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17 maio 2008
Os piores filmes já feitos
15 maio 2008
"Ensaio sobre a cegueira"
The constant garden ( O jardineiro fiel) já foi uma prova para Meirelles de sua competência como diretor que pode conduzir um filme de proporções internacionais. Aliás, é bom de ver que Domésticas é um trabalho bem elaborado que passou em brancas nuvens. Claro, não é lá grande coisa, mas um filme a reter, a considerar um cineasta que surge nesta obra. Cidade de Deus bastou, foi o suficiente para deixar Meirelles na nuvens. E daí os convites internacionais. É muito difícil se saber pensar cinematograficamente como Fernando Meirelles pensa. Ensaio sobre a cegueira, que, por enquanto, está invisível para o grande público e boa parte da crítica, é uma obra que se espera com certa ansiedade, a considerar tudo que já se disse aqui sobre o diretor.
Na foto, vê-se Julianne Moore (uma das mais marcantes atrizes do cinema contemporâneo) e Mark Ruffalo. O elenco ainda tem: Danny Glover (o narrador), Alice Braga (a sobrinha de Sonia Braga que lhe está a tomar o trono), Don McKellar (também o roteirista), Gabriel Garcia Bernal, entre outros. Uma epidemia faz com que habitantes de uma grande metrópole fiquem cegos. Apenas uma mulher não é atingida (Moore).
Mas mudando de água para vinho, de cegueira para visão, não posso deixar de parabenizar o Telecine Cult por ter exibido Cleópatra e Blade Runner nos seus formatos originais, isto é, em cinemascope. Será que o canal se deu conta do crime que estava a cometer? De qualquer forma, espero que tenha aprendido com os erros cometidos. Mas, e se continuar a deformar os filmes com o full screen?
14 maio 2008
"Saneamento básico" é filme encantador
Françoise Dorleac e Catherine Deneuve
Françoise Dorleac (irmã de Catherine que veio a falecer pouco depois das filmagens) e La Deneuve em Duas garotas românticas (Les demoiselles de Rochefort, 1967), filmusical de Jacques Demy (1931/1990), obra de grande encantamento, de engenho e arte, de originalidade, de beleza indiscutível, mas que, misteriosamente, continua ignorada pelas distribuidoras de filmes em DVD. Agnès Varda, esposa do diretor, fez uma restauração primorosa, nos anos 90, e é considerada patrimônio cultural pelo Ministério da Cultura da França.
11 maio 2008
Introdução ao cinema (5)
Nem sempre, no entanto, os movimentos de câmera são bem escondidos, ou, se se quiser, efetuados "nos bicos dos pés", pois há casos em que os movimentos, por evidentes, explícitos, eliminam o interesse pelo próprio desenrolar da narrativa. Em O Passageiro, Profissão Repórter (Professione Reporte, 1975), de Michelangelo Antonioni, quando o protagonista - que, sabe-se, tem a intenção de morrer - se estende sobre o leito do quarto do hotel onde está hospedado, aguardando o momento fatal, a câmera afasta-se gradualmente dele, dirigindo-se num lentíssimo travelling para o exterior do local, onde, de resto, não acontece nada de particular. Somente quando a câmera volta a trazer o espectador por uma via diferente para o interior do quarto, é que é dado se ver o corpo do homem sobre o leito já sem vida, morto. Neste caso, a morte do protagonista (interpretado por Jack Nicholson), em vez de ser mostrada de maneira direta, é sugerida pelo lento movimento que exprime, precisamente, o afastamento definitivo do homem em relação à vida.
A tensão criada por este efeito é, de longe, superior à que poderia produzir, por exemplo, a visão do homem moribundo em primeiro plano. Nos filmes dos grandes autores, como Michelangelo Antonioni - ver em Das Obras-Primas do Cinema uma análise de A Noite, Alfred Hitchcock, etc, a narrativa tem prepoderância sobre a fábula e, nestes casos, "é a câmera quem fala".
Por outro lado, a câmera pode optar por espiar as personagens desde o primeiro plano, seguindo-as silenciosa nas suas deslocações espaciais ao longo de toda a duração dos acontecimentos. Em Acossado, na seqüência que precede a traição final, a protagonista deambula no quarto onde acabou de dormir com o jovem procurado (ela, Jean Seberg, ele, Jean-Paul Belmondo) pela polícia e interroga-se em voz alta sobre a decisão a tomar. A câmera segue-lhe o vaivém até que ela abandona o local sob o pretexto de ir comprar leite. O comportamento ambivalente desta mulher tem sua significação pela oscilação da câmera.
Como se vê, quando a câmera se movimenta nunca o faz de uma maneira indiferente. As suas deslocações nas várias direções possíveis não correspondem a uma simples exigência de clareza ilustrativa, pois para a conseguir o travelling e a grua não são imprescindíveis. Estes correspondem exclusivamente ao nível da escrita fílmica, pois intervêm sobre o como e não sobre o objeto da representação. É certo que certos cineastas fazem um uso indiscriminado dos movimentos de câmera, principalmente do travelling, em função de alcançar efeitos espetaculares. Mesmo nestes casos, no entanto, nada impede que os movimentos de câmera se remetam para algo que se situa para além do conteúdo de determinado plano. Pense-se nos numerosos westerns em que a elevada mobilidade da câmera tem por único objetivo recriar por dentro o envolvimento homem-ambiente tão importante para a definição estilística do gênero correspondente. A função designativa assume papel de primordial importância. No entanto, quem poderá negar que a diferença que separa o modo como Anthony Mann faz mover a câmera daquele que é utilizado por John Ford é a mesma que separa duas visões diferentes do mundo?
O travelling, já disse Jean-Luc Godard, é uma questão de moral. O que evidencia, no cineasta de Acossado, que este movimento de câmera é revelador da personalidade de um cineasta, mostrando um ponto de vista específico. Bela Balazs, teórico húngaro do cinema, tem razão quando escreve que na telas do cinema, como no domínio da pintura, o fator determinante é a síntese entre a realidade objetiva e a personalidade subjetiva do artista. Esta personalidade se manifesta pelo enquadramento e pela escolha de um dado plano. Cada ângulo de tomada implica uma posição afetiva ou intelectual. É, pois, impossível, uma objetividade absoluta no filme. Tudo é ressonância pessoal que se é levado a compartilhar. A câmera pode, portanto, deslocar-se para trás e para adiante não tanto à procura de coisas interessantes para contar, mas à procura de um modo interessante de se as contar. O que é mais que uma diferença. E pode fazê-la conduzir por outrem (o travelling) ou sozinha (o zoom). Além disso, pode erguer-se em direção do céu e descer rente ao chão, consoante decida observar o mundo de cima ou de baixo. E a sua mobilidade não se esgota aqui. Pode a câmera também olhar em volta, isto é, efetuar movimentos panorâmicos através de rotações sobre o próprio eixo.