Por falta de apoio, pela primeira vez em 8 anos o Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (que mudou de nome para Cine Futuro) deixou de ser realizado neste ano de 2013. Embora não querendo fazer comparações com outros eventos meritórios que se realizam em Salvador, o fato é que o Cine Futuro se destacou como o maior evento cinematográfico que a Bahia já realizou. A ausência do seminário pode ser considerada mais um sintoma da miséria cultural que assola a velha província. Reunindo centenas de pessoas (basta ver a imagem acima do Teatro Castro Alves totalmente lotado em seus mais de 1.500 lugares), com convidados da maior importância do ponto de vista do pensamento cinematográfico do exterior, o Cine Futuro naufragou na inépcia daqueles que, patrocinadores da cultura, não souberam dimensionar a sua importância e a sua relevância para a cidade atualmente tão desprovida de eventos culturais significantes. O que diz, por exemplo, a Secretaria Estadual de Cultura sobre a não realização do Cine Futuro? Há recursos, no entanto, para o patrocínio de festivais pelo Brasil afora (do ponto de vista dos patrocinadores federais), e, hoje, vê-se eventos em qualquer cafundó de Judas no grotões desse Brasil que está ficando cada vez menos varonil.
O idealizador e organizador do Cine Futuro, José Walter Pinto Lima, agente cultural, que, com sua gestão à frente do Departamento de Cinema (DIMAS) da Fundação Cultural do Estado da Bahia, programando a sala da Biblioteca Central nos anos 80, conseguiu dar, com a exibição de obras importantes da história do cinema, continuidade ao trabalho de Walter da Silveira ao proporcionar aos baianos a visão de filmes de alta qualidade. Apesar de não gostar de aparecer, o empenho de Walter Lima, à frente da promoção do bom cinema, é inegável, principalmente quando, em 2005, deu início ao Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, que, a princípio na Reitoria da Ufba, logo, no ano seguinte, passou a ser realizado no Teatro Castro Alves.
Nenhum outro evento realizado na Bahia conseguiu, em toda a sua história, diga-se de passagem, trazer do exterior nomes importantes como Costa Gavras, Alain Bergala (o maior especialista em Godard, Professor da Universidade Paris III, ex-redator da revista Cahiers du Cinema), Celine Scemama (Mestre em Estética da Universidade Paris I), Lucrecia Martel (realizadora premiado de O pântano, um dos filmes argentinos mais insólitos dos últimos tempos), Michel Marie (ensaísta francês com diversos livros publicados), Antoine de BaeCque (autor da excelente biografia de François Truffaut e de extensas exegeses sobre a obra de Tarkovski), Charles Tesson (Professor de Estética da Universidade de Paris III), Robert Stam, Miguel Littin (o famoso realizador chileno responsável por Dawson - que foi produzido por Walter Lima - e que deu uma excelente oficina num dos seminários), Arlindo Machado, João Carlos Teixeira Gomes (Joca), Gilberto Vasconcellos, entre muitos outros.
Segundo José Walter Pinto Lima, "o Festival Cine Futuro tem como base conceitual a
apresentação de uma visão ampla sobre o fazer e o pensar da área
cinematográfica; promovendo a convivência com realizadores, pensadores,
críticos e técnicos; apresentando mostras de grandes cineastas e das recentes
produções inéditas no país; estimulando a criação, premiando o melhor filme
nacional e baiano de curta metragem, além de promover cursos e oficinas de
formação profissional"
Vejam bem: fazer e pensar o cinema. Nos dias que correm, com o boom digital, faz-se muitos filmes sem, contudo, pensá-los. E um filme sem uma estruturação anterior às filmagens tem muitas chances de dar errado. A maioria dos filmes digitais que é apresentado nos eventos cinematográficos faz concorrência para a lixeira dos tempos. O que faz pensar, atualmente, é demodée, ultrapassado, já era, como uma jovem que ria o tempo todo na projeção de Um corpo que cai (Vertigo), de Hitchcock, em cópia luminosa e restaurada promovida pela Panorama que ora acontece na capital baiana.