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04 fevereiro 2009

Os melhores filmes de Moniz Vianna

As listas que se seguem foram retiradas da extinta revista Filme/Cultura 7 (outubro/novembro de 1967), que promoveu, entre os principais críticos brasileiros, duas enquetes a respeito dos melhores filmes de todos os tempos e os melhores brasileiros. Há 42 anos, portanto. Moniz Vianna, que se aposentaria da crítica 6 anos depois, em 1973, não creio que tivesse muitas modificações a fazer, a considerar que após a sua ex-abrupta saída do Correio da Manhã deixou de acompanhar os lançamentos e, com o passar do tempo, quase que abandonou a ida aos cinemas não fosse para levar o neto, Eduardo Moniz Vianna, o responsável pela autorização para a publicação de seus escritos em Um filme por dia, coletânea organizada por Ruy Castro, que levou alguns anos em tentativas infrutíferas para o grande crítico dar seus escritos à publicação. Moniz Vianna tinha admiração por John Ford, a ponto de, quando este morreu, em 1973, tomasse a decisão de se retirar do batente crítico. Não é de admirar, pois na sua lista dos 20 melhores da história do cinema, 5 são de autoria do realizador de Rastros de ódio (embora este não conste). Na relação dos filmes nacionais, vale destacar a inclusão de Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, que Moniz soube-lhe reconhecer os méritos inegáveis. A crítica que feriu Glauber foi a de Terra em transe. Mas vamos ver as listas.

OS 20 MELHORES DE TODOS OS TEMPOS
1) Aurora (Sunrise, 1927), de Friedrich Wilhelm Murnau
2) O delator (The informer, 1935), de John Ford
3) Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles
4) No tempo das diligências (Stagecoach, 1939), de John Ford
5) Punhos de campeão (The set up, 1949), de Robert Wise
6) Intolerância (Intolerance, 1916), de David Wark Griffith
7) Depois do vendaval (The quiet man, 1952), de John Ford
8) M, O vampiro de Dusseldorf (1930), de Fritz Lang
9) Soberba (The magnificent Ambersons, 1942), de Orson Welles
10) O martírio de Joana D'Arc (La passion de Jeanne D'Arc, 1928), de Carl Theodor Dreyer
11) A doce vida (La dolce vita, 1960), de Federico Fellini
12) A última gargalhada (Der letzte mann, 1925), de Murnau
13) Le million (1930), de René Clair
14) Consciências mortas (The Ox-Bow incident, 1943), de William A. Wellman
15) O homem que matou o facínora (The man who shot Liberty Valance, 1962), de John Ford
16) 8 e 1/2 (Otto e mezzo, 1963), de Federico Fellini
17) O tesouro de Sierra Madre (The treasure of Sierra Madre, 1948), de John Huston
18) Matar ou morrer (High noon, 1953), de Fred Zinnemann
19) O sol brilha na imensidade (The sun shines bright, 1953), de John Ford
20) Morangos silvestres (Smulstronstallet, 1957), de Ingmar Bergman

OS 10 MELHORES FILMES BRASILEIROS
1) O cangaceiro (1953), de Lima Barreto
2) Noite vazia (1964), de Walter Hugo Khoury
3) Amei um bicheiro (1953), de Jorge Ileli
4) Todas as mulheres do mundo (1966), de Domingos Oliveira
5) Ravina (1957), de Rubem Biáfora
6) O pagador de promessas (1962), de Anselmo Duarte
7) Mulheres&Milhões (1961), de Jorge Ileli
8) Ganga Bruta (1932), de Humberto Mauro
9) O corpo ardente (1966), de Walter Hugo Khoury
10Deus e o diabo na terra do sol (1964), de Glauber Rocha

8 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Vai aqui um breve (e humilde) comentário sobre a lista do Mestre Moniz Vianna.
“Aurora” de Murnau, é um filme que nunca assisti. Falha técnica, pois não somente para Moniz Vianna, como para muitos ‘experts’ é considerado um grande filme.
“O delator” é irretocável. Acho que vimos aí na Bahia. Ou estou enganado? De qualquer maneira o assisti mais de uma vez.
“Cidadão Kane”. Sem comentários. Muitos (e eu estou neste coro) o consideram o melhor filme de todos os tempos.
“No tempo das diligências”. Puta dum filme. Mas, considero “Rastros de ódio” tão ou mais importante do que ele. Discordo do mestre neste sentido por nem te-lo incluído nesta listagem.
“Punhos de campeão”. Pouco me lembro deste filme…
“Intolerância” é uma obra prima de Griffith. Claro que se abstraindo o seu conteúdo num exercício de grande desprendimento, quase que um distanciamento ‘brechtiano’.
“Depois do vendaval”. Um John Ford poético!
“M, O vampiro de Dusseldorf “. Lang em seu clímax de perfeição como realizador.
“Soberba”. Orson Welles é Orson Welles. E ponto final.
“O martírio de Joana D'Arc”. Poucas vezes um martírio foi transmitido com tanto realismo em sua dramaticidade quanto nas expressões de Falcontete sob a direção de Dreyer.
“A doce vida”. Juro que sempre achei a melhor obra de Fellini, apesar de 8 e ½. Páreo duro, mas cheguei a esta conclusão depois dos cinqüenta.
“A última gargalhada”. Mais um de Murnau que eu nunca assisti!!! Quê que eu tenho de errado?
“Le million”. Também não me lembro deste filme de René Clair (???).
“Consciências mortas”. Ai, a coisa está ficando feia, porque não me lembro de ter assitido este também.
“O homem que matou o facínora”. Mais um John Ford que passou pra História. Com “H” maiúsculo.
“8 e ½” . Bom demais. O duro é que “A doce vida” também é. Foi sempre duro para mim saber qual o melhor. Mas ele tem o seu lugar assegurado.
“O tesouro de Sierra Madre”. Um indiscutível e genial John Huston. É Jonh Huston!!!
“Matar ou morrer”. Poucas vezes um clima de suspense tão intenso quanto neste western.
“O sol brilha na imensidade”. Tudo que é de John Ford é memorável.
“Morangos silvestres”. Poucas vezes pudemos assistir uma obra tão completa quanto esta de Bergman. A primeira vez que a vi, ainda muito novo, sai embasbacado do cinema. Daí em diante, cada vez que a vejo descubro algo novo...

André Setaro disse...

Comentário pertinente que revela o cinéfilo que você sempre foi. Também colocaria, entre meus vinte melhores (nunca fiz tal lista), "Rastros de ódio". "Aurora" é uma beleza. Mas Moniz Vianna se esqueceu (ou não gostava) de Luchino Visconti. "Rocco e seus irmãos' é um filme essencial. Mas toda lista é uma questão subjetiva que tem de ser respeitada. Numa hipotética minha lista, colocaria "Os melhores anos de nossa vida" (1946), de William Wyler, "Hiroshima, mon amour" e outro Resnais (acho Resnais a essência do cinema). Colocaria também "Acossado", de Godard, é uma referência, uma "marca" que registrou um tempo, uma onda e uma era. Incluiria "Assim estava escrito" ("The bad and the beautiful"), de Vincente Minnelli, dois hitchcocks, etc, etc. Vou parar porque acabo fazendo uma lista e omitindo grandes filmes, assim de memória e no afogadilho da pressa desse comentário. Concordo que o melhor Bergman é mesmo "Morangos", mas há outros dele fantásticos.

"The informer" envelheceu na minha humilde e modesta opinião. "Audazes e malditos", de Ford, é um grande filme, aliás como quase todos desse Homero do cinema.

Jonga Olivieri disse...

Você tem toda razão.
Envolvido pela lista não observei a falta de Visconti, Hitch e Resnais. "Ano passado em Marienbad" é um filme que teria que estar numa lista assim.
Mas, você falou com maita propriedade devemos respeita-la. Há falhas, há lapsos, e, afinal, errar é humano.
O importante é que nada disto abale a memória de um crítico pelo qual tenho o maior respeito.
E... quem sabe... segundo Isadora, sua filha "o inventor da crítica de cinema no Brasil" (sic)

Jonga Olivieri disse...

Quanto aos filmes nacionais. Considero “Deus e o diabo...” o melhor da lista. É páreo duro com “Terra em transe”, mas, como no caso de Fellini, difícil desempatar...
“Noite vazia” e “Corpo ardente” de Khoury, sem dúvida filmes importantes. “Ganga bruta” é uma obra-prima, e, apesar do tempo um filme que marcou época em nível de linguagem. Todos os demais, excelentes. Vi “Mulheres & milhões”, de Jorge Ileli, uma boa trama policial no rastro de “Rififi” com Norma Bengell (ainda bonita e mulher) quando passou, mas não me esqueço daquele filme. Vê, tem tantos anos, tantas décadas.
Faltam alguns, a exemplo do que colocaste quanto à lista de filmes estrangeiros. “Vidas secas” é um deles. “Rio, zona norte” é outro...

André Setaro disse...

Nada a dizer sobre a lista de São Moniz Vianna. Lista é coisa pessoal. No meu caso, entre os brasileiros, os dois de Glauber, 'Deus e o diabo' e 'Terra em transe' fazem parte, assim como 'Todas as mulheres do mundo'.Gosto muitíssimo de 'São Paulo S/A', de Luis Sérgio Person, que, revisto há pouco tempo em DVD, conserva todo o impacto de seu lançamento em 66 por aí. 'Os fuzis', de Ruy Guerra, é outra obra impactante. Colocaria, ao invés de 'O pagador de promessas', 'Absolutamente certo', de Anselmo Duarte. E um Manga: 'O homem do sputnick'. 'Vidas secas' tem cadeira cativa. Mas não estou aqui, neste comentário, a fazer lista, mas comentando 'en passant'.

Anônimo disse...

Em 1948, ao voltar de Hollywood, Alex Viany em parceria com Vinícius de Moraes (conheceram-se pouco antes, em Los Angeles, Viany correspondente de "O Cruzeiro" e Vinícius, diplomata) cria a revista "Film", que, em que pese o objetivo longínquo, por falta de anunciantes chegou apenas até o segundo número. Foi, todavia, importante veículo do pensamento sobre a cinematografia de então. Moniz vianna foi um dos grandes colaboradores da revista.

Em tempo: No último dia 30, foi apresentado o arquivo Alex Viany, totalmente higienizado e catalogado, que hoje compõe o acervo da Cinemateca do MAM. Betina Viany, coordenadora do projeto, acompanhou o ato que também marcou o lançamento do site (http://www.alexviany.com.br/) onde é possível acessar diversos arquivos do acervo. Na ocasião foi projetado o curta-metragem "Ana", de Viany, rodado em 1953 como documentário para a TV alemã. Estive presente e pude dar um abraço caloroso em Vanja Orico, atriz que fez o curta e que também se encontrava presente.
Grande Abraço.

Allex Rocha disse...

Fazer uma lista sobre os melhores filmes atravessa o campo da subjetividade de cada um, mas não podemos deixar de participar desse debate. Acredito que através dos diretores temos um marco a seguir. Nesse aspecto, cito alguns em ordem aleatória, muitos que foram apontados eu também preciso ver, mas a educação é dialética e contínua, por isso a completude. Filmes: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro e os que já foram citados de Glauber. Defendo esse filme pela sua composição e intenção. Glauber passou brasilidade nesse filme; temas que são debatidos até os dias de hoje. Sem falar na fotografia, roteiro, atuações, desafios tecnológicos para época, enfim: Obra prima do nosso cinema, financiado, em parte pelos gauleses. “Quem descobriu o Brasil”?” “ E a morte de Lampião?” Outros: Cleópatra, de Bressane, Noites em Cabrília, de Felini, O Evangelho Segundo São Matheus, de Pasoline, Pulp Fiction, de Tarantino, A Última Tentação de Cristo , de Martin Scoserce, O Escorpião de Jade e Dirigindo no Escuro, de W. Allen – E outros desse gênio – Beleza Americana, de Sam Mendes, Do Outro Lado, de Fatih Akin – Temos que valorizar esse rapaz! Muito bom! O Silêncio dos Inocentes, de Jonathan Demme, Morangos Silvestres, O Sétimo Selo, de Bergman, Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, Quanto Vale ou é Por Quilo, de Bianchi, Boca de Ouro, de Nelson Pereira e as suas obras, O Bebê de Rosimere, de Polansky, Má Educação, de Almodóvar, Orson Welles é Orson Welles...Ladrões de Bicicleta, de Vittorio De Sica, W. Wenders, Paris Texas, Antonioni, Profissão: Repórter, Rosselini e suas obras, Laranja Mecânica, de Kubrick...Bem, tem muitos outros, também não vou fazer a minha lista, mas esses são alguns que considero meritórios de destaques. Podemos avançar muito mais nessa listagem coletiva. Uns pontos que acho pertinente é olharmos a estética, a história e a escola de cada uma dessas produções. Abraços.

Alexandre disse...

Fico feliz em ter visto quase todos os 20 filmes da lista do grande Antonio Moniz Vianna. Ainda tenho 19 anos, então ainda tenho muito tempo pra conferir todos, se tudo ocorrer na normalidade da vida, hehe. Fiquei surpreso pela presença de Punhos de um Campeão; e O Delator ainda é uma obra-prima, um lindo filme; e Aurora, bom, não tenho muito o que dizer: também considero um dos dez melhores que já vi, uma obra de arte completa.