Nestes meados
de agosto de 2013, faço exatos 40 anos que escrevo sobre cinema na TRIBUNA DA
BAHIA. A lembrança, sobre ser terrível pela constatação de como o tempo passa
depressa, faz com que me motive para falar algum coisa nesta longa trajetória
de mais de três décadas.
Comecei a ter
uma coluna neste prestigioso jornal justamente em meados de agosto de 1973,
quando era redator-chefe Sérgio Gomes. Já perto de completar 24, tinha acabado
de me formar em Direito pela Universidade Federal da Bahia. A coluna era diária
e tinha obrigação de ir aos cinemas todos os dias para comentar os lançamentos
da semana. Naquela época, as salas exibidoras se concentravam no Centro
Histórico (Liceu, Excelsior, Tamoio, Guarany, Bahia, etc), na Baixa dos
Sapateiros (Pax, Aliança, Jandaia...) e nos bairros. Ainda não havia os
complexos como Multiplex e Cinemark, mas pouco depois, no Shopping Center
Iguatemi, foi inaugurada (creio que em 1975, ano depois de instalado este
centro de compras que virou uma verdadeira "mesquita" da sociedade de
consumo), uma sala da Art Filmes, o cinema Iguatemi 1 e, poucos anos depois, o
Iguatemi 2.
Escrever uma
coluna diária requer um certo “pique” e tem suas condicionantes, porque não dá
muito tempo do colunista amadurecer o filme visto dada a pressa de entregar
logo a coluna ainda com o filme em cartaz. É diferente de se fazer uma análise
com mais vagar para publicação numa revista especializada ou mesmo num
suplemento cultural.
Antes de
estrear na TRIBUNA DA BAHIA, contudo, já tinha tido alguma experiência como
colunista. Em 1973, havia um jornal tablóide dominical, Jornal da Cidade,
editado por Pedro Muniz, onde tinha uma página com quatro colunas relacionadas
com a sétima arte. O Jornal da Cidade, porém, não teve vida longeva,
desaparecendo um pouco mais de um ano de sua aparição.
Quando surgiu,
em outubro de 1969, a TRIBUNA DA BAHIA, assim como o Jornal da Bahia em 1958
(11 anos antes, mas que parece um tempo maior), provocou uma pequena revolução
no panorama jornalístico da província. Com impressão em “off-set” (que
significa “fora do lugar”, porque vem do
fato da impressão ser indireta, ou seja, a tinta passa por um cilindro
intermediário, antes de atingir a superfície), diagramação moderna com fotos
grandes e um novo conceito de dispor os textos no espaço, o jornal provocou o
vespertino tradicional da cidade a também se modernizar, a alterar seus hábitos
tradicionais. Lembro-me que durante a Copa do Mundo de 70, na qual o Brasil
conquistou o tricampeonato, o jornal lançou uma bandeira em um de seus cadernos,
e a promoção foi de tal êxito que atingiu uma circulação impressionante a
deixar em segundo lugar o vespertino habitual da classe média.
A coluna diária
permaneceu por mais de duas décadas, até 1995, quando passei a escrever apenas
às quintas. O cinema não era mais o mesmo e o meu entusiasmo de cinéfilo tinha
se arrefecido. Refiro-me à programação comercial do chamado cinemão. A
indústria cultural hollywoodiana tinha se infantilizado com a avalanche de
filmes nos quais a predominância estava na ação ininterrupta e nos efeitos
especiais. Entre outros fatores, os lançamentos colocados no mercado não
motivavam mais uma coluna diária.
Refeito de uma
grande crise, o cinema americano descobriu a salvação através de filmes como
“Guerra nas estrelas”. Salvação que o levou a se infantilizar tematicamente,
considerando que o grande público do cinema de então era constituído, em sua
grande maioria, por adolescentes, os chamados "aborrecentes". O
"ir ao cinema" de antigamente, tão prazeroso, resultou numa ida ao
inferno, principalmente com o advento dos complexos e a emergência de um
comportamento selvagem da platéia constituída, esta é a verdade, de débeis
mentais.
Acompanhei, de
perto, a trajetória da Embrafilme aqui na Bahia, cujo escritório regional fora
instalado no mesmo ano em que entrei como colunista. Os filmes brasileiros
conseguiam ser exibidos nas salas de primeira linha por causa de uma “lei” da
obrigatoriedade do cinema nacional, que destinava quase a metade dos dias de um
ano para as películas realizadas no Brasil. A imposição aos exibidores
ocasionou uma crise nas bilheterias, porque, muitas vezes, um filme estrangeiro
de grande sucesso, era obrigado a ser retirado de cartaz para dar lugar ao
cumprimento legal. Os exibidores vieram a descobrir, muitos anos depois, que a
famigerada “lei” não era uma Lei, porque não aprovada pelo Congresso Nacional,
mas apenas uma resolução ou portaria do Conselho Nacional do Cinema (Concine).
Choveram liminares até que uma “canetada” de Collor, em 1990, extinguiu tanto a
Embrafilme como o Concine.
Nestes 34 anos,
vários editores-chefes se sucederam nesta TRIBUNA DA BAHIA. Depois de Sérgio
Gomes, Cid Teixeira, em passagem rápida, João Ubaldo Ribeiro, Paulo Roberto
Sampaio, entre outros. E, como comandante-chefe, em todo este período, Walter
Pinheiro.