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07 junho 2012

Um crime contra a memória de Walter da Silveira


Os administradores da Sala Walter da Silveira cometeram um crime contra a memória do grande ensaísta baiano que dá nome à sala que fica situada nos Barris, com a retirada dos painéis fotográficos que mostravam Walter da Silveira em vários momentos de sua vida ativa e militante em pró do cinema baiano e brasileiro.  Por que, pergunta a minha consciência e a minha razão, retiraram os painéis? Inclusive tendo em vista que a sala tem o nome de Walter da Silveira. O pretexto, segundo soube, foi uma reforma para deixá-la "mais bonitinha". (a foto mostra o exterior já depois da triste reforma). Segundo a fonte que tive, os responsáveis se preocuparam mais com o banheiro feminino, que está uma 'jóia', segundo expressão de um bobo da corte. Na minha opinião, a sala está parecendo entrada de motel de estrada do Alabama (Estados Unidos). Enquanto isso, o espelho do projetor 35mm continua quebrado. O que se gastou na cruel reforma daria para consertá-lo - cruel para a memória, para a preservação da imagem do grande crítico.

06 junho 2012

Cine Ceará: De papeiro na mão

Raul Moreira está no Cine Ceará para registrar as folias do evento para o seu Na Cena. Como sempre a ironia e a visão ácida, irônica e crítica.

Norma Bengell pede socorro

Norma Bengell e Jece Valadão em Os cafajestes (1962), de Ruy Guerra


Norma Bengell, já com 77 anos, está paralítica, cadeirante, e sem dinheiro sequer para comer. Atriz formosa, vedete de Carlos Machado no teatro de revista, era uma mulher que fascinava pela sensualidade, pelo poder de sedução. Além de atriz, cantora, diretora, uma mulher de mil instrumentos. Após a sua fase mágica, finda a mocidade,  batalhou para não ser um objeto do desejo, procurando por em prática suas atividades. Combateu a ditadura nas famosas passeatas da Cinelândia (Rio de Janeiro). Sua imitação de Brigitte Bardot em O homem do sputinik (1959), de Carlos Manga, é antológica. Numa reportagem televisiva domingo passado, ela é entrevistada e conta seu infortúnio. Está completamente paralítica, não aguenta ficar em pé, seu advogado, que dizia fazer o seu imposto de renda, fugiu com tudo que ela tinha e não declarou à Receita Federal durante um período de 10 anos sem que ela soubesse. Está devendo uma fortuna ao Leão. Possui apenas uma casa, mas está ficando cada vez mais vazia, porque vende os móveis e os objetos para poder comer. A pessoa que a ajuda está há 10 meses sem salário. Ela não tem mais um tostão. O que vai abaixo, biografia da atriz, tirei da Wikipédia.
Norma Aparecida Almeida Pinto Guimarães d'Áurea Bengell mais conhecida como Norma Bengell (Rio de Janeiro21 de fevereiro de 1935) é uma atrizcineastaprodutoracantora e compositora brasileira.
Foi a primeira atriz brasileira a apresentar-se em uma cena de nu frontal, no filme Os Cafajestes, de 1962. Ela estreou no cinema em 1959, no filme estrelado por Oscarito O Homem do Sputnik. Chamou a atenção pela sua sensualidade, cantando e parodiando a famosa atriz francesa Brigitte Bardot.
Norma Bengell depois tentaria a carreira de diretora, realizando, nessa função, o filme de 1996 O guarani, baseado na obra do romancista José de Alencar.
Em 2008 assinou contrato com a TV Globo até novembro, efetivando assim sua personagem Deise Coturno até o final da segunda temporada da série Toma Lá, Dá Cá. Antes, ela já havia feito participações esporádicas após a saída temporária do ator Ítalo Rossi, que vive o Seu Ladir.
Como cantora, seu primeiro sucesso foi o 78 rpm com "A lua de mel na lua" e "E se tens coração" (da trilha sonora do filme "Mulheres e milhões", de Jorge Ilely).Cantora
Em 1959, lançou "Ooooooh! Norma", seu primeiro LP, com uma sonoridade bastante próxima da bossa nova, com várias canções deTom Jobim e João Gilberto.
Após anos gravando participações em trilhas sonoras e discos de outros artistas, seu segundo LP "Norma canta mulheres", sai apenas em 1977, com composições de Dona Ivone LaraLuli e LucinaMarlui MirandaDolores DuranChiquinha GonzagaRosinha de ValençaGlória GadelhaSueli CostaRita LeeJoyce e Maysa, além de "Em nome do amor", parceria de Norma com Glória Gadelha.
Foi casada durante 3 anos com o ator italiano Gabrielle Tinti 
Televisão

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Como diretora

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Discografia

Álbuns De Estúdio
  • 195?: "A Lua De Mel Na Lua - E Se Tens Coração" - (Capitol/Odeon 78)
  • 1959: "Ooooooh! Norma" - (Capitol/Odeon LP)
  • 1965: "Meia Noite Em Copacabana" (Elenco LP)
  • 1977: "Norma Canta Mulheres" - (Phonogram LP)
  • 2001: "Groovy - Faixa "Feaver" - (Sony Music CD)

04 junho 2012

A produção de sentidos via montagem

Sergei Mikhail Eisenstein

A chamada montagem ideológica ou intelectual é uma operação com um objetivo mais ou menos descritivo que consiste em aproximar planos a fim de comunicar um ponto de vista, um sentimento ou um conteúdo ideológico ao espectador. Eisenstein escreveu na justificativa de sua montagem de atrações: "uma vez reunidos, dois fragmentos de filme de qualquer tipo combinam-se inevitavelmente em um novo conceito, em uma nova qualidade, que nasce, justamente, de sua justaposição (...) A montagem é a arte de exprimir ou dar significado através da relação de dois planos justapostos, de tal forma que esta justaposição dê origem à ideia ou exprima algo que não exista em nenhum dos dois planos separadamente. O conjunto é superior à soma das partes".

Amparado nestes ditos de Eisenstein, há de se ver que, no cinema, como em quase todos os ramos das ciências, quando se reúne elementos (no sentido amplo) para obter um resultado, este é freqüentemente diferente daquele que se esperava: é o fenômeno dito de emergência. Aprende-se, por exemplo, em biologia, que pai e mãe misturam seu patrimônio hereditário para criar uma terceira personagem não pela soma desses dois patrimônios, mas, ao contrário, pela combinação deles em um novo patrimônio inédito. Em química, sabe-se ser possível misturar dois elementos em quaisquer proporções, mas não é possível combiná-los verdadeiramente em um corpo novo se não tem proporções perfeitamente definidas (Lavoisier). Da mesma forma, na montagem de um filme, os planos só podem ser reunidos numa relação harmoniosa.

A montagem ideológica consiste em dar da realidade uma visão reconstruída intelectualmente. É preciso não somente olhar, mas examinar, não somente ver, mas conceber, não somente tomar conhecimento, mas compreender. A montagem é, então, um novo método, descoberto e cultivado pela sétima arte, para precisar e evidenciar todas as ligações, exteriores ou interiores, que existem na realidade dos acontecimentos diversos.

A montagem pode, assim, criar ou evidenciar relações puramente intelectuais, conceituais, de valor simbólico: relações de tempo, de lugar, de causa, e de conseqüência. Pode fazer um paralelo entre operários fuzilados e animais degolados, como, por exemplo, em A Greve (1924), de Eisenstein. As ligações , sutis, podem não atingir o espectador. Eis, aqui, um exemplo da aproximação simbólica por paralelismo entre uma manifestação operária em São Petersburgo e uma delegação de trabalhadores que vai pedir ao seu patrão a assinatura de uma pauta de reivindicações (exemplo extraído do filme Montanhas de ouro, do soviético Serge Youtkévitch e citado por Gérard Bretton em seu livro Estética do cinema.

- os operários diante do patrão
- os manifestantes diante do oficial de polícia
- o patrão com a caneta na mão
- o oficial ergue a mão para dar ordem de atirar
- uma gota de tinta cai na folha de reivindicações
- o oficial abaixa a mão; salva de tiros; um manifestante tomba.

A experiência de Kulechov demonstra o papel criador da montagem: um primeiro plano de Ivan Mosjukine, voluntariamente inexpressivo, era relacionado a um prato de sopa fumegante, um revólver, um caixão de criança e uma cena erótica. Quando se projetava a seqüência diante de espectadores desprevenidos, o rosto de Mosjukine passava a exprimir a fome, o medo, a tristeza ou o desejo. Outras montagens célebres podem ser assimiladas ao efeito Kulechov: a montagem dos três leões de pedra - o primeiro adormecido, o segundo acordado, o terceiro erguido - que, justapostos, formam apenas um, rugindo e revoltado (em O Encouraçado Potemkin, 1925, de Eisenstein); ou ainda a da estátua do czar Alexandre III que, demolida, reconstitui-se, simbolizando assim a reviravolta da situação política (em Outubro).

O que Kulechov entendia por montagem se assemelha à concepção do pioneiro David Wark Griffith, argumentando que a base da arte do filme está na edição (ou montagem) e que um filme se constrói a partir de tiras individuais de celulóide. Pudovkin, outro teórico da escola soviética dos anos 20, pesquisou sobre o significado da combinação de duas tomadas diferentes dentro de um mesmo contexto narrativo. Por exemplo, em Tol'able David (1921), de Henry King, um vagabundo entra numa casa, vê um gato e, incontinente, atira nele uma pedra. Pudovkin lê esta cena da seguinte forma: vagabundo + gato = sádico. Para Eisenstein, Pudovkin não está lendo - ou compreendendo o significado - de maneira correta, porque, segundo o autor de A Greve a equação não é A + B, mas A x B, ou, melhor, não se trata de A + B = C, porém, a rigor, A x B = Y. Eisenstein considerava que as tomadas devem sempre conflitar, nunca, todavia, unir-se, justapor-se. Assim, para o criador da montagem de atrações, o realizador cinematográfico não deve combinar tomadas ou alterná-las, mas fazer com que as tomadas se choquem: A x B = Y, que é igual a raposa + homem de negócios = astúcia. Em Tol'able David, quando Henry King corta do vagabundo ao gato, tanto o primeiro como o segundo figuram proeminentemente na mesma cena. Em A Greve ( Strike ), quando Eisenstein justapõe o rosto de um homem e a imagem de uma raposa (que não é parte integrante da cena da mesma forma que o gato o é em Tol'able David, porque, para King, o gato é um personagem),esta é uma metáfora.

Em Estamos construindo (Zuyderzee, 1930), de Jori Ivens, várias tomadas mostram a destruição de cereais (trigo incendiado ou jogado no mar) durante o débacle de 1929 da Bolsa de Valores de Nova York, a depressão que marcou o século XX. Enquanto apresenta os planos de destruição de cereais, o realizador alterna -os com o plano singelo de uma criança faminta. Neste caso, o cineasta, fotografando uma realidade, recorta uma determinada significação. Os planos fotografados por Jori Ivens podem ser retirados da realidade circundante, mas é a montagem quem lhes dá um sentido, uma significação. Os cineastas soviéticos, como Serguei Eisenstein e Pudovkin, procuravam maximizar o efeito do choque que a imagem é capaz de produzir a serviço de uma causa.

Considerada a expressão máxima da arte do filme, a montagem, entretanto, vem a ser questionada na sua supremacia como elemento determinante da linguagem cinematográfica com a introdução - em fins dos anos 30 - das objetivas com foco curto que permitiu melhorar as filmagens contínuas - a câmera circulando dentro do plano - com uma potenciação de todos os elementos da cena e com um tal rendimento da profundidade de campo (vide Cidadão Kane (1941), de Orson Welles, Os melhores anos de nossas vidas, 46, de William Wyler) que possibilitou tomadas contínuas a dispensar os excessivos fracionamentos da decupagem clássica. A tecnologia influi bastante na evolução da linguagem fílmica, dando, com o seu avanço, novas configurações que modificam o estatuto da narração - o próprio primeiro plano - o close up - tão exaltado por Bela Balazs como "um mergulho na alma humana" - com o advento das lentes mais aperfeiçoadas já se encontra, esteticamente, com sua expressão mais abrangente e menos restrita. Tem-se, como exemplo, as faces enrugadas e pavorosas de David Bowie em Fome de Viver/The Hunger,1983, de Tony Scott, com Catherine Deneuve e Susan Sarandon.

03 junho 2012

Cineclube Roberto Pires na ABI

Foto da inauguração do cineclube da Associação Baiana de Imprensa (ABI) que tem o nome do grande realizador baiano Roberto Pires, Na ocasião, foi exibido Abrigo nuclear (1980), ficção-científica rodada na Boca do Rio sem recursos mas com inventividade. André Luiz Oliveira (na imagem à esquerda de branco, brinda com Ernesto Marques, Tuna Espinheira e, ao que parece, Guido Araújo. Não fui porque estava doente. Cliquem na imagem para vê-la maior. A foto é de autoria de Vitória Régia Sampaio.

Água de Meninos - A Feira do Cinema Novo


Um filme de Fabíola Aquino.