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08 fevereiro 2008

O pau que dá em Chico também dá em Francisco

Tuna Espinheira, velho de guerra, que acabou de finalizar (com Dolby) o seu primeiro longa, Cascalho, foi acusado por Walter Webb de aprontar em Andaraí, bela cidade do interior baiano onde rodou o seu filme. A mensagem de Webb, com seu costumeiro estilo machadiano, está em postagem abaixo. Já não queria mais ficar a martelar o caso Seqüestro/Revoada, mas creio que o apoio que recebeu é importante, e as acusações webberianas não podem ficar sem a devida resposta. O depoimento a favor do Velho é de Luiz Antonio Gerace (Chacra), presidente do Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual – STIC. Antes, porém, a mensagem de Tuna e, logo abaixo, o texto de Chacra.

Velho Andre: Mandei o depoimento do atual Presidente do Sindicato Interestadual dos Trabalhadores na Indústria Cinematográfica e do Audiovisual – STIC.
Ele foi o Diretor de Produção do filme CASCALHO. Como eu sou cioso das palavras quando escrevo, do mesmo jeito sou cioso da minha conduta ética e profissional, quando faço um filme. Acabei de receber este texto que, julgo eu, sem medo de errar, está acima de qualquer suspeita, de autoria de um profissional respeitado e Presidente de um grande Sindicato de trabalhadores do Cinema e do Áudio Visual do Rio de Janeiro.
Gostaria que você o incluísse no seu Blog, uma vez que é um atestado que não acirra a baixaria arquitetada pelo, não vou dizer o nome, outro. Vale lembrar que, nos bons e respeitáveis, contatos com a comunidade de Andaraí, fomos agraciados com uma inesquecível, indelével homenagem: “CASCALHO”, a mais nova e aconchegante, Pousada da cidade, foi batizada assim por causa do filme. Fico Aqui.
ABS. Tuna
De Luiz Antonio Gerace:
Prezado Tuna,
Independente da minha condição transitória, de ser o atual presidente do STIC. Antes de mais nada sou, e me orgulho muito de ser, um diretor de produção cinematográfico, formatado através dos tempos, dentro de um modelo brasileiro de fazer cinema. Neste sentido, gostaria de deixar patente, que não foram tantas ocasiões assim, como no caso da produção do ¨CASCALHO¨, em que pude exercer minha função em toda a sua plenitude. Respaldado que fui por uma equipe liderada por você, em que predominou, todo o tempo um clima ético-profissional, que fez com que não só eu, mas tambem os demais companheiros e companheiras da equipe, tivessemos a certeza de ter sido partícipes do resultado filmico, que esta produção pode oferecer hoje, não só para seus apoiadores, como tambem para nossas platéias.
Com um forte abraço,
Luiz Antonio Gerace (Chacra)
Presidente do STIC

07 fevereiro 2008

Pausa para olhar a beleza de Ingrid Bergman



Cary Grant e Ingrid Bergman em Interlúdio (Notorius, 1946), um dos mais brilhantes filmes de Alfred Hitchcock. Infelizmente a cópia em DVD distribuída pela Continental deixa muito a desejar. Acontece que Notorius foi recusado, a princípio, por um grande estúdio, e sua equipe encontrou guarida apenas na R.K.O. Assim, ficou desprotegido para o lançamento em DVD, e a Continental ou comprou seus direitos ou é capaz de o filme ter caído em domínio público. Pena porque a grande maioria dos filmes do mestre está lançada no disquinho em excelentes cópias, principalmente os filmes coloridos de Hitch, em Vistavision, a exemplo de Intriga internacional e Os pássaros, entre outros. Em Notorius presente a quintessência hitchcockiana. O mestre furou o conceito de obra-prima (que é a melhor de determinado artista) por ter realizado várias. Fica até difícil dizer: qual a obra-prima de Alfred Hitchcock?

Enquanto isso, nas telas brasileiras, o impacto de Onde os fracos não têm vez (No country for old men), dos irmãos Coen, obra especialíssima, e difícil de encontrar algo parecido no anêmico cinema da chamada contemporaneidade. Joel e Ethan Coen privilegiam, antes de tudo, em sua maneira de construir espetáculos, o cinema enquanto elo sintático. Para ver urgente, pois, não tenho dúvida, um dos maiores lançamentos de 2008. E encontrar filme bom, na atualidade, é como encontrar agulha no palheiro: muito difícil. Há interpretações inexcedíveis. Em primeiro lugar, destacaria Tommy Lee Jones (seria impossível encontrar outro ator tão bom para o personagem), Javier Bardem e Josh Brolin, todos a atuar segundo a batuta dos irmãos.

A pesquisa "quem é o maior de todos" já se encerrou. Venceu, com 60 por cento dos votos (17), Glauber Rocha. Em segundo lugar, Rogério Sganzerla com 21 por cento (6 votantes), e, em terceiro, Nelson Pereira dos Santos, com apenas 10 por cento e 3 votos. Roberto Farias, 7 por cento, 2 votos. Mário Peixoto, o realizador célebre de Limite, ficou sem votos. Votei em Glauber porque autor de duas obras-primas absolutas do cinema brasileiro: Deus e o diabo na terra do sol e Terra em transe. Nelson tem grandes filmes (Vidas secas), mas uma filmografia irregular. Rogério realizou o extraordinário O bandido da luz vermelha, que está na minha relação dos cinco maiores brasileiros de todos os tempos.

Encerrei o affair Revoada, a salvar, apenas, algum fato novo significativo que venha a acontecer. E a esperar que o realizador, o autor do filme, José Umberto, consiga reaver o seu domínio sobre o corte final.

06 fevereiro 2008

Sociedade de Estudos do Cangaço solidariza-se com Zé



Ia dar um ponto final. Mas acabei de receber esta mensagem que acho importante.A Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço -SBEC, com sede em Mossoró-RN, e sócios espalhados por este Brasil, solidariza-se com seu sócio, José Umberto Dias (Zé Umberto de Salvador), defendendo a liberdade de expressão como fundamento da solidariedade democrática e divulgando para os demais sócios este artigo do André Setaro e para a imprensa. Informa, também que a Cinemateca Brasileira, em breve, vai passar para DVD "A Musa do Cangaço" , de Zé Umberto, documentário sobre e com DADÁ de Corisco, junto ao filme de longametragem "Corisco & Dadá", de RosembergCariry, que teve nos papéis principais: Chico Diaz e Dira Paes.

Kydelmir Dantas.
Presidente da SBEC.

O artigo a que se refere Kydelmir está aqui: http://www.nacoco.com.br/boulevard/sequestroinsolito.shtml

Na foto, o cangaceiro Umberto e outro cangaceiro dublê de montador: Severino Dadá

Tuna dá o troco

Não poderia, diante do que foi dito sobre o Velho Tuna, na postagem abaixo, deixar de lhe dar a palavra. Feito isso, o imbroglio termina por aqui.


Olha aí, pessoal!
O Walter Webb tentou, usando as mentiras insidiosas, única coisa que sabe fazer, atirar contra mim, como não sabe escrever e o raciocínio é rasteiro, acertando o próprio pé, porque atinge o Emilio Tapioca, ao qual ele se refere como testemunha contra mim, uma vez que o citado fez parte da produção de CASCALHO. Retornei mais de três vezes a Andaraí e sempre fui bem recebido, andei por lá de cabeça erguida e pretendo voltar sempre. Ele chama de direito de resposta as suas mal traçadas linhas e não responde nada. Eu não o acusei de nada, embora ele esteja respondendo processo pó malversação com o dinheiro da produção de REVOADA e seqüestro do filme. Eu apenas disse e repito: “Walter Webb vai morrer afogado no próprio vomito”. Referia-me as suas acusações, sem provas, ao Zé Umberto, eivadas de baixaria. Ele diz que não sou do tempo dele. É verdade, quanta felicidade por não tê-lo conhecido! Qualquer que seja o tempo que ele andou por aqui, deixou apenas um rastro de histórias de picaretagens. Foi isto que sempre ouvi. Qual foi o trabalho que ele fez? Basta ler tudo que foi escrito sobre o cinema baiano para se constatar que ele não pertence a esta história, seu nome é noves fora zero. Ilustre desconhecido,vá procurar o seu bloco, vá se “assuntar.”
Tuna Espinheira
Nota: André, caso você publique o arroto deste abominável Webb, peço para incluir este meu texto.
Tuna
Outra de Tuna:
"Velho André Setaro, leio o “direito de resposta” do “expert” em baixaria, Walter Webb. De resposta não tem nada, o que eu havia afirmado, e, vou aqui repetir: “Walter Webb vai morrer afogado no seu próprio vomito”. Referia-me às suas mal-traçadas linhas de vários escritos com acusações torpes, sem provas, procurando denegrir, num “show” de baixaria, a figura do diretor de REVOADA, José Umberto. Não lhe fiz qualquer acusação, embora estivesse a par de um processo que corre na Justiça, onde ele é acusado de malversação do dinheiro público da produção do filme acima referido e autor do seqüestro desta mesma fita. Não há como polemizar, sempre acreditei no valor da polemica com nível e inteligência, não travadas com figuras rasteiras e mentirosas. Tenho a maior satisfação de dizer que nunca conheci este macabro personagem. Em tudo que já se escreveu sobre o cinema baiano, seu nome não consta, em razão de nunca ter feito nada que merecesse registro é, simplesmente, um noves-fora zero. Recuso-me a baixar o nível. Fiquei surpreso quando disseram-me que ele é octogenário. Pior pra ele que não vai ter tempo para consertar o seu torto currículo. Enfim, a um ilustre desconhecido que não faz outra coisa, além de cuspir contra o vento, só podemos recomendar que vá procurar o seu bloco, vá se “assuntar”, ou, para não perder o humor, mude-se pra Porta da Colombo, onde “Velho é um Asssombro, Sassaricando, Sassaricando”.
Não mais responderei a este abominável homem dos noves-fora.
ABS. Tuna Espinheira"

Walter Webb, ofendido, responde. E agora chega!

Walter Webb está a atirar para todos os lados. Quer o direito de resposta. Já queria colocar uma pá de cal neste imbroglio, mas, caso não surja um fato novo, importante, e esclarecedor, não publico mais nada sobre o "seqüestro". O cineasta se sentiu ofendido com as palavras do Velho Tuna, que considero homem probo, realizador sério, nada afeito a baixarias. A diatribe webbiana vai aqui como veio, isto é, em estilo machadiano:
"Resposta a um certo senhor de nome Tuna...Ouvi falar este nome, em um certo momento em Andaraí, quando necessitavamos de uma locação - casa da Baronesa - . A dona da casa nos expulsou e contou para todos, inlcusive o vice-prefeito que estava presente, que a equipe de CASCALHO, filme proudizido pelo sr. Espinheira tinha surrupiado quadros de valor inestimável onde não pagavam as despezas com o aluguel da locação. Depois soubemos do ROMBO em toda a cidade, pois nosso crédito estava fechado devido a este filme, que é muito ruim, segundo o elenco do filme que dormiu durante toda a projeçao em DVD cedido pelo ministro Tapioca, gurú do local....Soubemos tambem dos pifões que a equipe tomava todas as noites num botequim local,bar do kaká, e que ficou com divida enorme, sobre o caso do ator pricipal sair de carrinho de mão em estado catatônico...Este senhor quer nos ensinar a fazer produção, e mancomunado com outro incompetente o diretor de REVOADA, ilhado na Bahia sem nenhum crédito no cinema brasileiro, vem ditar lição de moral...Quem é este senhor? Nunca ouivi falar dele, e felizmente não foi da meu contamporâneo, pois se o fosse não vomitaria insanidades..Se ele quer defender o diretor de REVOADA que o faça sem agredir ninguém, nem pessoas que eles não conhece. Antes de falar mal, devolva objetos tomados emprestados em Andaraí e não ressarcidos e fique na dele tomando seus banhos de mar e usandoo tão apregoado dinheiro do governo para banacais pseudos-intelectuais na Chapada, deixando todos, literalmente "chapados"...Ora meu senhor, fique na sua, não preciso de voce e talvez REVOADA que é um filme ruim, seja melhor do que o PORCASCALHO SEMI-PROUDUZIDO...LEMBRE-SE SENHOR Espinheira, vá espinhar a paciencia alheia e não se meta onde voce não tem nada com o fato, fique com seu filmezinho, mas antes devolva as ARMAS do Hermínio e da população da cidade de Andaraí e adjecências, que estão esperando até hoje a devolução. Aí entaõ o senhor terá moral para falar mal de alguém que não conhece, mas a equipe que trabalhou no REVOADA o conhecia muito bem, e foi esta equipe que falava misérias deste filme, se é que assim podemos chamar..Eu aqui na minha desvairada Pauliceia, tomando meu Pernod, não posso ficar inerte a acusações tão estapafúdias como esta..O troco está dado, e me desminta se for capaz...Walter WEBB.( Cineasta, 26 longas-produzios no Brasil e no Exterior, co-autor do poema de Drumond "no memio do caminho há uma pedra" Eu, ser, Espinheira serei a próxima em sua sandalia de pé rapado...."

05 fevereiro 2008

"Que que eu tenho com isso?"

Severino Dadá é um dos mais competentes montadores do cinema brasileiro. Seu nome foi citado aqui, nos últimos dias, porque o responsável pela montagem de Revoada, de José Umberto. Para encerrar, pelo menos aqui no blog, salvo fato novo importante de última hora, a vítima do suposto seqüestro me comunica que tem, registrado em cartório, um Contrato de Co-Produção com a Rex Schindler Filmes e Serviços Ltda. onde é o responsável pela parte artística do filme (onde entra montagem/edição, etc.). Enviou-me o contrato, mas como se encontra em arquivo word não sei como colocá-lo aqui. Sim, pelo que li, José Umberto é o responsável pelo corte final do filme.
Mas Severino Dadá é já uma figura bastante conhecida de todo o cinema brasileiro. Em Tenda dos milagres (1975), de Nelson Pereira dos Santos, com a estrutura do filme-dentro-do-filme, Dadá aparece como ele mesmo, que é o montador do próprio filme. Entre os muitos filmes que montou, Corisco & Dadá, de Rosemberg Cariry, Nem tudo é verdade, de Rogério Sganzerla, um filme de Jorge Sanjinés (a dividir a moviola com Geraldine Chaplin), etc.
Apenas aqui constato fatos. Segundo reportagem, ontem, segunda, de A Tarde, Rex Schindler confessa que vai montar mesmo o filme de Umberto, a desrespeitar, com isso, cláusula contratual. Mas o que é que se pode fazer? Umberto entrou na Justiça Federal. É cangaceiro e bom de briga.

04 fevereiro 2008

Profumo di Dino Risi

Nos auspiciosos anos 60, reinavam, no cinema italiano, as comédias em episódios, que faziam a delícia dos cinéfilos. Havia, nesta cinematografia, os monstros sagrados (Fellini, Visconti, Antonioni...) e diretores do segundo time que, algumas vezes, podiam ser considerados geniais, a exemplo de Damiano Damiani, Valerio Zurlini, Mauro Bolognini, Pasquale Festa Campanille, Mario Monicelli, Pietro Germi (seu Divórcio à italiana é uma obra-prima e assinala o melhor desempenho de Marcello Mastroianni), entre outros que, assim a citar de memória, poderia incidir em severas omissões. O fato é que o cinema italiano, o grande cinema italiano, não mais exsite, e os cineastas que ainda pontuam não podem ser comparados aos que pontificaram na sua idade de ouro.

Mas estou a me lembrar de Dino Risi, excelente comediográfo. Em DVD, já há algum tempo, saiu Aquele que sabe viver (Il sorpasso, 1962), com Vittorio Gassman, Jean-Louis Trintgnant, e Catherine Spaak. No ano seguinte, 1963, realizou uma comédia em episódios de rara inspiração: Os monstros (I mostri, 1963), com um cast exultante: Vittorio Gassman, Ugo Tognazzi, Lando Buzzanca, Michele Mercier (a Angélica da famosa série), etc. Os dois primeiros, Gassman e Tognazzi, no entanto, dominam tudo e a todas na interpretação de vários tipos hilários e diferentes. Pelo humor, e um humor que provoca o riso instantâneo, Risi analizava a sociedade italiana da época, principalmente sob o ponto de vista do absurdo das situações.

Outro filme de Risi que marcou época, o episódio de As bonecas (I bambole, 1965) intitulado La telefonata. Grande sucesso de bilheteria, um filme em sketchs dirigidos também por Mauro Bolognini, entre outros magníficos. Mas estou a colher de memória os filmes de Dino Risi, não a haver, aqui, nenhum outro propósito que a lembrança de um cineasta que ofereceu muita alegria e prazer aos amantes do bom cinema. Mas se consultar a sua filmografia, imensa, a verificação de que muitos títulos, principalmente os derradeiros, já não tiveram mais acolhida no mercado exibidor brasileiro. Se não há engano de memória, a maioria de seus filmes foi distribuída pela Condor, aquela do pássaro que, ao levantar vôo, era acompanhado de chiados da platéia.

Há uma comédia, magistral, que me deixou de ressaca alguns dias: Nós as mulheres somos assim (Noi donne, siamo fatte cosi, 1971), com Enrico Maria Selerno e Monica Vitti (atriz emblemática dos anos 60 e 70 que se dividiu entra a angústia antoniônica e a comédia sentimental ou o filme paródico com vida inteligente (Modesty Blaise, de Joseph Losey). Que delicadez no estabelecimento das situações, no tom, a musicalidade da mise-en-scène, etc. Dez anos atrás, porém, Dino Risi faria um filme que não permitia o tom cômico, a perscrutar a tragédia da existência, a complicação dos relacionamentos, a dor da pobreza: Uma vida difícil (Une vita difficile, 1961), com interpretações notáveis de Alberto Sordi e Lea Massari.

Falar de Risi é falar de muitos filmes importantes, agradáveis, por vezes geniais. É falar de Os complexos (I complessi, 1965, episódio Una giornata decisiva, e o grande cartaz, aqui, é Nino Manfredi). A constatação que vem à tona, quando aqui estou a lembrar Risi, é que o cinema italiano era muito rico e acabou, a julgar pelo lixo que resta e um ou dois mais proeminentes. E se for mencionar o grande Mario Monicelli?

Se Al Pacino é um ator excepcional e trabalhou bem a sua personagem de Perfume de mulher, o original, no entanto, pertence a Dino Risi e a Vittorio Gassman em Profumo di donna, em 1974, obra muito superior à americana. Em Telefones brancos (Telefoni bianchi, 1976), sempre com Gassman (ator de sua preferência e que participou de muitos filmes da filmografia de Dino Risi), o grande cineasta realiza uma obra que procura reproduzir o cinema italiano da época do fascismo, um cinema que era chamado o cinema dos telefones brancos.

O prazer de ter visto Férias à italiana (L'ombrellone, 1966), com Enrico Maria Salerno e Sandra Milo (sim, a felliniana Milo de Oito e meio e tantos outros) extravassa o tempo e permanece com a gente até onde houver memória e sensibilidade.
Vittorio Gassman é uma presença marcante na extensa filmografia de Dino Risi. E como existiam excelentes diretores no cinema italiano dos anos 60! A constatação chega a constranger o cinéfilo contemporâneo, que se encontra pulverizado por um novo tipo de cinefilia. De repente, no meio do cipoal de comédias brilhantes, pode-se se encontrar um Risi político, à maneira de seu colega Damiano Damiani (e alguém ainda se lembra de Florestano Vancini, Antonio Pietrangeli?) em Um crime chamado justiça (In nome del popolo italiano, 1972), com Gassman, evidentemente, e Ugo Toganazzi. Em Splendor, de Ettore Scola, Risi é citado em um bom texto de Il sorpasso. Mas deve ficar bem claro que Dino Risi não se resume apenas a este.
Dino Risi nasceu em 1916. Creio que ainda está vivo. Há uma boa entrevista com ele nos extras do DVD de Aquele que sabe viver (Il sorpasso). Se vivo, está velho: 92 anos. Não são todos que possuem o pique de Manoel de Oliveira. Deve estar aposentado. O primeiro filme que vi de Risi, mas me lembro muito pouca coisa, foi Pobres e milionários (Paveri milionari, 1959), com Renato Salvatori, que, no ano seguinte, brilharia em Rocco e seus irmãos, de Luchino Visconti.

Mas preciso parar de falar de Dino Risi.

A imagem é do cartaz de Telefones brancos, um filme que precisa ser urgentemente resgatado.

03 fevereiro 2008

Rapto ou seqüestro?

Marcos Jacob, em desacordo com o que escrevi sobre o imbroglio de Revoada, solicita-me a publicação de sua mensagem que acabo de receber. Que seja feita a sua vontade:
"Conforme publicações em seu blog, a palavra da vez é SEQÜESTRO quando você se refere ao filme REVOADA, do qual também participei. Pois bem, estou vendo que você vem tomando uma posição "unilateral" por já ter trabalhado com o "Visionário diretor" José Umberto. Penso que, como jornalista e tendo um currículo de respeito, deveria evitar frases como esta: "a morte realmente comanda o cangaço no polêmico filme baiano vítima de seqüestro." (retirada do blog).
Vamos recorrer à etimologia para entendermos o que o Diretor de Revoada quis dizer com "SEQÜESTRO":
Seqüestro vem do latim SEQUESTER: Depositário (de objeto em litígio), Mediador, intermediário.Esses sinônimos acima qualificam os Produtores da maneira correta, na qual eles se encontram neste momento, ou seja, são MEDIADORES e deixaram o filme para o diretor montar "AD LIBITUM". Houve problemas por razões subjetivas do diretor. A produtora Rex Schindler e Walter Webb, que vêm sendo tachados de "dupla diabólica", receberam os méritos de confiança do Diretor José Umberto e cumpriram o combinado: PRODUZIRAM O FILME.Ou será que ele quis se referir ao significado atual da palavra, em epígrafe, que seria RAPTO?, que também vem do latim: RAPTO, cuja raiz é RAPIO e significa: arrebatar, tomar violentamente ou à força, arrastar, raptar, roubar, pilhar, o que NÃO ACONTECEU.
Caso seja o segundo significado o diretor deveria tomar outras medidas, você não acha? Gostaria que seu blog, que está bonito em cultura cinematográfica, mantivesse a posição democrática, em um país plutocrata, e cultivasse mais a posição de MEDIADOR. Não quero com isto, criticar o Diretor José Umberto, quero sim dizer que houve exageros. E por falar em democracia, por favor, divulgue em seu blog, IPSE LITTERIS, OK? "
Por: Marcos Jacob (letras/pós(ndo) em filologia/etimologia da Universidade de São Paulo(USP).

Direito de resposta

Escrevi, há poucos dias, um artigo para a revista eletrônica baiana Nacocó(http://www.nacoco.com.br/boulevard/sequestroinsolito.shtml) sobre o seqüestro de Revoada, de José Umberto, como se encontra bem noticiado neste blog. Walter Webb, produtor associado do filme, considera-se atingido como o seqüestrador e me pede direito de resposta. Disse na matéria que o autor, cineasta José Umberto, é que está a acusá-lo como tal, juntamente a Rex Schindler. As palavras saem, por assim dizer, da boca de José Umberto. O fato é que se se sente incomodado, o seu direito de resposta, afinal de contas, desagrade a quem desagradar, é um direito. Abrindo cuidadosamente as aspas, o texto como veio a mim:
"Acusado de ser SEQUESTRADOR de um filme produzido na Bahia, tenho que me conformar com a adesividade dos conceitos emitidos na terrinha que nasci mas que vivo ás leguas, em um Paraíso mais disciplinado, sem as torpes acusações sen fundamento e de uma pulsilinimidade sem precedentes...Chegaram mesmo a voltar 40 anos - onde a maioria dos detratores nem nascido eram - a por Luis Paulino,Glauber e Rex, relebrando o affair BARRAVENTO, onde quem dava as ordens, escolhleu elenco e era Produtor-Executivo era Glauber de Andrade Rocha. Sua atitude foi legal, pois o diretor contratad não cumpria o cronograma de filmagem e iss irritou tambem o Diretor de Fotogfrafia., o magnifico Toni Rabatoni...Daí para a tomada de atitude da Produção foi acertadissima..Precisamos acabar com esta estória de que o Produtor não manda no filme. Na epoca de Barravento não existia Leis de incentivo, e foi Rex Schindler que botou o dinheiro dele na obra...Hoje não existe mais a figura do produtor no Brasil. Quem produz é o Governo.O Ministerio da Cultura que cultua a corrpção, pois amaioria dos diretores no Brasil estão ricos, pois orçam um filme em 4 milho~es - por exemplo - e gasta 2. Embolsa o restante, mas apresenta Notas Fiscais comprovando os gastos de soma pretendida...Existe diretories no eixo Rio S.Paulo, que fazem 4 filmes por ano, e não querem que o filme seja exibido. Pra que? Ficou aquem da espectativas, pois o dinheiro gasto foi a metade do que deveria ser.... REVOADA, recebeu um milhão, que na verdade eu trabalhei com c450 mil reais para realizar um filme de longa-metragem com 75 poessoas na equipe, 16 locaço~es das mais dificeis em materia de locomoção, Vários carros desistiram no meio da filmagem por estarem se decompondo com as estradas terriveis da Regiao..Realizamos o filme em 4 semanas, estava previstas 8 - e seguramos o Diretor com a verdade. Primeiro dia de filmagens reunimos toda a equipe e comentamos que se o filme não terminasse em 4 semanas , ele não chegaria até o final, ppois não haveria como banca-lo...Tivemops enorme sucesso com a planificação. O filme que o Diretor queria foi feito, todas as sequencias - até mesmo coisas superfulas, no nosso entendimento - foram produzidas e com toda condição para o Diretor...Desde o dia 8 de abril do ano passado que as filmagens terminaram, logo o Diretor viajou para o Rio de Janeiro a fim de começar o processo de pos-produção com montagem e edição feito pelo grande profissional Severio Dáda, que terminou brigando com o Diretor que não admitia edição no ponto de vista tecnico. Dadá colava a fita quando ouvia a voz "ação" e cortava paraproxima emenda quando ouvia a voz "corta"...Me ligou, e me comunicou do que estava acontecendo. Á esta altura eu já estava em outra produção e apenas recebi uma copia do REVOADA com 2 horas e 23 minutos. Era uma coisa terrivel..Brincadeira de amador em VHS...Neste tempo, o DIRETOR, pegou todo o material em DVCAMM e alguma coisa em Mini-DV e viajou para Salvador com este material, deixando o Dadá a ver navios...Minhja unica participação nesta fase de pós produção, foi tentar um acordo com o laboratorio MEGA para, oparticipar como Produtor-Associado, pois o orçamento de finalização cpomo estava querendo o Diretor chega a mais de 346 mil reais. Cade o dinheiroi. Não existe. Nuinca existiu. Este filme teria que ter um orçamemnto de no minio 2 milhoes e meio de cReais. Fazer com l milhão - que não chega em nossas maõs isso, e só o Diretor no dia que foi creditado na conta do Rex Schindler, levou l20 mil reais, com os impostos e l0% da produtora Captador - A REx Schindler Filmes - o dinheiro entregue para a Prod.Executiva foi aquilo acima especificado. 450 mil reais..Nem um curta se faz com isso. Historia de Futebol.,do Machiline custou l milhao e meio e foi rodado nun campo dec futebol, e não em 16 locações...Outra atidude que tomei visando ajudar o filme, foi mostra-lo a dois ícones do cinema brasileiro...Galileu Garcia, Diretor Assistente de O Cangaceiro, e diretor de CARA DE FOGO, o filme considerado referencial do cinema paulista, e tambem, Maximo Barro, um dos malhores montadores , Membro do Conselho Nacional da Cinema, e Prof,. Emérito da Cadeira de Cinema, na FAAP. Todos eles ficaram horrorizados com o filme, que Maximo sugeriu se eu permitisse, com a copiam em DVD que lhes mostrei, ele faria uma precia de como deveria ser o filme,. A ideia era depois enviar a Diretor para ver se ele aprovaria ou não. Se não, ficaria mesmo a versão de mais de 2 horas, e o Laboratorio não entraria numa coisa assim...De lá pra cá´não sei nem quero saber de Revar mais estes insanos que me acusam de Sequestrador, sendo que eles é que fizeram cinema MARGINAL, e não um profissonal que tem se dedicado desde l958 ao cinema de longa-metram, documentirios e comerciais, que voces aí chamam de Reclame..Não vamos citar aqui momentos dee verdadeira chavasca onde atitudes nsanas,. foram apreciadas por uma equipe enorme, mas no intuito de não ser acusado de baixo nivel, abdicamos desta ideia....Revoada está nas maõs do Diretor. Ou ele muda 45 minutos da pelicula ou o filme não passará nem na sala Walrter da Silveira, que não se conformará em ter seu nome aviltado com uma projeção deste nivel...Mas aqueles que me criticam, vejam o filme. Querem a versão inicial, peça ao Diretor para lhesw mostrar. Veua se é possivel alguem fazer um filme assim, sem continuidade, recitado - opera buffa - e mise-en-scene das mais caóticas quando não imitando descaradamente Deus e o Diabo na Terea do Sol.....Walter WEBB....."

O desespero de Veronika Voss



Nos anos 70, principalmente, e 80, viu-se, no Instituto Goethe, quase todos os filmes do chamado Cinema Novo Alemão, oportunidade em que se pode conhecer as filmografias completas de Werner Herzog, Alexander Kluge, Rainer Werner Fassbinder, Win Wenders, Johannes Schaaf, entre muitos outros. A cinematografia germânica ressuriu na década de 60, a acompanhar os surtos inovadores de outros países, a exemplo de Free Cinema inglês, da Nouvelle Vague francesa, do Cinema Novo brasileiro, entre outros. Após o apogeu do expressionismo alemão, com o advento nazista, o cinema alemão, salvo pouquíssimos exemplares, desapareceu do cenário internacional, a permanecer com filmes, finda a Segunda Guerra Mundial, ingênuos, sentimentos, cujo maior exemplo é a trologia de Sissi, com Romy Schneider, e obras do gênero de A família Trapp. O desespero de Veronika Voss, de Fassbinder, é um exemplo da força expressiva de um cinema novo e ousado.
Urso de Ouro de melhor filme no Festival de Berlim, obra crepuscular de Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), O Desespero de Veronika Voss é o seu penúltimo filme (o derradeiro: Querelle, baseado em texto de Jean Genet) antes de morrer aos 36 anos vitimado por uma overdose de álcool e cocaína. O DVD, distribuído pela Versátil, conserva o formato original da tela de cinema (1.66:1) e apresenta uma cópia luminosa, perfeita, capaz de dar ao filme toda a sua expressividade, principalmente porque a sua plástica da imagem é fundamental, pois se insere no próprio tecido dramático. O que assombra em O desespero de Veronika Voss é a iluminação expressionista de Xaver Schwarzenberger, que trabalha o preto e branco com extrema funcionalidade, a permitir que a produção de sentidos do filme se faça muito pela sua plástica ao invés de se restringir (como a maioria das obras cinematográficas) ao conteúdo da fábula. Neste particular, a luz (muitas vezes estourada) é o elemento que sufoca o espectador, inserindo-o num mundo desordenado e caótico. O branco assume uma dimensão asfixiante, como nas seqüências no interior da clínica. Não se pode ter uma compreensão de O desespero de Veronika Voss sem a percepção da expressão fotográfica.
Estilizadíssimo, com uma evocativa reconstituição da década de 50 na Alemanha, o filme, como em quase todos os de Fassbinder, é influenciado pelo melodrama de Douglas Sirk. Com o cineasta de Veronika Voss, o gênero assume uma potencialização e, pelo excesso de sua construção tonal, beira ao paradoxo. Esta obra-prima faz parte dos filmes que o autor rodou sobre o seu país do pós-guerra.
Narra o drama existencial de uma atriz decadente (vivida por Rosel Zech, que tem, aqui, um desempenho antológico, e, no DVD, quase uma hora de extra com seu depoimento tomado exclusivamente para o lançamento neste formato), que, antiga estrela da UFA (Universum Films AG) durante o nazismo, vicia-se em morfina. Vem a conhecer um jornalista esportivo que, fascinado por ela, tenta ajudá-la. A visão de Fassbbinder do mundo e das pessoas é cruel: não existe lugar para o afeto, pois todos querem exercer o domínio pelo outro, e as instituições da sociedade são podres e contaminadas por natureza. O filme parece ser a premonição do desespero do realizador, que viria a morrer também de angústia existencial pela tragicidade da vida. O Desespero de Veronika Voss também poderia ter um sub-título: O Desespero de Rainer Werner Fassinder.

Há uma seqüência que define bem a estética fassbinderiana: aquela num bar quando Veronika convida Robert para um encontro e, na mesa, plenamente iluminada como numa luz pentecostal, ela fala do cinema diante dele. O cinema é luz, e Fassbinder, neste filme, esculpe as cenas com a luz. Há, em O Desespero de Veronika Voss, a influência não somente de Sirk (Palavras ao Vento; Tudo que o Céu Permite; Imitação da vida) como a de Max Ophuls e, principalmente, a de Josef Von Stenberg, para quem o cinema era essencialmente composição plástica. Realizador consagrado (O Anjo Azul, O Expresso de Shangai), Sternberg foi o responsável pelo lançamento de Marlene Dietrich, que, dele, disse um dia: “Sternberg fazia brotar a beleza de um jogo de luzes e sombras”.
Filme sobre uma atriz em decadência, mas, também, sobre a Alemanha dos anos 50, e, principalmente, uma obra que reflete a luz criadora que potencializa a estesia da arte do filme, O Desespero de Veronika Voss faz lembrar, também, Crepúsculo dos Deuses (o célebre Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder, com William Holden e uma interpretação inexcedível de Gloria Swanson. Rosel Zech, a Veronika de Fassbinder, não lhe fica atrás.