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23 julho 2010

"A Espiã", de Paul Verhoeven

Esta bela ragazza que se vê aí em cima é Carice van Houten, a espiã do filme do mesmo nome do holandês Paul Verhoeven em sua volta para a terra natal (Holanda) depois de uma temporada extensa em Hollywood onde realizou Instinto selvagem (Basic Instinct), Robocop, O vingador do futuro (Total Recall), entre outros. Com exceção de Basic Instinct, um dos melhores filmes dos anos 90, as mais expressivas manifestações de Verhoeven continuam a ser seus trabalhos iniciais na Holanda, onde se firmou como cineasta respeitado e conseguiu transitar em Hollywood. Desiludido com a indústria cultural dos EUA, voltou para o seu torrão e realizou este esplêndido A espiã (Black Book/ Zwartboek, 2006).
Já nos estertores da Segunda Guerra Mundial, Rachel Stein (Carice van Houten), uma bela mulher de origem judaica vive a se esconder para não ser presa. Quando o local em que está é destruído por um bombardeio, ela e um grupo de judeus decidem atravessar Biesbosch para chegar ao sul da Holanda, que já está livre da ocupação nazista. Entretanto o barco deles é interceptado por uma patrulha alemã, que mata todos a bordo com exceção de Rachel. A partir de então ela se une à resistência, adotando o nome de Ellis de Vries. Notando o interesse de um oficial alemão (Sebastina Koch), ela se aproxima dele e consegue um trabalho. Enquanto isso a resistência elabora um plano para libertar um grupo de prisioneiros, onde a participação de Ellis será imprescindível.
Verhoven filma Zwartboek com uma tensão inusitada e sentido de ritmo, mostrando que sabe onde colocar a câmera e estabelecer uma mise-en-scène de impacto. Encontra-se em DVD nas melhores locadoras.

O tempo não perdoa a beleza



Tirante Brigitte Bardot, minha musa, meu mito sexual, e algumas (Catherine Spaak, Stefania Sandrelli...), Carroll Baker sempre me fascinou desde que a vi em Boneca de carne (Baby Doll), de Elia Kazan. Interpretou Jean Harlow, trabalhou em muitos filmes, sempre com uma sensualidade à flor da pele, como a dizer: "Possua-me!" Confesso aqui neste blog que atendi a seu chamado e a possuí pelo poder da imaginação. Mas é triste se constatar o tempo que passa. A boneca de carne se transformou numa velha enrugada, como se pode ver nos exemplos das imagens postadas. Não, não possuiria a Carroll Baker dos tempos atuais.

21 julho 2010

Meus melhores do cinema brasileiro

Quando nos perguntam quais os nossos filmes preferidos, ficamos acossados entre os afetivos e os que se impõem pela importância história, o que dificulta a realização de uma lista dos melhores de todos os tempos. Também há o problema da limitação. Por que não colocarmos logo os vinte, os trinta, os cem? Mas há uma espécie de apego, nestas listas, à dezena. Fiquemos, portanto, assim limitados, embora existam filmes que gostaríamos de também incluí-los, como A margem (1967), de Ozualdo Candeias, De vento em popa e O homem do sputnick (1959), de Carlos Manga, A grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962), ambos de Roberto Pires – nestes dois, afetividade grande, O cangaceiro, de Lima Barreto, O padre e a moça, de Joaquim Pedro de Andrade, Os cafajestes, de Ruy Guerra, Assalto ao trem pagador e Selva trágica, ambos de Roberto Farias, Um ramo para Luiza, de J. B. Tanko, O quinto poder, de Alberto Pieralisi, entre outros. Interessante observar que, desta relação, oito filmes foram realizados nos anos 60, um nos 50 e outro nos 70. Por que esta preferência pela década de 60? Acreditamos que a década mais criativa do cinema brasileiro. Em todo caso, cada um tem sua lista e, afinal de contas, gosto não se discute. Quanto a Limite, de Mário Peixoto, pensei em colocá-lo em primeiro lugar, mas sua importância é tanta que fica a latere, hors concurs com o títuto de filme Doutor Honoris Causa.
1) DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL (1964), de Glauber Rocha, com Geraldo D’El Rey, Othon Bastos, Maurício do Valle, Yoná Magalhães e Sonia dos Humildes. Filme-ópera que rompe com os cânones narrativos do cinema brasileiro para instaurar uma estética dilacerante onde estão em simbiose a tragédia sertaneja, plena de ecos gregos, e a expressão lancinante de brasilidade, onde, num toque original e impactuante, a influência de vários cineastas (Ford, Kurosawa, Buñuel, e principalmente Eisenstein - a matança dos beatos é nitidamente influenciada pela seqüência da Escadaria de Odessa de O encouraçado Potemkin) se espraia num estilo personalíssimo. Este filme traumatizou duramente o cinema brasileiro.
2) TERRA EM TRANSE, de Glauber Rocha (1967), com Jardel Filho, Glauce Rocha, Paulo Autran. Ainda que a tentação fosse a de não repetir realizadores nesta lista mambembe, não se pode deixar de incluir esta obra-primíssima que retrata, num painel alucinante, o terremoto da política brasileira. Obra de grande impacto em sua mise-en-scène, com sequências audaciosas, é, também, um canto agônico, onde um poeta - dividido entre a política e a arte, no processo de sua lenta morte, após um tiroteio numa estrada, repassa o seu pretérito. O filme, portanto, tem sua ação localizada na mente desse personagem enquanto dá seus últimos suspiros. Surpreendente sob todos os aspectos.
3) SÃO PAULO S/A, de Luís Sérgio Person (1965), com Walmor Chagas, Eva Wilma, Otelo Zelloni. O Cinema Novo se desloca, aqui, do campo para a cidade. Person realiza uma obra delicada e sensível onde a cidade paulistana se integra no conflito audiovisual, inserindo-se na estrutura narrativa do filme como um personagem. Esta incorporação do ambiente ao tecido dramatúrgico é rara na cinematografia. Centro da metrópole, em plena era de industrialização, um homem perdido à procura de um sentido para a sua existência. Exemplar!
4) O BANDIDO DA LUZ VERMELHA, de Rogério Sganzerla (1967), com Paulo Villaça, Helena Ignêz, Luiz Linhares. Carro-chefe do chamado Cinema Marginal - ou underground ou, ainda, udigrudi. Um faroeste do Terceiro Mundo, na definição de seu autor, obra de estréia em longa metragem, um filme único na cinematografia nacional. As imagens, desordenadas mas com uma cadência rítmica explosiva, aparecem, na estrutura narrativa, como a ilustração de um programa de rádio de classe Z. Duas vozes narram a trajetória de um perigoso marginal da periferia paulistana. O que se pode ver, neste filme extraordinário, é a apreensão, por um jovem cineasta de 21 anos, do melhor cinema praticado em décadas anteriores. Radiofônico, como Welles, sincopado em sua montagem, como Godard, mas de uma boçalidade exclusivamente brasileira. O autor assume a bregüice nacional com uma total non chalance, proporcionando, com isso, um retrato esculhambado por excelência, mas inteligentíssimo como expressão da arte do filme.
5) A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA, de Roberto Santos (1965), com Leonardo Villar, Jofre Soares. O realizador venceu uma batalha mais forte do que a do seu personagem: adaptar, com poder de convencimento, uma obra de Guimarães Rosa. Problemas de especificidades lingüísticas à parte, o fato é que o filme é deslumbrante na tentativa de descrever o universo rosiano por meio da força de um outro signo expressivo: o da linguagem cinematográfica. Um grande momento para o Cinema Novo e para todo o cinema brasileiro. E Leonardo Villar está como que inexcedível no papel título.
6) ABSOLUTAMENTE CERTO, de Anselmo Duarte (1958), com Dercy Gonçalves, Anselmo Duarte, Odete Lara. Em pleno domínio da chanchada, o maior galã do cinema nacional da época dirige o seu primeiro longa. O resultado fica acima da expectativa, pois uma inteligente comédia de costumes que retrata, com graça e humor, a classe média paulistana. Mas, mais importante que isso, é o cinema ágil, engraçado, com excelentes transições, de um ritmo frenético que acaba por funcionar como um trabalho que ultrapassa o espírito de sua época. O realizador, anos depois, conquistaria a cobiçada Palma de Ouro no Festival de Cannes com O Pagador de Promessas. Mas é aqui que se encontra o melhor do cineasta.
7) VIDAS SECAS, de Nelson Pereira dos Santos (1964), com Átila Iório, Maria Ribeiro. Adaptação do romance homônimo de Graciliano Ramos. Poucas vezes o cinema e a literatura puderam se dar as mãos em harmonia como nesta obra cinematográfica. O livro parece um indicativo das imagens em movimento pela sua linguagem seca, sem floreios. O diretor, precursor do Cinema Novo - Rio, quarenta graus, Rio Zona Norte, soube apreender as indicações da escritura romanesca, transformando-as em pura linguagem fílmica. Desde a fotografia sem filtros, que denuncia a aridez da paisagem e o sol dominador, passando pelas rigorosas interpretações de Átila Iório e Maria Ribeiro, até o clímax da morte cansada da cadela, tudo é luz e maravilhamento.
8) NOITE VAZIA, de Walter Hugo Khoury (1964), com Mário Benvenutti, Norma Bengell, Odete Lara, Gabrielle Tinti. Um autor original no panorama do cinema brasileiro que, muito criticado pelos cinemanovistas pelas influências de Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, conseguiu, como poucos neste país, revelar-se um verdadeiro autor na expressão exata do vocábulo. Com um universo ficcional próprio e um estilo particularíssimo, com cada obra singular sendo uma variação de um mesmo tema - o macrofilme, que é toda a sua filmografia, Khoury enfrentou incólume as turbulências da crítica e hoje está estabelecido como um dos maiores cineastas brasileiros. Noite vazia investe na noite de São Paulo com seus personagens amargurados à procura de um significado para as suas existências desiludidas. Mas o que se faz notar no filme é uma emergência poética a cada instante, um domínio formal impressionante na condução da mise-en-scène. A seqüência da chuva na janela, em montagem paralela com as mulheres deitadas e o ovo que se estala no fogão, é uma das mais belas do cinema brasileiro.
9) TODAS AS MULHERES DO MUNDO, de Domingos de Oliveira (1966), com Paulo José, Flávio Migliaccio, Leila Diniz, Ivan de Albuquerque, Irma Alvarez. Nenhum filme brasileiro revelou tão bem o espírito de uma época como este delicado poema à mulher amada de um realizador em sua primeira incursão no universo das imagens em movimento. Domingos se encontra em sua quintessência, dotado de um singular humor e uma capacidade intuitiva rara no estabelecimento de uma poética sobre o seu tempo.
10) LILIAM M - RELATÓRIO CONFIDENCIAL, de Carlos Reichenbach, com Célia Olga Benvenutti, Benjamin Cattan, Sérgio Hingst, Edward Freud. Mulher casada com lavrador é seduzida por mascate e após trágico acidente vai morar na selva de pedra paulistana onde enfrenta a solidão e o desespero, mas, inesperadamente, se casa com industrial rico e muda de vida. Filme original, bastante influenciado pela estética do cinema japonês, premiado em vários festivais, é um marco na carreira de seu autor e sua revelação para o Brasil e para o mundo. Uma obra que precisa ser revista atualmente com toda a atenção.

LIMITE, de Mário Peixoto (1930), com Olga Breno, Taciana Rei, Raul Schnoor. Clássico absoluto do cinema brasileiro. Um filme que não se compara mas se separa. Três pessoas viajam sem destino num barco e relembram o passado. Filme-mito, que provocou estesia e polêmica, realizado ainda na estética da arte muda por um jovem realizador que estreava, aqui, na direção cinematográfica e depois desse filme se trancou numa ilha para sempre. Obra essencial, visual, puro cinema, ou o cinema como música do olhar. Fotografia excepcional de Edgard Brazil.

20 julho 2010

Um momento particular

Michel Pìccoli e Brigitte Bardot em um momento de O Desprezo (Le mépris, 1963), um dos mais fascinantes filmes de Jean-Luc Godard. Filmado com lente anamórfica (cinemascope), Le mépris é sobre um cineasta que pretende filmar a Odisséia de Homero. Um filme, na verdade, sobre o próprio cinema, com a presença (como ele mesmo) de Fritz Lang. A destacar o uso do cinemascope no estabelecimento das relações espaciais entre os personagens, as coisas, os objetos e a paisagem. A versão original francesa conta com a partitura de Georges Delerue, mas a versão italiana tem-na substituída pela música de Piero Piccioni. Na pele do produtor, Jack Palance, que diz a frase famosa: "Quando ouço falar em cultura, puxo logo o meu talão de cheques" Creio que a imagem fica melhor quando se dá um clique nela.

18 julho 2010

Mike Nichols

O grande homenageado de 2010 pela A.F.I. foi o realizador Mike Nichols, que, se não se encontra no panteão dos imortais do cinema americano, é um diretor muito considerado nos Estados Unidos e responsável por filmes inesquecíveis. Mas se fala, pelo menos por aqui, no Brasil, muito pouco dele. Vi a transmissão pelo canal MGM, e na festa da entrega do prêmio estavam presentes os maiorais do cinema estadunidense, que o aplaudiam entusiasticamente. Acontece que Nichols, além de ser um cineasta, é um diretor de teatro dos mais considerados em seu país, e talvez o melhor diretor de atores que vem depois da geração de Elia Kazan, Lee Strasberg etc. Suas peças, sempre em cartaz, fazem muito sucesso.
O primeiro filme que vi de Nichols (e foi realmente seu primeiro filme) foi uma obra de impacto, apesar do suporte teatral do texto pesado de Edward Albee: Quem tem medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf? 1966), com Richard Burton, Elizabeth Taylor, George Segal, Sandy Dennis, a dupla de casais que briga o filme inteiro. O roteiro é de ninguém menos do que Ernest Lehman (Intriga internacional...). No ano seguinte, A primeira noite de um homem (The graduate, 1967), um impulso novo no tratamento temático do cinema americano, que lança Dustin Hoffman.
Entre os melhores filmes de Mike Nichols (para mim, para mim), excetuando-se os dois citados: Ardil 22 (Catch 22, 1970), Ânsia de amar (Carnal knowledge, 1971), com Jack Nicholson, a belíssima Candice Bergen, a gostosíssima Ann-Margret, Arthur Garfunkel, Rita Moreno, onde Nichols discute o machismo americano e suas inépcias; Golpe do báu (The fortune, 1975), Silkwood (1983), com Meryl Streep, A difícil arte de amar (Heartburn, 1986), com Jack Nicholson e Meryl Streep (atriz preferida do diretor). A rigor, só não gostei da versão politicamente correta de A gaiola das loucas (The Birdcage, 1996). A de Edouard Molinaro, completamente despida de corretismo é que é bem engraçada e divertida, com Ugo Tognazzi e Michel Serrault.
Mas Mike Nichols é um cineasta a respeitar.