É um canal que sempre vejo, o Canal Brasil (Net/Sky, 66), que completa,
neste 2009, dez anos de existência. Neste período, funcionou como uma
verdadeira cinemateca de filmes brasileiros: as antigas chanchadas puderam
ser revistas, algumas obras de Vera Cruz, o Cinema Novo, o Marginal (ou
underground), assim como as pornochanchadas e o chamado cinema da retomada.
E mostrou certas fitas que nunca foram lançadas comercialmente e que tiveram
sua primeira chance neste canal. Que patrocina a realização de curtas e
seleciona outros para a sua grade programativa. Além de seus programas
especiais, a exemplo do de Domingos Oliveira (que quando terminou Todas as
mulheres do mundo, mudou para Todas os homens do mundo, com sua esposa como
apresentadora, Priscila Rozenbaum e, agora, vai lançar Swing), Lázaro Ramos
(Espelho), Paulo César Pereio (Sem frescura - Pereio, ícone do cinema
brasileiro, em seu programa precisa deixar que os convidados possam falar
porque ele parece querer falar o tempo todo, o que, além de deixar mal o
convidado, torna o programa inaudível), Estúdio 66 (de Roberto Silveira,
excelente instrumentista), Tudo é verdade (comandado pelo crítico Amir
Labaki, que alia a sua competência habitual à seleção de excelentes
documentários), Retalhão (o problema deste é a risada escandalosa de Zé
Britto dada a todo momento e sem qualquer justificação - que irrita), Tirando do baú (cuidadosa investigação sobre importantes filmes brasileiros comandada por Jorge Furtado com excelentes análises do crítico Carlos Alberto de Mattos), o excelente Cinejornal dos sábados apresentado pela simpatia e correção da bela Simone Zuccolato) entre
outros.
Se o Canal Brasil deve ser parabenizado pelos seus dez anos de existência,
por outro lado a crítica construtiva também se faz necessária. O fato é que
o referido canal, na ânsia de se fazer mais popular, fez cair muito a sua
qualidade. Os clipes musicais (alguns insuportáveis) dominam o horário
vespertino, assim também como a maratona (o título é adequado) de curtas metragens. Claro que os
curtas devem ser exibidos, mas não numa maratona. A estratégia programativa
visa justamente atrair um público mais ligeiro, mais videoclipado, e o filme
de pequena duração é, segundo os programadores, mais adequados. Resultado:
os de longa metragem são programados em horários inconvenientes, a
exemplo da recente retrospectiva em homenagem a Rogério Sganzerla e a
anunciada mostra de Joaquim Pedro de Andrade (importante realizador
brasileiro, autor, entre outros, de Macunaíma - que vai passar em cópia
restaurada e luminosa, e o excelente, mas pouco visto, Guerra conjugal,
baseado em contos do genial Dalton Trevissan). Apesar de já conhecer os
filmes de Sganzerla, gostaria de tê-los revistos, mas o horário fica mais a
cargo de Morfeu.
Os retratos brasileiros estão mais raros. E seriam mais interessantes do que
estes convencionais clipes musicais. Espero que a queda não se acentue,
porque ainda espero poder comemorar os 15 anos do Canal Brasil. Mas, a
julgar pelos que estão a programar, está ficando cada vez mais difícil.
P.S: O Canal Brasil está a apresentar toda semana um episódio da série televisiva O vigilante rodoviário, que vi, ainda menino, em inícios dos anos 60. Nesta época, os seriados americanos dominavam a programação (Kid Carlson, Alfred Hitchcock apresenta... Danger Man, Jet Jackson, O menino do circo, I love Lucy, O fugitivo, O prisioneiro [com Patrick MacGoohan], Jornada nas estrelas, The man from U.N.C.L.E [com Robert Vaughan e David MacCallum], Maverick, O homem de Virgínia, Run for your life, [com Ben Gazarra], A feiticeira, entre tantas outros) e, à primeira vista, seria difícil que um seriado made in Brazil pudesse fazer sucesso. Mas O vigilante rodoviário surpreendeu a gregos e troianos, constituindo-se num êxito surpreendente. No dia em que passava um episódio do vigilante, todos acorriam para vê-lo na televisão ainda preto e branca, luz apagada nas salas, o foco de luz do vídeo a dominar o ambiente. Lembro-me que, aqui na Bahia, Carlos Miranda, o ator que interpreta o vigilante esteve em Salvador para fazer uma apresentação no Ginásio Antonio Balbino - junto ao estádio da Fonte Nova. A confusão para se ter acesso ao espetáculo, imensa. Mas que se limitou a uma apresentação simples, com Carlos Miranda a fazer evoluções, com um bambolê na mão, em torno do famoso cachorro Lobo.