François Truffaut escreveu, naquele fabuloso livro de entrevistas que fez com Hitchcock, que toda a série James Bond (pelo menos nos seus filmes iniciais) foi fortemente influenciada pela estrutura audiovisual de Intriga internacional (North by northwest, 1959). Acompanhei a trajetória do agente James Bond desde o seu primeiro filme, O satânico Dr. No (Dr. No, 1962) e não posso negar que me empolgava com as suas eletrizantes aventuras, a seqüência antes da apresentação dos créditos, a música-tema de John Barry, o carisma de seu primeiro intérprete (e único), Sean Connery. O segundo filme, Moscou contra 007 (From Russia with love, 1964), de Terence Young (um chinês metido a inglês que também dirigiu o primeiro, entre outros) se tornou numa verdadeira coqueluche, filas quilométricas, um sucesso absoluto que seria confirmado com o estouro de 007 contra Goldfinger, desta vez regido por Guy Hamilton. A emoção, porém, tinha prosseguimento com 007 contra a chantagem atômica (Thunderball, 1965), Com 007 só se vive duas vezes. O interregno com George Lazenby como um Bond deslocado, no entanto, esfriou a trajetória bondiana. Mas eis que Connery volta em Diamantes são eternos (Diamonds are forever), ainda que meio careca e mais gordo - estava se tornando um intérprete expressivo, principalmente em Marnie, do mestre, e A colina dos homens perdidos (The hill, 1966), de Sidney Lumet (o mesmo que, aos 84 anos, dirige a pérola que é Antes que o diabo saiba que você está morto). Para esta sábado melancólico, uma foto de Connery em Moscou contra 007. Spielberg declarou uma vez que sempre sonhou em fazer um filme de James Bond e a série Indiana Jones, estruturalmente falando, tem muito a ver com os filmes do agente secreto, com direito para matar, a serviço de Sua Majestade, 007. Roger Moore ainda sustentou o movimento bondiano que se foi arrefecendo. Confesso que hoje a ação ininterrupa de 007 - Quantum of Solace não me toca mais. Mudou 007 ou mudei eu?
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22 novembro 2008
21 novembro 2008
Entre umas, outras
O blog está de visual novo. Fiz algumas mudanças que vocês, que o visitam, já estão a observar. A foto é de Cary Grant em Intriga internacional (North by northwest, 1959), de Hitchcock, filme que tenho em alta conta e sempre o estou a revisitar, pois indiscutivelmente uma obra-prima. Fonte de todo o modelo de thriller adotado a partir da década de 60 (creio que os filmes de James Bond se inspiraram muito em North by northwest), este filme do mestre foi feito no crepúsculo dos anos 50, quando Hitch aceitou um convite da Metro. O roteiro, magistral, é de Ernest Lehman, com a partitura dissonante de Bernard Herrmann, maestro insuperável. Bem, aproveitando a imagem de Cary Grant, uma nota sobre o falecimento de Dulce Damasceno de Brito, a eterna correspondente brasileira que viveu muitos anos em Hollywood e ficou amiga de astros e estrelas do primeiro time. Era muito amiga de Carmem Miranda e esteve com ela na noite de sua morte. Este post é para falar do look novo do blog e nada mais. Apenas um registro e para aproveitar também para dizer que a imprensa brasileira ignorou olimpicamente o falecimento de Dulce. Não a conhecia. Conhecia apenas seus textos e seus livros (de alta fofocagem). Mas era pessoa de lhano trato e bom caráter pelo que ouço dizer. Não uma Louella Parsons, cruel, hipócrita e uma cobra venenosa.
"A grande marcha"
Carlos Barbosa, a respeito da foto espantosa do caminhão africano, envia-me mais duas fotos e me informa (e, com isto, informo também aos leitores deste blog) que a imagem é de um filme (cujo cartaz está ao lado) de 2006, co-produção Espanha-Alemanha, escrito e dirigido por Gerardo Olivares, intitulado The great match, A grande final, entre nós. Barbosa diz que o assistiu no Telecine Cult, ano passado. O título original é La gran final e, segundo está no IMDB, o filme é uma comédia (???)
20 novembro 2008
Lumet, aos 84 anos, mostra a sua força
É impressionante a força direcional de Sidney Lumet, que, aos 84 anos, consegue driblar todos os outros realizadores e fazer o melhor (até agora!) filme de 2008, que é, sem dúvida, este extraordinário Antes que o diabo saiba que você está morto (Before the devil knows you're dead), com um desempenho inexcedível de Phillip Seymour Hoffman e atuações brilhantes de Ethan Hawke e Albert Finney.
19 novembro 2008
Horror, Horror!!
Africanos sendo transportados com suas malas e bagagens. O mundo esqueceu a África que se encontra cada dia mais miserável. A crise que se abate no mundo é coisa muita séria e está apenas a começar, a revelar a ponta do iceberg. Não dá para saudar 2009 com um próspero ano novo a não ser por gozação pura e simples ou ironia. 2009 vai dar uma idéia mais exata da crise para aqueles que ainda pensam nas festinhas de fim de ano e estão cada vez mais saltitantes nos shoppings centers da vida. Amém! Clique na imagem para ver a extensão maior da miserabilidade do mundo.
16 novembro 2008
Tuna lança "Cascalho" em Feira de Santana
Tuna Espinheira ao lado do jornalista e crítico de cinema (ver blog: http://oliveiradimas.blogspot.com/) na sala de espera do cinema onde conseguiu lançar o seu Cascalho em Feira de Santana. Baseado em consagrado romance de Herberto Salles, trata-se de um filme genuinamente baiano, como já se falou diversas vezes aqui neste blog. O indefectível chapéu é uma peça fundamental da indumentária tunaespinheiriana. Mas para se ver melhor a imagem é bom que se dê um rápido clique nela - que abre, mais vistosa, em outra janela. Sucesso, Tunático!
Cinema Baiano (5): Cine-Theatro Guarany
Inaugurado em 1917, na Praça Castro Alves, a praça do Poeta, é um cinema acanhado, embora confortável e freqüentado pela elite baiana. Nos anos 50, sofre reforma infra-estrutural para se adaptar ao novo formato que então surge, o CinemaScope, implantando também o som estereofônico. A Fox, temendo a concorrência televisiva, decide colocar no mercado o CinemaScope, e o filme de estréia, neste processo anamórfico – tela retangular e muita larga – é O manto sagrado (The robe, 1953), de Henry Koster. Os baianos podem vê-lo, em meados do decurso dos 50, no Guarany, em noite de gala, e ficam surpresos quando Richard Burton, um de seus atores principais, ao andar do lado esquerdo para o lado direito do enquadramento, tem sua voz também a acompanhá-lo. É a novidade do stéreo que espanta àqueles acostumados à uniformidade do mono. Há um livro sobre a reforma do cinema Guarany, editado pela Construtora Norberto Odebrecht, que, esgotado, desaparece, nunca conseguindo sequer vê-lo de longe. É no Guarany também que se dá a estréia de Redenção, em 1959, de Roberto Pires, o primeiro longa metragem do cinema baiano, cuja lente, anamórfica, inventada pelo próprio diretor.
Ao contrário das salas atuais, todas iguais, os cinemas do pretérito possuem estilo, cada um com um toque diferente, uma decoração especial, e o Guarany, neste particular, é, para mim, o mais atmosférico. Antigamente, o espaço, frente a esta sala exibidora, chamava-se Largo do Teatro, porque o Guarany também tem um proscênio no qual se encenavam peças aclamadas muitas vezes oriundas do eixo Rio-São Paulo. Assim, a atmosfera do cinema começa na sua entrada, com o cheiro de seu ar condicionado. A sala de espera, um recanto para se ficar vendo os cartazes e as fotos dos filmes que vão a seguir e que em breve estão em cartaz. Além de sua sofisticada bombonière – é desse modo que todos se referiam àquele pequeno espaço onde se vendem dropes, chicletes, chocolates, com todos arrumados em filas indianas ou, mesmo, militarmente ordenados.
A sala de projeção se divide entre a platéia – lugar mais privilegiado – e um balcão, cujo acesso se faz por duas escadas laterais. Na primeira, antes do palco, um espaço para orquestra. E, de hábito naqueles bons tempos, que não voltam mais, quando o filme começa, antes que as cortinas fossem abertas, luzes coloridas se revezam enquanto se ouve um trecho de ‘O Guarany’, de Carlos Gomes. É o sinal de que a função iria se iniciar. Antes, no entanto, enquanto se espera a sessão, o gongo anunciador, a partitura musical do filme a ser apresentado é dada aos ouvidos dos presentes para uma melhor familiarização, um esquentamento, por assim dizer. Fica-se, então, a olhar os índios em fila da parede do lado direito pintados por Carybé, assim como os peixinhos enfileirados do lado esquerdo. Há, portanto, uma atmosfera especial, e o cinema estabelece-se, à maneira do teatro, como uma função.
A partir da introdução do Cinemascope todos os outros cinemas têm que se adaptar ao novo formato, mas o CinemaScope do Guarany é especial, pois o mais espetacular da província da Bahia. Nos cinemas atuais não existe mais esta atmosfera, esta preparação, este, se quiser, esquentamento, pois a tela, sem cortina, recebe o filme de repente, jogado de supetão sem nenhum aviso prévio. Mas os tempos são outros. Antes, as imagens em movimento estam confinadas apenas nas salas escuras dos cinemas, enquanto, hoje, estas podem ser vistas nos mais variados suportes. Já se chegou ao requinte de baixar filmes pela internet com uma bem razoável definição de imagem.
Walter da Silveira, em meados dos anos 60, instala o seu Clube de Cinema da Bahia no Guarany, com as sessões realizadas aos sábados pela manhã, às 10 horas. É, portanto, nesta sala, que comecei a minha formação cinematográfica, acostumado à programação do circuito cuja característica principal está no cinema de gênero americano – os westerns, os musicais, as comédias românticas, os thrillers, etc. Vim a conhecer o cinema como expressão de uma arte, o cinema de autor, vendo filmes como Hirsohima, mon amour, de Alain Resnais, Guerra e humanidade, de Masaki Kobayashi, O eclipse, de Antonioni, Morangos silvestres, de Ingmar Bergman, entre muitos e muitos outros.
De propriedade do Estado da Bahia, o Guarany é arrendado a Condor, cuja distribuição fica a cargo de Aluísio Ribeiro e a gerência administrativa, Francisco Pithon. Pressentindo a crise pela qual passava o cinema como espetáculo – superada com o toque de Mídias de George Lucas e a suas guerras nas estrelas e a descoberta do filão infanto-juvenil, quando se dá a infantilização temática que continua a infestar até hoje os produtos audiovisuais da indústria cultural hollywoodiana, a Condor resolve sair do mercado exibidor, em 1975, e transferir o arrendamento de suas salas à CIC (Cinema International Corporation) que, anos mais tarde, vem a se chamar UPI (United International Pictures). A passagem do Guarany às mãos multinacionais da CIC é motivo de protesto da associação que congrega os cineastas baianos, a qual emite uma nota furiosa, denunciando que o governo está a entregar um imóvel de seu patrimônio a uma multinacional contrária aos interesses do cinema brasileiro. Se na há engano no andamento de minha memória, assino tal protesto – é durante a administração da Embrafilme que o Guarany se tornoa Glauber Rocha, quando da morte deste que é o maior cineasta brasileiro de todos os tempos. ACM, então governador da Bahia, no dia seguinte ao falecimento do realizador de Terra em transe, assina ato determinando a mudança de seu nome.
Ao contrário das salas atuais, todas iguais, os cinemas do pretérito possuem estilo, cada um com um toque diferente, uma decoração especial, e o Guarany, neste particular, é, para mim, o mais atmosférico. Antigamente, o espaço, frente a esta sala exibidora, chamava-se Largo do Teatro, porque o Guarany também tem um proscênio no qual se encenavam peças aclamadas muitas vezes oriundas do eixo Rio-São Paulo. Assim, a atmosfera do cinema começa na sua entrada, com o cheiro de seu ar condicionado. A sala de espera, um recanto para se ficar vendo os cartazes e as fotos dos filmes que vão a seguir e que em breve estão em cartaz. Além de sua sofisticada bombonière – é desse modo que todos se referiam àquele pequeno espaço onde se vendem dropes, chicletes, chocolates, com todos arrumados em filas indianas ou, mesmo, militarmente ordenados.
A sala de projeção se divide entre a platéia – lugar mais privilegiado – e um balcão, cujo acesso se faz por duas escadas laterais. Na primeira, antes do palco, um espaço para orquestra. E, de hábito naqueles bons tempos, que não voltam mais, quando o filme começa, antes que as cortinas fossem abertas, luzes coloridas se revezam enquanto se ouve um trecho de ‘O Guarany’, de Carlos Gomes. É o sinal de que a função iria se iniciar. Antes, no entanto, enquanto se espera a sessão, o gongo anunciador, a partitura musical do filme a ser apresentado é dada aos ouvidos dos presentes para uma melhor familiarização, um esquentamento, por assim dizer. Fica-se, então, a olhar os índios em fila da parede do lado direito pintados por Carybé, assim como os peixinhos enfileirados do lado esquerdo. Há, portanto, uma atmosfera especial, e o cinema estabelece-se, à maneira do teatro, como uma função.
A partir da introdução do Cinemascope todos os outros cinemas têm que se adaptar ao novo formato, mas o CinemaScope do Guarany é especial, pois o mais espetacular da província da Bahia. Nos cinemas atuais não existe mais esta atmosfera, esta preparação, este, se quiser, esquentamento, pois a tela, sem cortina, recebe o filme de repente, jogado de supetão sem nenhum aviso prévio. Mas os tempos são outros. Antes, as imagens em movimento estam confinadas apenas nas salas escuras dos cinemas, enquanto, hoje, estas podem ser vistas nos mais variados suportes. Já se chegou ao requinte de baixar filmes pela internet com uma bem razoável definição de imagem.
Walter da Silveira, em meados dos anos 60, instala o seu Clube de Cinema da Bahia no Guarany, com as sessões realizadas aos sábados pela manhã, às 10 horas. É, portanto, nesta sala, que comecei a minha formação cinematográfica, acostumado à programação do circuito cuja característica principal está no cinema de gênero americano – os westerns, os musicais, as comédias românticas, os thrillers, etc. Vim a conhecer o cinema como expressão de uma arte, o cinema de autor, vendo filmes como Hirsohima, mon amour, de Alain Resnais, Guerra e humanidade, de Masaki Kobayashi, O eclipse, de Antonioni, Morangos silvestres, de Ingmar Bergman, entre muitos e muitos outros.
De propriedade do Estado da Bahia, o Guarany é arrendado a Condor, cuja distribuição fica a cargo de Aluísio Ribeiro e a gerência administrativa, Francisco Pithon. Pressentindo a crise pela qual passava o cinema como espetáculo – superada com o toque de Mídias de George Lucas e a suas guerras nas estrelas e a descoberta do filão infanto-juvenil, quando se dá a infantilização temática que continua a infestar até hoje os produtos audiovisuais da indústria cultural hollywoodiana, a Condor resolve sair do mercado exibidor, em 1975, e transferir o arrendamento de suas salas à CIC (Cinema International Corporation) que, anos mais tarde, vem a se chamar UPI (United International Pictures). A passagem do Guarany às mãos multinacionais da CIC é motivo de protesto da associação que congrega os cineastas baianos, a qual emite uma nota furiosa, denunciando que o governo está a entregar um imóvel de seu patrimônio a uma multinacional contrária aos interesses do cinema brasileiro. Se na há engano no andamento de minha memória, assino tal protesto – é durante a administração da Embrafilme que o Guarany se tornoa Glauber Rocha, quando da morte deste que é o maior cineasta brasileiro de todos os tempos. ACM, então governador da Bahia, no dia seguinte ao falecimento do realizador de Terra em transe, assina ato determinando a mudança de seu nome.
Com a decadência galopante do centro histórico da cidade, e a abertura das avenidas de vale e, principalmente, a construção dos shoppings centers, os cinemas do centro entram em decadência. A CIC não se interessa em renovar o contrato. Existe, nesta época, 1980, toda poderosa, a Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes S/A), que, com sucursal bem montada em Salvador, assina contrato com o Estado para entrar no mercado exibidor. Iniciativa pioneira em todo o Brasil, porque a Embrafilme se restringe à produção e distribuição de filmes brasileiros. Neste período, em 1982, uma Jornada foi toda concentrada nesse cinema, com grande êxito, aliás. O Guarany passa a ser administrado por esta empresa e vem daí, talvez, sua decadência. Luis Carlos Barreto praticamente mandava na programação do cinema, determinando que filmes produzidos por sua empresa ficassem semanas e semanas em cartaz, mesmo que vistos por moscas. O Guarany de meus tempos tem perdida, paulatinamente, a sua aura.
Em 1985, mais ou menos, a Embrafilme, cansada de tanto insucesso, entrega o cinema ao Estado e este, novamente, resolve fazer uma licitação para arrendá-lo. A Art ganha, mas, pelo menos, era uma companhia brasileira importadora de filme e também exibidora. Mas desfigura o projeto original com uma reforma oportunista. Não diria que é a Art quem leva o Guarany à sepultura, mas é na gerência desta empresa que o Guarany fecha suas portas.
E a lembrança do Guarany leva, necessariamente, à lembrança do Bar e Restaurante Cacique, lugar ideal para uma cerveja gelada a las cinco de la tarde, após uma matinée.
Em 1985, mais ou menos, a Embrafilme, cansada de tanto insucesso, entrega o cinema ao Estado e este, novamente, resolve fazer uma licitação para arrendá-lo. A Art ganha, mas, pelo menos, era uma companhia brasileira importadora de filme e também exibidora. Mas desfigura o projeto original com uma reforma oportunista. Não diria que é a Art quem leva o Guarany à sepultura, mas é na gerência desta empresa que o Guarany fecha suas portas.
E a lembrança do Guarany leva, necessariamente, à lembrança do Bar e Restaurante Cacique, lugar ideal para uma cerveja gelada a las cinco de la tarde, após uma matinée.
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