Ainda que do velho Guarany haja projeto em construção para a emergência de um complexo de salas, o Artplex, com filmes alternativos, cinco cinemas, café, livraria, etc, as imagens, perto do final de O Guarany, de Carlos Marques, que mostram as suas ruínas, quando, nelas, projeta-se Bethânia bem de perto, de Júlio Bressane, são ideais no sentido de significar a morte do majestoso Guarany do passado. O final do filme sinaliza, também, para a morte não somente de um cinema mas, também, de uma época. O documentário, que ganhou no Prêmio Agnaldo Siri Azevedo recursos para a feitura de um curta, premiado que foi seu roteiro, é sobre a casa de espetáculos da Praça Castro Alves, e apresenta no seu decorrer o seu apogeu e decadência. As imagens de arquivo, preciosas, como a avant-première de Redenção (1959), de Roberto Pires, primeiro longa baiano, que foi exibido em noite de gala no Guarany, são um presente ao espectador que tem na sua memória a sala do Largo do Teatro. Vê-se o prefeito Heitor Dias, Geraldo D'El Rey, Milton Gaúcho e esposa, Rex Schindler, o exibidor Francisco Pithon, entre muitos outros. E o mais interessante é que há um trecho, na sua integridade espacial, isto é, em cinemascope, de Redenção, a sua abertura. O Guarany se vale, portanto, dessas imagens de arquivo, de jornais da época, de filmagens in loco, e de depoimentos, vários, de Orlando Senna, Oscar Santana, Edgard Navarro, Hamilton Correira, etc, pessoas que viveram o Guarany.
Se O Guarany é um filme bem construído como documentário, há, por um lado, a ausência de sua contextualização no espírito da época, contextualização que poderia ser feita por imagens em movimento. Ela está, é verdade, nas palavras dos depoentes, principalmente nas de Orlando Senna. Longe, porém, de ser um cinema isolado, o Guarany participou da vida cultural da cidade de Salvador, quando aqui havia, realmente, vida cultural, o que não é o caso nos dias atuais onde o que impera de maneira gritante é a miséria cultural, como já me referi aqui em postagem anterior. Creio que a ênfase nessa vida cultural efervescente, que se deu nos anos 50 e 60, acrescentaria a O Guarany uma força maior, embora o filme satisfaça plenamente como memória de uma sala de exibição e tenha atingido o seu propósito, qual seja o de dar ao espectador a dimensão da importância do cinema da Praça Castro Alves, palco de muitos acontecimentos e, inclusive, local, por dois anos (1965, 1966), das exibições prestigiadas do Clube de Cinema da Bahia patrocinadas por Walter da Silveira.
Na foto que ilustra o post, a entrada da rua Chile, na Praça Castro Alves. Quem já morou ou mora em Salvador sabe o impacto que tem essa foto.
Se O Guarany é um filme bem construído como documentário, há, por um lado, a ausência de sua contextualização no espírito da época, contextualização que poderia ser feita por imagens em movimento. Ela está, é verdade, nas palavras dos depoentes, principalmente nas de Orlando Senna. Longe, porém, de ser um cinema isolado, o Guarany participou da vida cultural da cidade de Salvador, quando aqui havia, realmente, vida cultural, o que não é o caso nos dias atuais onde o que impera de maneira gritante é a miséria cultural, como já me referi aqui em postagem anterior. Creio que a ênfase nessa vida cultural efervescente, que se deu nos anos 50 e 60, acrescentaria a O Guarany uma força maior, embora o filme satisfaça plenamente como memória de uma sala de exibição e tenha atingido o seu propósito, qual seja o de dar ao espectador a dimensão da importância do cinema da Praça Castro Alves, palco de muitos acontecimentos e, inclusive, local, por dois anos (1965, 1966), das exibições prestigiadas do Clube de Cinema da Bahia patrocinadas por Walter da Silveira.
Na foto que ilustra o post, a entrada da rua Chile, na Praça Castro Alves. Quem já morou ou mora em Salvador sabe o impacto que tem essa foto.
Um comentário:
O fato de reinaugurar o Guarany já, em si, é uma grande iniciativa.
É pena que não vá ser como o era anteriormente. Mas, sinal dos tempos, hoje as grandes salas tornarem-se inviáveis.
Vários cinemas de rua que sobreviveram aqui no Rio, como o Roxy, o Palácio e o Leblon, fizeram esta mudança.
Que fazer? pelo menos continuaram, marcando o ponto e existindo!
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