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14 dezembro 2013
Lançamento de livros no Centro dos Correios
Os escritores Samarone Lima, Wellington de Melo, Plácido Villanova e Bernardo Almeida lançam seus livros, dia 18 de dezembro, quarta, no Centro Cultural Correios. A conferir.
11 dezembro 2013
"O Nono Mandamento", de Richard Quine
Há melodramas e melodramas. Muitos beiram ao dramalhão, ao apelo excessivo aos sentimentos, outros são refinados, sofisticados, chegam a nos causar estesia, como podem servir de exemplos os melodramas de Vincente Minnelli, Douglas Sirk, entre outros. Richard Quine, príncipe da sofisticação e da elegância, é um realizador notável, quer nas comédias, quer nos melodramas - Sortilégio do amor, Como matar sua esposa, Aconteceu num apartamento, Quando Paris alucina... Em O nono mandamento (Strangers when we meet, 1960), vídeo que está aqui na página, um arquiteto casado (Kirk Douglas) apaixona-se pela vizinha também do mesmo estado civil. Além dos dois principais, Barbara Rush e Walter Matthau, Ernie Kovacs. Partitura de excelência de George Dunning.
10 dezembro 2013
"Nasce uma estrela" reinventa o CinemaScope
A Warner lançou, já há alguma tempo (e parece que está esgotado), no
mercado um DVD duplo contendo a versão restaurada de Nasce uma Estrela (A Star is Born, 1955), de George Cukor, com
interpretações inexcedíveis de Judy Garland e James Mason. Quando do lançamento
do filme nos anos 50, a
Warner, por achar excessivo um musical com três horas de duração, cortou 27
minutos, desfigurando, com isso, esta obra-prima. Há pouco mais de dez anos, um
abnegado pesquisador do American Film
Institut pediu ajuda à Academia de Artes e Ciências de Hollywood a fim de que
esta solicitasse à Warner uma permissão para que o pesquisador desse uma busca
nos depósitos da companhia. Atendido ao pedido, este começou a procurar e
acabou por encontrar os 27 minutos cortados. Estragados, precisou restaurá-los,
ficando três minutos apenas em fotos fixas pela impossibilidade de revivê-los
no celulóide. Esse DVD duplo, portanto. é uma preciosidade, pois o resgate de
um filme extraordinário, que assinala a maior interpretação de Judy Garland no
cinema. Ela, na época, estava profundamente depressiva - sempre dependendo de
álcool e barbitúricos e, para conseguir trabalhar no filme, fez um esforço
enorme para se livrar das drogas. Tem um desempenho maravilhoso como Vicky
Lester, a cantora que, descoberta por Norman Mailer (James Mason, soberbo),
ator famoso de Hollywwod, e que se apaixona por ela, ascende ao estrelato
enquanto Mailer, derrotado pelo alcoolismo, vê a sua decadência. Enquanto ela
sobe, ele cai. É a segunda versão - e a melhor - dessa história - a primeira,
dos anos 30, foi feita por William Wellman, com qualidades inegáveis já que
este diretor era um especialista, mas a terceira, de Frank Pierson, com Barbra
Streisand, de 1975, é um lixo.
O cinemascope, que a
Fox introduzira em 1953 em
O Manto Sagrado (The Robe), mas que já havia sido
inventado pelo francês Henri Chrétien há algumas décadas, não tinha ainda sido
utilizado com um propósito estético e linguístico determinado até que Cukor
fizesse Nasce uma Estrela. O cineasta
revolucionou o cinemascope e mostrou uma utilização extraordinária de sua
amplitude retangular em função do tecido dramatúrgico. O que pode ser
verificado no número no qual Garland conta a sua trajetória - um dos maiores e
melhores da história do cinema, que dura 18 minutos e foi, na versão anterior,
cortado pela Warner, mas que na cópia do DVD está completamente restaurado. É
preciso, porém, que a versão do DVD contemple toda a extensão da tela anamórfica,
ou, então, seja formatado. Tudo em
A Star is Born é uma promoção do encantamento,
da beleza, apesar do tom trágico do final. É um filme sobre a mise-en-scène e, também, sobre o drama
do alcoolismo, que se estende, aqui, para o drama da própria condição humana.
Por pensar em Nasce uma estrela, há filmes que podem ser vistos em DVD sem perder, por assim dizer, a sua 'aura'. E outros que, no disquinho, são maltratados, perdem a sua integridade, havendo interferência no espaço da totalidade de seus enquadramentos. A experiência de se estar numa sala escura, e de ver um filme na tela grande, é fundamental. Quando se assiste ao DVD, há, no processo de comunicação entre a emissão e a recepção, 'ruídos indesejáveis - a pequenez da tela, pessoas que passam, o telefone que toca, um familiar que pergunta, que fala etc. No 'texto' imagético propriamente dito, há os problemas da diminuição e da preparação psicológica daquele que vê o vídeo. Numa sala escura, o espectador prepara-se para ela. É verdade que existem os aficionados mais atentos - como este comentarista - que, por respeito à obra cinematográfica e porque acha que toda atenção é pouca, não assistem ao vídeo em sala de estar familiar, reservando-se para a calada da noite, quando todos estão nos braços de Morfeu. E podem ficar, sozinhos, a fruir o espetáculo. Mas como se ia dizendo, há filmes que satisfazem em vídeo e outros que são destruídos. Exemplos: filmes realizados em planos fechados e que se passam em interiores podem ser vistosem vídeo. Já obras que
exploram grandes espaços, têm muitos planos gerais e de conjunto são
prejudicadas na fita magnética. E existe o problema do filme originariamente
filmado em
cinemascope. Como sentir 2001, Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick, na pequenez do
aparelho doméstico? É simplesmente impossível. Neste caso, tem-se, apenas, uma
idéia do filme.
Por pensar em Nasce uma estrela, há filmes que podem ser vistos em DVD sem perder, por assim dizer, a sua 'aura'. E outros que, no disquinho, são maltratados, perdem a sua integridade, havendo interferência no espaço da totalidade de seus enquadramentos. A experiência de se estar numa sala escura, e de ver um filme na tela grande, é fundamental. Quando se assiste ao DVD, há, no processo de comunicação entre a emissão e a recepção, 'ruídos indesejáveis - a pequenez da tela, pessoas que passam, o telefone que toca, um familiar que pergunta, que fala etc. No 'texto' imagético propriamente dito, há os problemas da diminuição e da preparação psicológica daquele que vê o vídeo. Numa sala escura, o espectador prepara-se para ela. É verdade que existem os aficionados mais atentos - como este comentarista - que, por respeito à obra cinematográfica e porque acha que toda atenção é pouca, não assistem ao vídeo em sala de estar familiar, reservando-se para a calada da noite, quando todos estão nos braços de Morfeu. E podem ficar, sozinhos, a fruir o espetáculo. Mas como se ia dizendo, há filmes que satisfazem em vídeo e outros que são destruídos. Exemplos: filmes realizados em planos fechados e que se passam em interiores podem ser vistos
Se não fosse pelo
aparelho de DVD, o cinema do pretérito somente poderia ser visto em cinematecas. E como
aqui na Bahia não existem estas, o baiano ficaria a ver navios. Se, por um
lado, a visão de um filme em digital não se pode comparar à sua contemplação na
sala escura de um cinema, por outro, o cinéfilo tem a oportunidade de ver
em DVD - em alguns casos - quase toda a
obra de um realizador importante, de estudá-la, de repetir as cenas, as
seqüências, etc. Há, no mercado, quase três dezenas de fitas de Alfred
Hitchcock. A nova geração, sem o advento do vídeo, estaria condenada a
desconhecer grandes e imprescindíveis clássicos do cinema. Além do DVD, uma
perspectiva se abre com as televisões a cabo e por assinatura que possuem
canais especializados em filmes bons e importantes, funcionando como
verdadeiras cinematecas. Já passou o tempo em que se faziam sacrifícios
memoráveis para se ver um filme por acaso perdido no circuito.
08 dezembro 2013
De John Frankenheimer: estilo e espetáculo
Diretor americano que ainda não recebeu a necessária
valorização, a ser confundido (1930/2002), muitas vezes, como um realizador
mediano e comercial, John Frankenheimer é um cineasta possuidor de um invejável
sentido de composição plástica, dominando formalmente o veículo, com um ritmo, timing, surpreendente. Na engrenagem da
indústria cinematográfica, todavia, vê-se obrigado a aceitar encomendas ditas
comerciais, o que faz oscilar a sua filmografia entre grandes e menores
momentos, nunca, entretanto, mesmo nos filmes mais fracos, sem deixar de apor a
sua marca de realizador eficiente e impactual - é verdade que, no fim da vida,
comete alguns pecados imperdoáveis, excetuando-se Ronin, como Amazônia em chamas, entre outros.
Assim, Frankenheimer, quando um roteiro bom lhe é entregue, desenvolve-o com
maestria na exposição de suas imagens em movimento. É um cineasta, portanto,
que precisa ser melhor investigado para se poder conhecer as suas constantes
temáticas e estilísticas. E isso, por ignorância de uma crítica somente capaz
de enxergar os autores consagrados, ainda não aconteceu, excetuando-se alguns
exegetas franceses que, diga-se de passagem, souberam captar a sua grandeza. No
Brasil, porém, este diretor precisa, e urgentemente, ser redescoberto.
Este desconhecimento de Frankenheimer é bem revelador de uma crítica modista incapaz de investigar os filmes, se estes não chegam já firmados e devidamente cultuados, pois Frankenheimer não é um cineasta modista, não incursiona por termas “pós-modernos” e nem se preocupa com os assuntos que fazem a festa da patuléia (ou de uma certa patuléia) contemplativa. Seus filmes, sobre ser obras de construção dramática de uma funcionalidade extrema, podem ser considerados reflexões sobre a violência do homem contemporâneo. Que se veja aqui, portanto, a sua trajetória.
Este cineasta audacioso e impactuante - talvez, pelo domingo,
esteja a exagerar um pouco, que dota a sua mise-en-scène de um fascínio crepuscular, nasce em Nova Iorque em 1930,
estuda na Academia Militar de La
Salle e faz parte da geração oriunda da tv nos anos 50, tendo
sido assistente de Sidney Lumet (Doze homens e uma sentença). Começa a dirigir em 1956,
com 26 anos de idade, emv No labirinto do
vício (The Young Stranger), com James MacArthur e Kim Hunter.
Passa, então, vários anos sem realizar um longa, o que só acontece em 1961 em Juventude selvagem (The Young savages),
com Burt Lancaster e Dina Merril. É o mesmo Lancaster que faz, em 62, o
papel-título de O Homem de
Alcatraz (Birdman of Alcatraz), um
filme não sobre a prisão, mas, importante, sobre a idéia da prisão; obra
humanista e de fôlego. Nesse mesmo ano, considerado pelos produtores pela sua
demonstração de talento, faz outro filme: O anjo violento
(All fall down), com Eve Marie Saint e Warren Beatty. Findo este,
ainda em 62, realiza um de seus melhores trabalhos, uma audaciosa previsão dos
assassinatos Kennedy em Sob o domínio do
mal (The mandchurian candidate), que provoca polêmica por causa de
seu tom premonitório. Dinâmico, vigoroso, um thriller surpreendente, com Frank Sinatra,
Janet Leigh e Laurence Harvey. Em 1963 descansa e não dirige nada para voltar,
em 64, com outra análise dos bastidores do poder estadunidense: Sete dias de maio (7 days in may), com,
novamente, Burt Lancaster e Kirk Douglas (um par de atores admirável) Substitui
Arthur Penn e chega ao final de O trem (The train)
e seu ator preferido, Burt Lancaster, ao lado de Jeanne Moreau (então uma musa
do cinema europeu), encabeça o elenco.
Talvez a obra-prima de John Frankenheimer seja este filme realizado em 1966: O segundo rosto (Seconds), com um Rock Hudson irreconhecível como um intérprete seguro e eficiente. Estranho,Seconds mergulha no problema da crise do homem e do tempo, com um personagem que realizando uma operação plástica, muda de rosto, “deixando” a velhice para aparentar um quarentão. Obra de impacto quando de seu lançamento e que merece muitos elogios, mas filme completamente esquecido e que serve de demonstração do faro de Frankenheimer.
Ano rico, o de 1966, para Frankenheimer, pois neste período
realiza Grand Prix, um filme fascinante sobre corrida de
automóveis (quem pode esquecer o plano de detalhe dos olhos de Eve Marie Saint
na grandiosidade dos 70mm?). Este filme foi exibido no cine Tupy logo após sua
reforma em 1968 quando passou a projetar a bitola de 70mm.
Três anos de inatividade. O projeto de Grand Prix se torna demasiado puxado. Fica fora do ar por um tempo para, em 1969, construir uma comédia non sense bastante inventiva: O extraordinário marinheiro (The extraordinary seaman), com David Niven e Faye Dunaway. Logo em seguida um filme político e de denúncia: O homem de Kiev (The fixer), com Alan Bates e Dirk Bogarde. Ainda em 69, uma gozação e um trunfo como comediógrafo: Os pára-quedistas estão chegando (The gipsy moths), trazendo de volta Burt Lancaster ao lado de Deborah Kerr (uma atriz maravilhosa, aliás, que fez com Lancaster a famosa cena da praia de A um passo da eternidade, pois a mulher contemporânea, aputalhada, não tem mais a classe, a finesse, de uma Deborah Kerr, embora isto seja outra história).
A década de 70 se inicia com um Frankenheimer menor - mas que menor é este se é ainda muito bom?: O pecado de um xerife (I walk the line), com um Gregory Peck maduro e apaixonado pela quase ninfeta Tuesday Weld. Nesse mesmo ano, um épico menor: Os cavalheiros de Buskashi (The horsemen), com Omar Shariff e Leigh Taylon Young. Um inédito no circuito comercial, mas que aparece exibido na TV. História de uma história de amor (Impossible object, 72), com Alan Bates e Dominique Sanda, que são dois atores estupendos e ao que se pode perceber algo muito interessante para ver, embora se ficou proibido de ver pelas injunções do mercado exibidor. Em 1973, outro inédito: The iceman cometh, com Lee Marvin e Fredric March. Até o ultimo disparo (99 and 44%dead), exibido no antigo Bristol, é divertido e simpático, com produção datada de 74.
Frankenheimer aceita dirigir a sequência de Operação França e surge The french connetion II (75) mas, ao invés de um filme de ação
(como fizera William Friendkin no primeiro), Frankenheimer mistura esta com
devaneios à la Antonioni ,
principalmente no enfoque da angústia de Gene Hackman, o detetive Popeye. Domingo Negro (Black sunday), 77, filme que segue a crise
existencial de Popeye, trata do terrorismo internacional e é de um impacto
absoluto.
Reconheço que já no ocaso de sua vida, John Frankenheimer, sem o
apoio de um sistema de estúdio eficiente, perde, também, força de metteur-en-scène, embora o esforço, a
perspectiva de um novo filme que viesse a superar o outro, a tenacidade, e a
coragem. Mas outros tempos. O melhor de Frankenheimer está, realmente, na
década de 60, e não seria exagero dizer que O segundo rosto é uma obra-prima.
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