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18 dezembro 2013
16 dezembro 2013
O Imaginário de Juraci Dórea no Sertão/Veredas
O jornalista e cinéfilo Dimas Oliveira, o cineasta Tuna Espinheira, Juraci Dórea e outro da equipe. |
Terça, dia 17, às 21 horas, numa das salas dos confortáveis cinemas recém-inaugurados do Shopping Barra, a avant-première do mais novo filme de Tuna Espinheira: O Imaginário de Juraci Dórea no Sertão/Veredas. O texto abaixo tem como escrevinhador o próprio Tuna, velho de guerra.
"Era uma vez o sertão que virou museu a céu aberto, ao sol, a
chuva, ao tempo, ao vento... tudo se fez precisamente assim, quando o artista,
Juraci Dórea, teve a ideia do Projeto Terra e
arrumou seu matulão para cair no mundo, fazendo às vezes do pregador
bíblico, João Batista, adentrando as veredas do sertão baiano, descortinando
suas icônicas esculturas, de madeiras vestidas de couro, com uma linguagem
contemporânea, desconhecida naqueles ermos, bradando no deserto. Logo/logo, viriam as exposições itinerantes,
ciganas, de quadros de pintura, de porte razoável de tamanho, com motivos
populares, viriam a alegar as retinas cansadas dos viventes da região. Um
festão em cada lugar por onde passava. E assim foi que, estas semeaduras de
arte, em léguas tiranas , no agreste, através de documentações fotográficas, chegaram
à mídia, escrita, falada, televisada, chamou a atenção, de um público vário,
por todo canto, principalmente, os críticos das artes plásticas, entre eles
Frederico Morais, o que tornou visível aquela épica, emblemática e indômita forma do fazer arte em
dialogo interativo com um mundo invisível. E deu-se que, o trabalho do artista
ganhou botas de sete léguas e asas de albatroz, e, invertendo a normalidade do
processo, saiu do assombroso museu a Deus dará, para os espaços emblemáticos
das Bienais, São Paulo, Veneza, Cuba... e as inúmeras exposições, Brasil afora
e além fronteiras... E o Sertão virou mar...
Nosso projeto de um filme/documentário, assim foi em busca
de contar esta estória cuja gênese é o distante 1982, tempo abissal, sobretudo
para encontrar vestígios das esculturas pioneiras, urdidas como arte efêmera,
sobretudo as esculturas, construídas com madeiras e vestidas com o couro,
expostas ao tempo, sujeita aos predadores naturais ( o couro é precioso e de
grande utilidade naqueles meios), o que justificava a sua morte anunciada.
Juraci Dórea embarcou nesta canoa, foi um dos mais indômitos membros da equipe,
botou a mão na massa, além de personagem desta estória, em imagem em movimento,
agiu, todo o tempo como cúmplice do nosso fazer. Plantamos, de Feira de
Santana, passando por Monte Santo e Canudos, quatro novas e enormes esculturas,
conversamos com muita gente sertaneja... À mercê do calor da hora, fomos
colhendo material... O possível e impossível para contar a saga deste
estranhíssimo Projeto Terra, catando, aqui e açula, o combustível necessário
para que La Nave Vá... E ela foi..
e-mail: tuna.dandrea@gmail.com
15 dezembro 2013
Dupla homenagem: Alexandre e Sílvio Robatto
Pioneiro do cinema baiano, Alexandre Robatto, Filho, começa a fazer filmes, nos anos 30, com uma câmera de 8mm, registrando os ainda incipientes sistema de abastecimento d'água da cidade de Salvador.Antes dele, tem-se notícias de alguns nomes como os de Diomedes Gramacho, José Dias da Costa, mas cujos filmes desapareceram - conta-se que Gramacho, desesperado com um incêndio em seu laboratório, jogou todo o seu trabalho nas águas da Bahia de Todos os Santos. Alexandre Robatto, Filho, desenvolveu melhor o seu pendor cinematográfico, quando partiu para a bitola de 16mm nos anos 40, e se dedicou ao registro documentário (A guerra das boiadas talvez seja o exemplo mais acabado desta fase). Vale ressaltar, que o trabalho cinematográfico feito por Robatto é um trabalho de aventura e heroísmo, considerando que na Bahia não existiam laboratórios que pudessem revelar os filmes, nem mesas de montagem, equipamentos para mixagem, enfim, nada: tudo tinha que ser feito, fora as filmagens, no Rio de Janeiro. É na década de 50 que realizou seus filmes esteticamente mais elaborados, a exemplo de Entre o mar e o tendal (1953), Xaréu e Vadiação (1955).
Robatto registrou acontecimentos e eventos marcantes da velha província da Bahia, a exemplo de Quatro séculos em desfile, quando da comemoração gigantesca dos 400 anos da fundação da cidade em 1949, um desfile monumental que se não tivesse sido filmado pelas lentes do cineasta ficaria apenas na memória de alguns sobreviventes ou nos arquivos empoeirados dos jornais. Chianca di Garcia, já uma celebridade, foi o organizador geral da manifestação cívica. Também no mesmo ano, na ocasião em que os restos mortais de Ruy Barbosa vieram do Rio para serem alojados no então recém-inaugurado Fórum, que dá nome ao ilustre jurista, o desfile que acompanhou o carro está retido nas imagens de A volta de Ruy.
Os refrigerantes Fratelli Vitta produziram O regresso de Marta Rocha, em 1955, quando da volta à Bahia da formosa baiana que não conseguiu o pódio de Miss Universo por causa de "uma polegada a mais", como fala célebre música popular. Robatto, neste documentário precioso, mostra desde a chegada de Marta, num acanhado aeroporto provinciano, a sua passagem em carro aberto pelas ruas do centro histórico, uma festa em sua homenagem no Clube Bahiano de Tênis, e uma visita à fábrica de refrigerantes patrocinadora, que, além destes, fabricava também cristais da melhor qualidade e que eram, inclusive, exportados.
Seu filho, Sílvio Robatto sempre o acompanhou no itinerário da captação das imagens em movimento e é autor de alguns curtas, entre os quais, Igreja.
Dentista por profissão, o cinema era um hobby, que se tornou, com o passar do tempo, em importante referência para a história do cinema baiano. Não seria exagero dizer que Barravento (1959/1962), primeiro filme de Glauber Rocha no longa metragem, tem uma certa influência da estética robattiana.
Entre os dias 17 e 21 de dezembro, realiza-se, no Teatro Vila Velha, a Mostra Alexandre e Sílvio Robatto, com uma exposição de fotos e o lançamento de Sílvio Robatto, um homem feliz, escrito por Symona Gropper, além da exibição de dois filmes de Robatto e o documentário Os filmes que eu não fiz, de Petrus Pires.
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