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03 abril 2006

Os personagens marcantes da História do Cinema


Quando acabei de postar a mensagem sobre Lawrence da Arábia, eis que encontro, na Tribuna da Imprensa de hoje, dia 3 de abril, uma matéria que coloca Peter O'Toole como o mestre de todos os atores. Vale a transcrição, e abrindo logo aspas:
Revista americana divulga ranking com os 100 melhores papéis do cinema
SÃO PAULO - A revista norte-americana "Premiere - The movie magazine" fez um ranking com as melhores performances na história do cinema e conta como atores e diretores tornaram possíveis essas memoráveis atuações. O primeiro lugar ficou com aquele que é considerado o mestre de todos os atores: Peter O´Toole como T.E. Lawrence, em "Lawrence da Arábia" (1962). Segundo a "Premiere", o filme foi o terceiro de Peter O´Toole, que só pegou o papel porque Marlon Brando e Albert Finney o recusaram.
O segundo lugar ficou com Marlon Brando. O ator fez o papel do ingênuo Terry Malloy, usado por um sindicato para matar um delator, em "Sindicato de ladrões" (1954), o clássico dirigido por Elia Kazan. Cada nuance de Malloy, personagem "brincalhão, corajoso, confuso e enfurecido", pode ser vista na lendária cena do táxi, quando leva um tiro do irmão, Charley.
A primeira mulher a aparecer na lista é Meryl Streep, por "A escolha de Sofia" (1982), filme de Alan J. Pakula, em que interpreta "uma profunda e frágil" Sophie Zawistowska, que conta a um jovem escritor sua experiência nos campos de concentração nazista e seu difícil relacionamento com o marido.
Em quarto lugar vem Al Pacino como Sonny Wortzik, em "Um dia de cão" (1975), de Sidney Lumet. A história gira em torno de Sonny, que planeja assaltar um banco para conseguir dinheiro para seu namorado.
A quinta posição coube à Bette Davis como Margo Channing, em "A malvada" (1950), de Joseph L. Mankiewicz. O filme conta a história de Eve Harrington, mostrando sua trajetória até se tornar uma grande personalidade. Como a estrela da Broadway, Bette Davis mostra suas habilidades por interpretar uma personagem amarga.
Entre outros bem colocados na pesquisa, estão Dustin Hoffman como Ratso Rizzo, em "Perdidos na noite" (1969); James Stewart como George Bailey, em "A felicidade não se compra" (1946); Robert De Niro como Jake La Motta, em "Touro indomável" (1980); Katharine Hepburn como Eleanor of Aquitaine, em "O leão no inverno" (1968); Emily Watson como Bess McNeill, em "Ondas do destino" (1996) e Humphrey Bogart como Fred C. Dobbs, em "O tesouro de Sierra Madre" (1948).

De "Lawrence" e dos abusos atuais



Revendo Lawrence da Arábe no disquinho, de David Lean, em lançamento para colecionador, senti a força dessa grande obra. Na época, início dos anos 60, somente se pensava em Godard e na `desconstrução´ do espetáculo, e Lawrence da Arábia, por ser narrativo, não foi ressaltado como devia pela crítica especializada. Num dos extras do DVD, há uma entrevista com Steven Spielberg na qual ele conta o impacto que sofreu quando, adolescente, viu pela primeira vez o filme de David Lean. Décadas mais tarde, quando soube que o negativo estava se deteriorando na Columbia, decidiu investir milhões de dólares para salvá-lo. O DVD apresenta a cópia restaurada no seu cinemascope original e uma versão mais longa do que a imaginada por David Lean.

Nos documentários dos extras, sentimos como as filmagens foram difíceis, pois uma boa parte filmada em pleno deserto escaldante da Jordânia. Quando vemos aqueles milhares de beduínos correndo em disparada pelo deserto, não há nenhum truque. Assim como as batalhas, tudo foi rodado in loco, e, por isso, os negativos derretiam sob o imenso calor - solucionado com uma capa inviolável, e os atores tiveram que aprender a montar camelos
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Nada se compara aos efeitos especiais de hoje, que reduzem muito o poder de verdade do que se está a ver. O próprio Spielberg disse mesmo que seria impossível, atualmente, fazer Lawrence da Arábia com a alta tecnologia que o cinema dispõe. Por incrível que pareça, não teria o mesmo impacto.

Christopher Lee, ator do proscênio britânico, e que já trabalhou muito em cinema, principalmente em filmes de terror da produtora inglesa Hammer (O vampiro da noite/Horror of Dracula, 1958, de Terence Fischer, é um clássico), convidado por George Lucas para um recente episódio de Guerra nas Estrelas, ficou furioso quando foi colocado no set para dialogar com uma luz azul. Lee reclamou, afirmando que somente poderia trabalhar com alguém, com uma pessoa de carne e osso. Mas Lucas insistiu e disse que depois, no computador, criaria um personagem naquela luz azu
l.
Creio que os efeitos especiais têm sido usados com certo abuso, prejudicando o espetáculo cinematográfico. Mas é a novidade que anima os produtores. O tempo, porém, juiz implacável, vai deixar na lixeira o que é supérfluo, e fazer com que os realizadores usem os efeitos de maneira parcimoniosa. Não se agüenta mais, esta a verdade, o abuso de tanta tecnológica posta a serviço de espetáculos amorfos, que não possuem aquele poder de verdade que tinha, por exemplo, Lawrence da Arábia. Mas aqui, também, havia um David Lean, um roteiro enxuto, de Robert Bolt, grandes construções de personagens, como a ambigüidade de Lawrence, interpretação inexcedível de Peter O´Toole.

Mas falando ontem sobre o documentário incluso na edição especial do DVD de Bullit, vale ressaltar que detesto a estética da tesourinha vigente na atualidade. Mas isso, como dizia Moustache, personagem de Irma La Douce, de Billy Wilder, é outra história.

02 abril 2006

A montagem como força motriz


Bullit (1968), de Peter Yates, com Steve McQueen, é um filme no qual a construção do tempo cinematográfico adquire um sentido maior. Apesar de um thriller, de um espetáculo de ação, Yates conduz Bullit mais pelo uso do silêncio, dos olhares de McQueen. A seqüência da perseguição de automóveis pelas ruas enladeiradas de São Francisco é de fazer perder o fôlego. É antológica e ponto de partida de outras corridas de carros. Creio, inclusive, que William Friedkin viu várias vezes Bullit para realizar o seu bem sucedido Operação França (The french connection, 1971). Mas o que gostaria de chamar a atenção, aqui, nesta postagem, é para a grande aula de cinema que é o documentário que faz parte dos extras da edição especial do DVD de Bullit. O filme, com quase duas horas, mostra desde os primórdios da montagem até os dias atuais, com a revolução da montagem digital. Há depoimentos de vários montadores importantes, cujas falas são ilustradas com exemplos de filmes. Documentário obrigatório para ser exibido em qualquer curso de cinema que se queira prezar. Mostra, por exemplo, que, na época do cinema mudo, a montagem era feita por mulheres e considerada um trabalho de corte e costura. Com o advento do falado, ainda se passaram alguns anos até que o profissional da montagem foi adquirindo, aos poucos, um certo status. Havia uma mulher, cujo nome me esqueço, que era uma ditadora na Metro, que supervisionava e mandava no corte de quase todos os filmes. Evidentemente que não me refiro à escola soviética, que tinha um Eisenstein, Pudovkhin, etc, que desde os anos 20 pensaram a montagem como a força motriz dos filmes. Mas os expressionistas alemães não ligavam muito para os recursos da montagem, concentrando-se na cenografia, na iluminação, e na expressão dos atores. É o que André Bazin chama de plástica da imagem. Enquanto esta era o ponto de referência do expressionismo, os recursos da montagem se tornaram a base dos artistas soviéticos. Na edição especial referida de Bullit, há, ainda, o filme comentado por Yates, cena por cena, e um belo panorama da trajetória de Steve McQueen, cuja morte prematura, aos 50 anos, deixou uma grande lacuna no cinema americano.