A terceira Mostra de Cinema da cidade baiana de Vitória da Conquista termina hoje, sábado, dia 24 de novembro. Convidado para dar um curso sobre História do Cinema Baiano, voltei ontem, sexta, de avião, vôo rápido de 50 minutos, apesar do sufocante atraso promovido pela Ocean Air. Patrocinado por várias empresas, particularmente pela Oi!, a mostra é uma idéia dos programadores do exitoso cineclube Janela Indiscreta, que se abriga no excelente Teatro Glauber Rocha, que, por sua vez, faz parte dos prédios da UESB. Oportunidade única de os conquistenses conhecer as últimas novidades do cinema brasileiro, participar de seminários e tomar cursos e oficinas. Vários realizadores estiveram presentes para comentar seus filmes, a exemplo de Edgar Navarro, por Eu me lembro, Cláudio Assis, pelo polêmico O baixio das bestas, entre outros.
O Dr. Luiz Gonzaga de Luca ministrou um curso importante sobre o cinema digital, que, segundo ele, vai dominar o mercado mundial. O Festival de Cannes, por exemplo, para meu espanto, não trabalha mais com celulóde. A película tem apenas uma sobrevida de cinco anos (se tanto). Diretor de Relações Institucionais do circuito Severiano Ribeiro, e professor da Fundação Getúlio Vargas, De Luca fez parte de uma turma de jovens que revolucionou a distribuição no Brasil nos anos 70 e 80 com a Embrafilme. Nunca o cinema brasileiro pôde emplacar tantos filmes outsiders em salas de primeira linha. Mas a Embrafilme foi cortada e morta com uma canetada de Fernando Collor, em 1990, quando assumiu a presidência. Neste momento, o cinema nacional entrou em profunda crise que veio a ser reanimado, convalescente, quando apareceu Carlotta Joaquina, de Carla Camuratti, carro-chefe do que veio a ser considerado a retomada do cinema brasileiro.
Entre outras oficinas, uma do baiano, realizador consagrado do cinema de animação, Caó Cruz Alves, que, durante a sua oficina, fez um curta de animação com os alunos. Uma outra, que objetivou mostrar e pensar as relações entre cinema e educação teve como regente a professora de Belo Horizonte, da UFMG, Dra Inês Assunção de Castro Teixeira e, ainda, a oficina de roteiro de Hilton Lacerda, que, também realizador, apresentou o seu documentário sobre Cartola. Hilton Lacerda faz parte do cinema pernambucano contemporâneo, que está mostrando um grande sinal de vitalidade, e tem trabalhos assinados com Cláudio Assis, Paulo Caldas, e Lírio Ferreira.
A idealização e coordenação geral é de Esmon Primo. Não dá para citar aqui, como deveriam ser citados, todos os responsáveis pelo êxito da mostra, mas não se pode deixar de registrar a regência da mostra pela cúpula de sua coordenaçao, a saber: Gildelson Felício, Milene Silveira Gusmão, Veruska Anacirema. O cineclube Janela Indiscreta existe há 15 anos, inaugurado que foi em 1992. O nome me parece muito sugestivo, muito bom, admirador que sou de Alfred Hitchcock, um dos grandes mestre da expressão cinematográfica, inventor de fórmulas.
Lembro que fui a Vitória da Conquista pela primeira vez em novembro de 1974 para a inauguração do Cineclube Glauber Rocha, convidado pelo seu promotor cultural, Fernando Martins, com a exibição de Deus e o diabo na terra do sol na tela do cinema Madrigal, que não mais existe. A visão de Conquista há mais de 30 anos atrás determina ao viajante em 2007 a visão de uma outra cidade, tal a sua expansão. E os cinemas de rua, como o Glória, Madrigal, Riviera, entre outros, já se encontram enterrados pela urgência da contemporaneidade, que apaga o passado em função de um híbrido progresso.