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17 novembro 2007

A música como inspiração



Vou ver logo que possa Crimes de autor (Roman de gare), de Claude Lelouch, realizador de minha admiração e severamente criticado, desprezado pela crítica. Convidado por Leon Cakoff, foi homenageado na última mostra internacional de São Paulo merecidamente. Cakoff marcou um tento e se mostrou um organizador aberto a todas as tendências. O convite feito a Lelouch mostra que o promotor de tão importante festival é pessoa que se caracteriza pelo livre pensar, a acolher todos os pensamentos e todas as estéticas, os modos de ser cinematograficamente. Apesar de tachado de sentimental, Um homem, uma mulher (Un homme et une femme), de 1966, teve seus méritos reconhecidos pelo júri do Festival de Cannes, que lhe deu a Palma de Ouro, a disputar com monstros sagrados dos efervescentes anos 60. A regência lelouchiana estabeleceu uma nova maneira de lidar com os atores, deixando-os à vontade dentro de um naturalismo impressionante. E poucos são os diretores que sabem utilizar a partitura musical com a maestria de Claude Lelouch. Ainda pretendo fazer, aqui mesmo, neste blog, uma revisão de sua filmografia, pois a partir de Un homme et une femme vi quase todos os seus filmes, exceção dos últimos que não foram lançados comercialmente. Mas como ficar indiferente ante a beleza cinematográfica de Um homem como poucos (Le voyou, 1970), com Charles Denner e Jean-Louis Trintgnant? Ilya des jours et de lunes, por exemplo, de 1990, com Annie Girardot, é uma beleza para ser sucinto e sintético. A magistral sátira política de A aventura é uma aventura (L'aventure c'est l'aventure, 1972), com Jacques Brel e Lino Ventura. Mas deixemos para falar de seus filmes em outra ocasião.

O site oficial de Lelouch: http://www.lesfilms13.com

16 novembro 2007

Os Inocentes



Publiquei o comentário que vai abaixo no blog da locadora Casa de Cinema (http://www.blogdacasadecinema.blogspot.com/), que, em breve, terá look novo, paginação mais funcional. Porque um texto feito especialmente para o referido blog, chamo a atenção que o DVD pode lá ser encontrado, isto é, na locadora e não no blog, bem entendido, como, aliás, repito o dito no final do artigo. É, realmente, como está escrito na capa um dos tesouros da sétima arte.

Realizado em 1961, Os Inocentes (The Innocents), encontrava-se, há décadas, fora de circulação até o seu recente lançamento em DVD pela Fox. Dirigido pelo inglês Jack Clayton, que, três anos antes, com Almas em Leilão (Room at the Top, 1958), consolidou-se como um dos principais cineastas do free cinema (a nouvelle vague britânica), Os Inocentes é a adaptação de uma novela curta do famoso escritor Henry James (feita pelo célebre e polêmico Truman Capote e William Archibald), The Turn of the Screw (A Outra Volta do Parafuso).

O filme rechaça, no entanto, a ambigüidade do texto literário e opta francamente pela irrealidade das aparições. O terror, portanto, em Os Inocentes, surge como um recurso para uma abordagem mais profunda da repressão da era vitoriana. E as aparições, neste caso, ao invés de serem, na verdade, tormentos do sobrenatural, constituem-se nas mórbidas corporações do puritanismo e do sexo reprimido da protagonista principal, uma instrutora (Deborah Kerr em um de seus melhores desempenhos) que projeta sobre duas crianças (Pamela Franklin e Martin Stephens) os fantasmas de suas repressões sexuais, e, em conseqüência, causa sua desgraça.

Clayton brilha mais nas cenas exteriores - de sutil perversidade – do que nas interiores (nas quais se repetem os lugares comuns dos filmes de terror ingleses: ruídos inexplicáveis, portas que se abrem e se fecham, etc). De qualquer forma, o realizador é hábil o suficiente para dotar Os Inocentes de uma inteligente descrição do ambiente e da mentalidade da era vitoriana. Vale destacar a brilhante e eficaz fotografia de Freddie Francis – que, posteriormente dirigiria várias fitas de terror para a Hammer, produtora inglesa, e que foi chamado por Martin Scorsese para fazer a fotografia de seu Cabo do Medo (bela luz mas filme ruim), e a inexcedível interpretação de Deborah Kerr – vítima e verdugo da perversa fascinação de seus jovens alunos.

Entre os filmes de Jack Clayton, diretor de raro domínio formal sobre o seu meio de expressão, embora pouco reconhecido e comentado – talvez dada a dificuldade de encontrar as suas obras mais notáveis, os que mais se destacam são este Os Inocentes e Almas em Leilão, seu primeiro longa metragem, um melodrama social sobre a ascensão de um jovem arrivista, muito bem acolhido, na época, pela crítica. Como características de sua mise-en-scène, podem ser detectados rigor expositivo e beleza formal dentro de um estrito classicismo.

Também se pode citar como obra singular de Clayton um filme de 1964: Crescei e Multiplicai-vos (The Pumpkin Ester), que incide sobre estas características e confirma sua interessante personalidade. Nos anos 70, entusiasmado por estes filmes do início de carreira, Francis Ford Coppola o convida para dirigir, nos Estados Unidos, O Grande Gatsby, baseado no romance de F. Scott Fitzgerald, com Mia Farrow no auge de sua carreira. Mas Clayton tinha já perdido o seu mistério como realizador, não dando ao filme a personalidade que tinha tanto quando fez Os Inocentes e os outros citados.O DVD de Os Inocentes, disponível na Casa de Cinema (Shopping Rio Vermelho, rua Odilon Santos, procurar Roberto Midlej, ou telefonar para 3334.4409), conserva integralmente o formato cinemascope da cópia exibida em cinema.

15 novembro 2007

Bertolucci: aberto e lúcido


Bernardo Bertocucci, ainda que com filmes menores como O pequeno Buda e, de certa forma, O último imperador, é, atualmente, um dos cineastas que melhor trabalham na criação cinematográfica. Bertolucci tem um sentido aguçadíssimo de cinema, da mise-en-scène, que dificilmente pode ser encontrado entre os realizadores da chamada contemporaneidade, honradas as exceções de praxe. Se a nobreza do cinema italiano (Visconti, Fellini, Rossellini, Antonioni, etc) caiu, e caiu de forma avassaladora na atualidade, restou Bertolucci como um príncipe perdido num cipoal de mediocridades. O seu talento se verifica desde o começo, principalmente em Antes da Revolução (Prima della Rivoluzione, Itália, 1963/4), talvez a sua mais importante obra, que, por causa de uma dessas injunções do mercado exibidor brasileiro, levou 25 anos para ser lançado no Brasil - o que aconteceu em 1998.

É um cinema típico dos anos 60, a década da renovação da linguagem cinematográfica, da procura de uma expressão longe dos cânones estabelecidos, quando se queria, intensamente, romper com as estruturas acadêmicas da linguagem fílmica. O tempo, juiz supremo, se encarregou de separar o joio do trigo, o alho do bugalho, mas Prima della Rivoluzione, revisto hoje, conserva um impacto e um frescor surpreendentes. É um cinema de invenção de fórmulas, de mergulho intenso nas interrogações da vida, de perplexidade ante o estar-no-mundo.

O jovem marxista Fabrizio (Francesco Barilli) - nesta época, vale lembrar, Bernardo Bertolucci pertencia ao Partido Comunista Italiano - cujo guia ideológico, mentor intelectual, é Cesare (Morando Morandini), um professor universitário, sofre uma grave crise após o suicídio de seu melhor amigo. As certezas se tornam dúvidas e Fabrizio entra num processo de angústia. Consola-se com sua tia Gina (Adriana Asti), uma mulher bem mais velha e extremamente neurótica, que, por compaixão, aceita ter um caso com o sobrinho. Mas ela foge de Parma com Cesare para desespero de Fabrizio, que abandona seus sonhos revolucionários e se dá por vencido. O revolucionário depõe as armas e decide se aburguesar, aceitando um casamento que o integra, definitivamente, ao mundo da burguesia.

Parma é uma cidade das raízes de Bertolucci. Um ato de amor a ela está plasmado no plano inicial, quando um travelling irrompe na sua praça principal, revelando a sua beleza, a sua arquitetura e a sua poesia. O jovem Fabrizio pode ser considerado um alter ego do autor, inclusive num momento no qual discute com o amigo a função do cinema na sociedade contemporânea. A fotografia em preto e branco de Aldo Scarvada é um ponto a destacar, assim como a partitura de três grandes maestros: Ennio Morricone, Gato Barbieri e Gino Paoli.

Prima della Rivoluzione é um filme sobre as inquietudes intelectuais de uma geração, e, também, uma celebração do cinema como ato criador e transformador. Beleza, como diria Godard, ao mesmo tempo que a explicação da beleza, arte ao mesmo tempo que a explicação da arte, cinema ao mesmo tempo que a explicação do cinema. O título vem de uma frase de Tayllerand: 'Quem não viveu os anos antes da Revolução não pode compreender o que é a doçura de viver'. Esta confissão, de um filho do século como Bertolucci, pode se situar como uma moderna e pungente educação política e sentimental. O cineasta de O Último Tango em Paris analisa, neste seu segundo longa, com uma sensibilidade febril, a trajetória de um jovem de Parma (como ele) na efervescente década de 60.

Assim, Prima della Rivoluzione é, antes de tudo, um filme de sua época. E o faz através de relato em primeira pessoa de patéticos acentos autobiográficos, quando efetua o processo implacável de conceitos como a pureza da abstração revolucionária, que conduz o jovem protagonista a uma dupla derrota. Sentimental - o amor frustrado de Fabrizio por Gina - e a derrocada do ideal mítico da revolução - na qual se exemplifica toda uma página da história italiana contemporânea.A elegância dos diálogos, onde se pode sentir a influência de Stendhal e Flaubert, o sentido de observação da mise-en-scène, em momentos fortíssimos como a despedida dos amantes durante a representação da ópera Macbeth, e a poética na condução narrativa, fazem de Bernardo Bertolucci, ainda neste segundo filme, um dos mais importantes cineastas italianos de todos os tempos. Se atualmente se contempla a anemia de uma cinematografia que forneceu Antonioni, Fellini, Visconti, De Sica, Bertolucci, entre tantos outros gigantes, a visão de Prima della Rivoluzine serve, quando nada, para se sentir a grandeza de um cinema, de um tempo e de um espírito de época.

Os mais belos de todos os tempos


Entre os mais belos filmes do mundo, escolhidos há pouco pela revista Cahiers du Cinema - cujo site é imperdível e deve estar sempre entre os favoritos dos cinéfilo (http://www.cahiersducinema.com/article1337.html) um filme formador que forneceu um grande impulso na minha impressão da arte do filme pela emoção: Rastros de ódio (The seachers, 1956), de John Ford, belíssimo diria, e não apenas belo. Foram 78 os votantes, escolhidos estes entre os mais renomados críticos, ensaístas e historiadores franceses. Interessante observar, no entanto, que quando Rastros de ódio foi lançado - e o vi na tela grande do cinema nos anos 60 já em reprise, a crítica fez-lhe vista grossa e, exceção de algumas vozes isoladas, a exemplo do crítico carioca Moniz Vianna, foi desprezado por aqueles que se diziam exegetas da sétima arte. Neste particular, os livros de coletâneas críticas dos pensadores do cinema (Paulo Emílio, Walter da Silveira, entre outros) viam grande cinema apenas em determinados cineastas como Eisenstein, Chaplin, Orson Welles, Roberto Rossellini, Antonioni, Bergman... Foi preciso o surgimento da Política dos Autores (Politique D'Auteurs), que emergiu em final dos anos 50, patrocinada pela redação do Cahiers para que grandes realizadores fossem descobertos, a exemplo de Hitchcock, Howard Hawks, Robert Aldrich, John Ford, entre tantos, que eram esnobados pela chamada crítica culta.
A grande surpresa da relação foi o segundo lugar dado a O mensageiro do diabo (The night of the hunter), único filme dirigido pelo ator Charles Laughton, com Robert Mitchum, obra insólita e estranha, é verdade, possuidora de uma poética capaz de causar estranheza, e a estranheza é o mistério que deve conter toda a obra que se quer de arte. O primeiro lugar é de Cidadão Kane, que ainda conserva o seu lugar no topo da lista décadas e décadas depois de sua realização. Realmente o filme de Orson Welles, e o primeiro que fez na vida, é de uma força surpreendente, que traumatizou toda uma geração e modificou a linguagem cinematográfica. Ainda em terceiro - empate técnico - A regra do jogo (La règle de jeu, 1939), de Jean Renoir (que foi o mais votado dos diretores, e, creio, a preferência vem por causa de a maioria dos votantes ser constituída de críticos franceses), obra-prima, filme introdutor com eficácia da profundidade de campo que seria moldada com mais perfeição e dinâmica por Welles em Kane e, depois, em Os melhores anos de nossas vidas, do grande William Wyler.

O quarto, Aurora (Sunrise, 1927), que Murnau fez nos Estados Unidos, aplicando as lições do expressionismo alemão com um resultado admirável, pleno de cinema e de poesia. Murnau é um dos mais importantes diretores do expressionismo, autor de obras definitivas e inovadoras como A última gargalhada, Nosferatu, Fausto... E Jean Vigo, poeta das imagens, ficou com o quinto lugar por O atalante, filme muito apreciado e aclamado. Seguem-lhe: M, o vampiro de Dusseldorf (1930), de Fritz Lang, Cantando na chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly, Um corpo que cai, de Alfred Hitchcock, O boulevar do crime (Les enfants du paradis), de Marcel Carné, Ouro e maldição (Greed), de Stroheim, e em décimo Rastros de ódio. A relação completa pode ser conferida no site indicado. Uma curiosidade é que, na França, o título deste filme de Ford é O prisioneiro do deserto enquanto que na tradução do original, Os perseguidores.
Quem quiser ir direto para o site da revista ( o outro link acima vai direto para a lista dos mais belos filmes) que dê um clique aqui: http://www.cahiersducinema.com/site.php3
A imagem que ilustra o post é uma das mais belas da história do cinema (ou talvez mesmo a mais bela). Trata-se do final de Rastros de ódio, quando a câmera, dentro da casa, observa os personagens a entrar nela, contentes com a captura de Debbie (Natalie Wood). Somente John Wayne, o responsável pela sua vinda, é que resta sozinho, na porta, e depois deambula, como um homem sem destino, sem um propósito a cumprir, finda a missão. E a porta se fecha.

11 novembro 2007

Cinema para rico ver


Sim, uma ida ao cinema atualmente significa um gasto considerável, que fura o orçamento do classe média, que está pagando a conta das bolsas familiares A verdade é que, depois do Plano Real, a economia se dolarizou, os preços subiram muito e os salários, congelados em freezer potente. Um casal para ir ao Multiplex gasta, de saída, 32 reais, considerando que o ingresso custa a 16. Se quiser se empipocar, como é de praxe, mais uma grana – e os complexos de cinema cobram muito mais nas guloseimas compradas dentro deles. Mas, uma ida a seco, e de ônibus, adicione-se aos 32 dos ingressos, os 8 das passagens (2 reais por cabeça). O resultado assinala que um filme custa 40 reais. Muito caro. E o povo, e o povo, como é que pode ir ao cinema? Já que não mais existem os chamados cinemas de rua nem os de bairros?
Se formos fazer uma comparação entre o número de salas exibidoras que Salvador tinha em 1958 e o que tem atualmente, a conclusão é uma só: os cinemas estão fechando suas portas. Com uma população de, mais ou menos, quinhentos mil habitantes, a província possuía em torno de quase trinta salas, considerando, no cômputo final, as de primeira linha, os poeiras da Baixa dos Sapateiros, e os cinemas de bairro. Para arredondar o raciocino, que se coloque trinta salas em 1958 para quinhentos mil habitantes, sendo que cada uma delas tinha, em média, mil poltronas, variando entre as salas maiores, de quase duas mil cadeiras, como o Guarany e o Jandaia, e as menores, que beiravam a mil lugares. Para não haver crescimento das salas exibidores, e considerando, sempre, a densidade demográfica, nos dias que correm – e como correm!, com uma população de dois milhões e quinhentos mil habitantes – e, aqui, nivelando por baixo, Salvador deveria ter, no mínimo, cento e cinqüenta salas, pois a sua população, entre 1958 e 2005, aumentou cinco vezes. O cálculo é simples. Multiplicam-se as trinta salas do passado por 5 e se tem o número de cinemas que a cidade deveria ter e, repetindo-se, sem haver crescimento. Mas atualmente o que se tem é um máximo de trinta e cinco salas e cada uma com um máximo de 400 lugares, a maior parte se localizando nos complexos chamados Multiplex.

Então que se faça uma nova contagem, considerando que cada cinema, em 1958, tinha em média mil lugares e, hoje, trezentos. Trinta vezes mil, em 1958, é igual a trinta mil. Que se coloque, para ficar bem claro, em números inteiros: tinha-se, na província, nesta época, 30.000 lugares e, se o número for multiplicado por cinco, porque a população cresceu cinco vezes, tem-se o número redondo de 150.000. Este, o número que, para não se constatar crescimento, mas, apenas, manutenção, deveria a cidade possuir em número de lugares. Mas o que se tem atualmente? Com a média de 400 lugares e 35 salas, fazendo-se a multiplicação, o resultado é de 14.000 lugares. Que diferença brutal!
Se antigamente o povo ia muito ao cinema, hoje, como disse Gustavo Dahl no seminário internacional de cinema e audiovisual, não tem acesso a ele. O cinema, que era um meio de comunicação de massa, atualmente é um veículo cujo acesso somente é possível à elite. Antes, existiam os cinemas de primeira linha, lançadores, que ficavam concentrados no centro histórico, os poeiras da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. Luiz Carlos Barreto, que conhece muito bem a mercadologia cinematográfica, afirmou, em recente entrevista no Canal Brasil, que o ingresso custava em torno de um dólar e, nos cinemas de segunda, cinqüenta centavos. É como se hoje o ingresso para entrar numa das salas do Multiplex custasse dois reais e cinqüenta centavos, a inteira, a inteira! Mas quanto custa realmente? Em torno de quatorze reais. Como uma pessoa que ganha a miséria do salário mínimo pode freqüentar as salas de exibição? Ir com a família ao cinema? Nem pensar.

O Plano Real dolarizou a economia de uma forma perversa. O povo está excluído do cinema, assim como a chamada classe média baixa. A conclusão é estarrecedora e reveladora: apenas dez por cento da população baiana pode ir ao cinema, sendo que dois milhões e tanto de pessoas estão completamente fora da rota cinematográfica. Constatou-se, em pesquisa recente, que a maioria dos baianos nunca foi ao cinema. Um grupo organizou uma sessão cinematográfica num bairro periférico e o que se viu foi espantoso. As pessoas ficaram maravilhadas pelas imagens em movimento, pois estavam a contempla-las pela primeira vez. E isto aconteceu na região metropolitana de Salvador!

Na década de 50, o Brasil tinha perto de dez mil salas exibidoras. Em 1975, já se contavam apenas cinco mil. No ano passado, chegou a mil e novecentos. Os cinemas interioranos fecharam suas portas. Assim como aqueles de rua, como os antigos e inesquecíveis da Baixa dos Sapateiros e os de bairro. O que se constata é que os cinemas estão sendo construídos para o usufruto de uma elite que pode pagar os quatorze reais de ingresso, ainda a se refestelar com as guloseimas caríssimas que lhe são oferecidas no fast food. O público se infantilizou e se idiotizou. Ir ao cinema, antes um ritual, uma solenidade, uma função, atualmente é comparável a uma ida ao fast food.
Triste país!