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27 julho 2006

Umas e outras



Talvez tenha sido um pouco extensivo demais no texto que fiz sobre o dia em que conheci Rubem Biáfora. Mas blog é para isso mesmo. E tenha escrito coisas que não interessam muito, certos detalhes, etc. Mas o fato é que Biáfora foi uma figura de grande importância da crítica cinematográfica paulista. Mesmo aqueles que não simpatizavam com ele, lia-o às escondidas. Lembrei-me agora de um episódio acontecido em meados dos anos 60, quando a série de James Bond estava no auge. Um amigo meu, que se dizia marxista-leninista, sempre estava a dizer que os filmes de 007 eram apologias do capitalismo, que iam contra os ideais revolucionários. Gabava-se de nunca ter visto um filme do agente secreto. Certo dia, numa soirée, assim se chamava as sessões noturnas, entrando numa sala exibidora, repleta de gente a esperar pela abertura da corrente para entrar, vi este amigo, mas, quando me viu, ficou completamente atônito, chegando, inclusive, a pular a corrente e ser perseguido por um funcionário do cinema.

Em 1977, Alain Robbe-Grillet, pai do nouveau-roman e roteirista de O ano passado em Marienbad, de Alain Resnais, esteve em Salvador a convite da Aliança Francesa para uma palestra no Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia. No dia anterior, foi exibido Marienbad na Sala Walter da Silveira, com Grillet presente. Dia seguinte, durante a palestra, intitulada Ordre e désordre dans le récit - por sinal de alto nível e muito interessante, alguns jornalistas da imprensa local estiveram presentes para cobrir o grande acontecimento. No jornal do outro dia, e no jornal mais importante de Salvador, cujo nome não precisa ser citado, estava estampado: Alain Robbe-Grillet fala em Letras sobre Ordem e desordem no recinto. O certo seria Ordem e Desordem na narrativa.
A foto ao lado é de Marlon Brando em Apocalypse Now.