citar como obra singular de Clayton um filme de 1964: Crescei e Multiplicai-vos (The Pumpkin Ester), que incide sobre estas características e confirma sua interessante personalidade. Nos anos 70, entusiasmado por estes filmes do início de carreira, Francis Ford Coppola o convida para dirigir, nos Estados Unidos, O Grande Gatsby, baseado no romance de F. Scott Fitzgerald, com Mia Farrow no auge de sua carreira. Mas Clayton tinha já perdido o seu mistério como realizador, não dando ao filme a personalidade que tinha tanto quando fez Os Inocentes e os outros citados.O DVD de Os Inocentes, disponível na Casa de Cinema (Shopping Rio Vermelho, rua Odilon Santos, procurar Roberto Midlej, ou telefonar para 3334.4409), conserva integralmente o formato cinemascope da cópia exibida em cinema.

10 setembro 2008

"Cascalho" é convidado para mostra em Berlim

Cascalho, longa metragem baiano de Tuna Espinheira, honrado com o convite para participar, na Alemanha, de uma mostra do cinema brasileiro, a representar a Bahia, está a encontrar dificuldades para obter uma cópia devidamente legendada em inglês, como solicitam os organizadores do evento. A ANCINE tem recursos destinados especialmente para legendar os filmes que participam de mostras no exterior. Segundo o realizador, já houve pedidos de interferência pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SECULT), do IRDEB e departamento audiovisual (DIMAS) da Fundação Cultural. Se providências não forem tomadas com a máxima urgência, os órgãos que se dizem promotores da cultura baiana estarão, na verdade, a desprestigiar, e olimpicamente, a própria Bahia, pois Cascalho precisa ter esta cópia em inglês e se mostrar em Berlim. Na foto, Othon Bastos num momento de Cascalho, que é baseado em romance homônimo de Herberto Salles. Abaixo carta que Tuna recebeu a convidar o seu filme. O Setaro's Blog solicita, à sua maneira, que a SECULT, o IRDEB, e o DIMAS façam algumas coisa em favor do filme baiano diante do ANCINE, que parece atender apenas aos grupinhos da hora certa.

Sidney Martins
Schönhauser Allee 32 Berlin 08.09.08
10435 Berlin

Á ASACINE Produções

Prezado Senhores,

Venho por meio dessa solicitar a participação do filme de longametragem "Cascalho", de Tuna Espinheira, na Mostra de Cinema Brasileiro em Berlim "Cinebrasil“ que será realizada de 13 á 19 de novembro de 2008 no Cinema Hackesche Höfe na cidade de Berlim-Alemanha.

Na certeza que esse tipo de Filmografia colabora para a divulgação da cinematografia baiana, que nesse ano é o destaque da mostra. agradeço cordialmente o vosso apoio e desejo á todos muito sucesso na realização de novos projetos.

Reafirmo que o filme é de relevante importância para a nossa Mostra e que para ser compreendido pelo público presente solicitamos o apoio para a tiragem de uma cópia em 35mm com legendas em Inglês.
Em contrapartida oferecemos como forma de agradecimento um espaço no programa da Mostra a impressão dos logos dos institutos ligados ao apoio.

Atenciosamente,
Sidney Martins
Organizador
www.cinemanegro.de / www.cinebrasil.info
sidney@cinebrasil.infoinfo@sidney-martins.com

A maldita dublagem ameaça o Brasil


Está-se diante de uma grande ameaça que pode vir a dispensar muitos cinéfilos de seu prazer de ver filmes. É que uma reportagem da repórter Silvana Arantes, publicada na Folha de S.Paulo em 29 de agosto do ano em curso, revela que a maioria dos espectadores brasileiros está a preferir filmes dublados em detrimento dos legendados. Se a dublagem vier a se tornar uma constante, devo dizer, infelizmente, mas vou deixar de comparecer às salas exibidoras. A dublagem é ato criminoso. Sabe-se que a monstruosidade existe na Europa, mas não deixa de ser um atentado à integridade da obra cinematográfica. Triste notícia!

SILVANA ARANTES
"Fã dos filmes de Hollywood (72% os acham ótimos ou bons), o espectador brasileiro prefere assistir a cópias dubladas (56% dos freqüentadores) do que legendadas (37% dos freqüentadores) no cinema.
No entanto, a maneira como o espectador mais gosta de ver filmes é em DVD (44%). Quando sai de casa para ir ao cinema, já sabe que título irá ver (68%). Escolhe pela leitura de jornais (45%), segundo o tema dos filmes (38%). Prioriza os mais comentados, não necessariamente os mais cotados pela crítica.
No caso dos longas americanos, prefere os de ação (43%). Entre os brasileiros, aprecia mais as comédias (37%) -gênero de produção escassa.

Perfil
O perfil do freqüentador brasileiro de cinema foi traçado em pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Distribuidores do Rio de Janeiro ao instituto Datafolha, que ouviu 2.120 pessoas em dez cidades brasileiras no fim do ano passado.
Em abril deste ano, a pesquisa foi aprofundada com um grupo de consumidores, na chamada fase qualitativa.
O presidente do sindicato, Jorge Peregrino, divulgou os principais dados revelados pela pesquisa, anteontem, em São Paulo. A íntegra (377 páginas) está disponível no site da entidade (www.sedcmrj.com.br).
A pesquisa faz distinção entre o espectador habitual, aquele que vai ao cinema pelo menos uma vez a cada 15 dias, o médio (ao menos uma vez a cada três meses) e o eventual (ao menos uma vez por ano).
A preferência pela dublagem se concentra entre os espectadores médio (57%) e eventual (69%). Entre o público mais freqüente, há um empate técnico -46% preferem dublados, e 47%, legendados.
Peregrino observa que a tendência ao consumo de filmes dublados não se verifica apenas no Brasil. Responsável pelas operações da Paramount em toda a América Latina, ele diz que "no México, a empresa já mudou um pouco o perfil dos lançamentos, porque parte da população prefere isso".
No Brasil, o executivo afirma ainda não saber "se esse é um caminho a seguir". O dado "tem que ser visto com muito cuidado. É coisa de sensibilidade. Depende do tipo de filme", diz, citando que "a Paramount já teve casos em que errou".
O erro foi "ter dublado filmes que não deveríamos dublar ou ter dublado com mais cópias do que deveríamos".
No Congresso Nacional tramita um projeto para tornar obrigatória a dublagem de filmes estrangeiros no país.
Embora interessados em atender aos desejos do espectador, para ampliar a freqüência aos cinemas no Brasil -que está em queda- os distribuidores são contra a obrigatoriedade.

Diversidade
Rodrigo Saturnino Braga, da Columbia, acha que a medida seria contraproducente para a diversidade da oferta. "O custo financeiro não compensaria o lançamento de filmes alternativos, com poucas cópias e sem o custo da dublagem previsto para a etapa do DVD. Há o risco de que eles deixem de ser lançados", afirma.
Em relação aos filmes brasileiros (obviamente dispensados da necessidade da dublagem), a expectativa dos distribuidores é que a pesquisa ajude a redirecionar a discussão sobre sua atual crise de público -6,9% do acumulado no ano.
"As pessoas têm de usar a pesquisa para saber o que estão fazendo. Ali existem pontos suficientes para guiá-las", diz Peregrino, para quem o debate sobre a queda de público do filme nacional "continua se concentrando nos pontos que não são importantes".
A pesquisa identificou o que desagrada os espectadores que afirmaram não gostar da produção nacional: o tema dos filmes foi a resposta de 80% dos freqüentadores de cinema.
A segunda resposta mais freqüente (32%) aponta que "os filmes são pornográficos, com baixarias, palavrões, vocabulário vulgar"; 20% acham que "os temas/roteiros não têm conteúdo, começo, meio e fim".

07 setembro 2008

Um pouco sobre Godard

Nascido em 1930, é um realizador, hoje, com 76 anos, mas que continua na ativa, fazendo filmes, reclamando e polemizando, nunca deixando de causar controvérsias – como se pode observar em Elogio do amor, que não é uma unanimidade, pois há quem o adore e quem o deteste. Se, na última fase, por uma certa radicalidade com os procedimentos cinematográficos, causou uma diáspora incontornável entre os cinéfilos, não se pode negar, porém, que seus filmes dos anos 60 são significativos e divisores-de-água para o cinema contemporâneo. Detona a Nouvelle Vague com Acossado em 1959 juntamente com François Truffaut em Os Incompreendidos, entre outros, provocando um trauma duradouro no cinema francês.
As primeiras letras, fê-las na Suíça, mas logo se transfere para Paris a fim de estudar no tradicional Liceu Buffon e, em seguida, forma-se em Etnologia pela Sorbonne. Em inícios da década de 50, vem a conhecer, na Cinematheque Française, Henri Langlois, com quem faz logo amizade. Publica em La Gazzette du Cinema suas primeiras críticas, que despertam curiosidade em cinéfilos aguerridos como François Truffaut, Eric Rohmer, Jacques Rivette, André Bazin, que o convidam para ser crítico permanente da revista Cahiers du Cinema. Resolvido a conhecer os Estados Unidos, abandona suas atividades críticas e, na volta, emprega-se como operário na construção da represa da Grande-Dixence, na Suíça, apesar de diplomado com nível superior. Quer, na verdade, “sentir-se operário” e, findo o trabalho, o que ganha, emprega na produção de seu primeiro exercício fílmico: o documentário Operation Béton (1954). Volta para a revista e, desta vez, a praxis conduz o crítico, pois, em Genebra, faz, em 16mm, Une femme coquette. No campo curtametragista realiza, ainda, Tous les garçons s’apellent Patrick (1957), Charlotte e son lules, em 1958, e, neste mesmo ano, Une histoire d’eau, em co-direção com François Truffaut.
A sorte grande de Jean-Luc Godard é ter encontrado o produtor Georges Beauregard, que, interessado em bancar filmes para a renovação do cinema francês, aposta no cineasta e produz, para ele dirigir, Acossado (A bout de souffle), com argumento escrito por Truffaut, obra marcante e que inaugura a Nouvelle Vague. A seguir, já em 1960, O Pequeno Soldado (Le Petit Soldat), filme sobre a trágica aventura – e uma tanto ridícula, convenha-se – de um agente secreto ocasional em luta contra as forças revolucionárias argelinas. Neste filme, já afirma precocemente seu caráter de autor, curiosa síntese de cinéfilo e cineasta.No ano seguinte, um de seus melhores trabalhos, Uma mulher é uma mulher (Une femme est une femme), 1961, comédia ácida sobre a nostalgia do filmusical americano com alusão a Vincente Minnelli, entre outros, e com Jean-Paul Belmondo e Anna Karina. Este filme merece ser destacado pela sua inusitada importância na época de seu aparecimento e pelo elogio ao cinema musical clássico realizado em Hollywood.
A seguir, em 1962, vem Viver a Vida (Vivre sa vie), apólogo sobre uma mulher - Anna Karina, como de hábito – que vende seu corpo para, paradoxalmente, conservar a sua alma, dotado de profunda humanidade e de uma emoção insólita e pura. A construção polifônica destes filmes, baseada numa tensão dialética entre a realidade e a fantasia, na qual se sintetizam vários planos superpostos – um relato fictício, um elemento autobiográfico, uma reflexão sobre a natureza do cinema, um tratamento documental, etc – dá origem ao que se pode considerar um novo gênero cinematográfico: o ensaio filmado. Este caráter dialético se faz mais patente nos sketches que realiza para vários filmes com um propósito claramente experimental: A preguiça, de Os Sete Pecados Capitais (Les sept péches capitaux, 1961), Rogopag (1962), Montparnasse-Levallois, episódio de Paris visto por... (Paris vu par..., 1964). Segue Tempo de Guerra (Les Carabiniers, 1963), outro apólogo, mas, desta vez, feroz e sarcástico, num filme sobre a guerra, baseado numa comédia de Beniamino Joppolo, que adapta de Roberto Rossellini, A “escritura” de Godard se transforma, adquirindo mais virulência, com uma ressonância trágica e desencantada cada vez maior. Como prova, o admirável O Desprezo (Le Mépris, 1963), harmoniosa síntese de classicismo e modernidade. Reflexão sobre o cinema, este filme utiliza, com grande propriedade artística, os recursos da tela larga, do cinemascope, sendo indispensável ser visto e contemplado na sala de exibição em celulóide. Em alguns momentos, os corpos dos atores se transmudam em esculturas paralelas aos volumes arquitetônicos. Assim como a belíssima Brigitte Bardot, cujo corpo adquire, neste filme, um “teor escultural”. Beleza enquanto explicação da beleza, arte enquanto explicação da arte, cinema enquanto explicação do cinema.
A partir de 1963, a carreira de Jean-Luc Godard adquire uma atividade intensa, um ritmo febril, rodando dois ou três filmes por ano e saudado pela platéia dos ‘cinemas de arte e ensaio’ como um revolucionário, um “desconstrutor” da linguagem, um entusiasta do cinema enquanto ensaio fílmico. Uma geração chega a se formar, no Rio de Janeiro, para discutir Godard, constituída de jovens cariocas que, após as sessões de seus filmes, sentam-se nos barzinhos da rua Paissandú – a sala exibidora tem este nome, brutalmente fechada por estes dias – para discutir o último “travelling” do cineasta. A “godarmania” atinge a juventude nos tresloucados anos 60 e se espraia pelas principais centros intelectuais do planeta.Cada novo filme de Jean-Luc Godard se constitui numa ambiciosa experiência em terrenos tão diversos como o poema romântico (Bande à Part, 1964) – inédito no Brasil, o ensaio psicológico (Uma Mulher Casada/Une Femme Mariée, 1964), e a ficção-científica (Alphaville, 1965). Por sua vez, O Demônio das Onze Horas (Pierrot, Le Fou, 1965) se estabelece como uma suma antológica de toda a sua obra, o ponto limite de uma série de experiências, num intento de recapitulação que parece anunciar o começo de uma nova etapa. Autor existencialista por excelência, sua obra se caracteriza por uma unidade profunda, ainda que a aparente disparidade de seus elementos.
Seus filmes singulares – pelo menos os da primeira fase – podem ser integrados numa espécie de “macrofilme”, considerando-se a coerência de seus temas, seus personagens e seu estilo – e, como dizia Buffon, o estilo é o homem! Cineasta do instante, seus filmes resultam da justaposição de uma série de ‘momentos de verdade’ privilegiados, obtidos por meio de uma técnica de improvisação que tende a confundir os atores com seus personagens. A linguagem destes deixa de ser meio de comunicação para se converter em elemento expressivo – vide Belmondo em Pierrot, Le Fou a se dirigir aos espectadores quando uma estupefata Anna Karina lhe pergunta com quem está falando enquanto dirige um carro veloz pelo interior da França.
A síntese godardiana se encontra na “collage” dialética a meio caminho entre a montagem de atrações de Eisenstein e a estética da pop art. Suas obras se incluem entre aquelas de estrutura narrativa complexa e de fragmentação, com a união dos elementos mais díspares: rupturas de tom de comédia a tragédia e vice-versa, sempre na busca desesperada da representação de um equilíbrio instável entre o personagem e o mundo circundante.A revolução godardiana determina uma interferência na sintaxe cinematográfica. O realizador de Acossado, após conhecer profundamente o cinema clássico, principalmente o americano do ‘grande segredo’, pôde, então, efetuar uma evolução nesta sintaxe através de modificações nos procedimentos cinematográficos, a exemplo da estruturação fragmentada de seus filmes com a inclusão de material de origem diversa da icônica, como livros abertos, atenção à palavra que está sendo dita ou lida, a montagem sincopada que não obedece a uma continuidade narrativa, etc. Na verdade, Godard expande a linguagem, possibilitando-lhe um maior campo de expressão como é exemplo o ensaio fílmico. A sua influência é devastadora, notadamente nos cineastas adeptos de uma “nova vaga”.
Note-se que A Ilha das Flores, de Jorge Furtado, tem muito do Godard de Duas Ou Três Coisas Que Eu Sei Dela (Deux Ou Trois Choses Que Je Sais D’elle).Poder-se-ia dizer que a trajetória de Jean-Luc Godard se divide em três fases, cabendo, num critério mais rigoroso, até a inclusão de uma quarta fase. A primeira é aquela que começa vibrando com Acossado – que este comentarista considera ainda a sua obra-prima – e termina, mais ou menos, em A Chinesa (1968) ou Week-end à Francesa. Maio de 1968 é um tempo de mudança, de rupturas e o cineasta considera que nada mais tem a dizer com a ficção, pois o cinema, para ele, deve partir para uma “ação armada”. A opção preferencial determina-lhe um engajamento num “cinema coletivo” sem concessões que denomina de “Grupo Dziga Vertov”, cujos filmes devem incitar à revolução do homem, presa das armadilhas do destino e das vicissitudes de uma sociedade injusta. A característica apontada de um cinema de “collage” pode ser ainda melhor observada nos filmes mais recentes do cineasta. Jean-Luc Godard antecipa a pós-modernidade com seus ensaios fílmicos que permitem à linguagem cinematográfica uma força expressiva que vai além do mero suporte para o desenvolvimento fabulístico. Neste particular, o cinema de Jean-Luc Godard é um cinema “avant la lettre”.