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Ganha quem pode
Ano passado, como foi até objeto de uma pesquisa neste blog, vários filmes brasileiros, além de Tropa de elite, se destacaram. Em primeiro lugar, Jogo de cena, de Eduardo Coutinho, que tensiona as relações afetivas entre o documentário e a ficção nas suas fronteiras tênues. O resultado é comovente e uma obra de impacto que justifica a fama do realizador como o maior documentarista do cinema brasileiro. E outro documentário que se destaca no panorama: Santiago, de João Moreira Salles. Interessante observar que o documentário está a adquirir um status nobre que não possuía. E tudo por causa de nossos talentosos documentaristas, a exemplo de Coutinho, Salles, Vladimir Carvalho, Sílvio Tendler, Geraldo Sarno, entre tantos outros. Há um filme especialíssimo, que possui sensibilidade no retrato dos anos de chumbo: O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer. Não é sempre que num ano se possa apontar quatro ou cinco filmes dignos de nota.
Dois filmes, pelo menos, que concorrem ao Oscar (os outros não os vi) são excelentes e surpreendentes em se tratando de cinema contemporâneo: Onde os fracos não têm vez (No country for old men), de Joel e Ethan Coen, e Sangue negro (There Will Be Blood), de Paul Thomas Anderson, diretor que já vinha a despertar interesse pela maneira de seus enfoques temáticos, a se mostrar um realizador original e de certa singularidade, ainda que a copiar o estilo narrativo de Robert Altman em Magnólia, principalmente, e Boogie Nights. Mas em There will be blood, Anderson se supera, pois realiza um épico sobre a América na qual o empreendedorismo é um elemento propulsor da prosperidade. Em questão: o empreendedor (Daniel-Day Lewis, excepcional) e a religião, duas faces de uma mesma moeda. Mas o que impressiona em There will be blood é a maneira de Anderson tratar o tema, um modo de se manifestar pelas imagens em movimento a conferir a estas uma dimensão poética e trágica em acerto paradoxal. Não economiza tempo para expor a tragédia de suas criaturas, principalmente a angústia existencial do personagem interpretado por Lewis. O cinema de Anderson não se importa com a tesoura, mas com o poder de verdade que emana de seus enquadramentos rigorosamente pensados em função da dramaturgia e da plástica da imagem.
Revi o DVD duplo, com muitos extras, de A cor púrpura (The color purple, 1985), um Spielberg de grande sensibilidade, que retrata conflito entre negros numa moldura narrativa com acentos dickensianos. Danny Glover, Whoopi Goldberg (irreconhecível ainda jovem), Oprah Winfrey (gorda, feia, bem diferente da apresentadora glamourizada de seu programa atual), Margaret Avery, Adolph Caesar. Spielberg passeia por vários assuntos, vários temas, em sua já extensa filmografia, mas sempre a saudade do lar, a família como pólo aglutinador. O seu novo filme, a quarta aventura de Indiana com um Harrison Ford em meados dos 60, Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, tem no elenco, além de Ford, Cate Blanchet (que se encontra em cartaz no segundo ato de Elizabeth, a rainha), Karen Allen, John Hurt (ator inglês de fleugma inconfundível), entre outros.
Vendo, ontem, Sangue negro, numa sala do Multiplex Iguatemi, verifiquei que a dublagem virá a ser implantada nos filmes estrangeiros. Pelo menos no lixo oriundo da indústria cultural hollywoodiana. Ir ao Multiplex, para mim, é um imenso sacrifício, como já disse aqui várias vezes. Mas tenho que ver certos filmes, que são imperdíveis, a exemplo de Sangue negro e Onde os fracos não têm vez. Apesar de me incomodar sobremaneira com os celulares, que são atendidos durante a projeção sem a menor cerimônia, sem o menor respeito por aqueles que se encontram a ver o filme, com os imensos sacos de pipoca (por que tão grandes?), pelos copos de refrigerantes que beiram ao litro. E, principalmente, pelas conversas a latere praticadas por verdadeiros débeis mentais. Há pessoas que comentam o filme em voz alta. Impressionante. Já falei isso aqui. Mas volto a me referir. Mas sempre foi assim, disse-me um rapaz, equivocado. Não, antigamente havia silêncio, respeito, de vez em quando uma piada, que era, de fato, engraçada. Nos cinemas mais populares, havia uma gritaria, mas no sentido de interação com a ação do filme. A cavalaria que chegava para salvar os personagens. Nas salas de cadeira de pau, o público batia nas cadeiras, mas era no propósito de interagir, de torcer pelo mocinho, etc. Não o comportamento debilóide de hoje. Isso não existia não. Mas estava a falar que a dublagem está por vir. Fica para depois.
Vi uma chamada no híbrido Telecine Cult de A malvada (All about Eve, 1950), que, absurdo dos absurdos, vai ser exibido na sua versão colorizada, um atentado à integridade da obra cinematográfica e assassinato cultural dos mais pesados. Filme de Joseph L. Mankiewicz, com Bette Davis, George Sanders, Ann Baxter, trata-se de um clássico da sétima arte sobre os bastidores do teatro. O canal Cult, que se diz propagador do bom cinema, ao admitir a colorização de filmes antigos, está assassinando as obras cinematográficas. Já basta o abominável full screen (tela cheia). Não vejo mais filme no Cult originariamente feito em cinemascope e todo desfigurado, espichado, como é hábito do canal passar os filmes neste formato, a deformá-los na sua integridade original.