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10 dezembro 2008

Clube de Cinema da Bahia redivivo

Guido Araújo ri de contentamento com a ressurreição do Clube de Cinema da Bahia, que, desativado desde 1990, há, portanto, 18 anos, vai voltar a funcionar. Para quem não sabe, o Clube, fundado em 1950, à frente Walter da Silveira, foi responsável pela formação de muitos realizadores, críticos e amantes do cinema, entre os quais o internacional Glauber Rocha, que começou a entender Eisenstein pelas mãos de Walter da Silveira. Com a morte deste, em novembro de 1970, aos 55 anos, o Clube ficou sob a responsabilidade de Guido Araújo, que deslocou a sua programação para o extinto cinema Rio Vermelho e os jardins do Instituto Goethe, com a inauguração do Cinerante (cinema + restaurante), cuja denominação tem seus direitos autorais em nome do próprio Guido ou de Roland Schaffer (que era, na ocasião, início da década de 70, o diretor do Goethe/Icba). Espaço quase consular, o Goethe virou point dos universitários e dos amantes da arte (não somente o cinema tinha pouso neste instituto alemão, mas também todas as artes em geral), chegando, inclusive, a dar origem ao vocábulo icbano para denominar todo aquele que era um habituée de suas programações culturais.
Pouco depois de receber o importante Prêmio Roberto Rossellini, concedido pelo Festival de Cinema de Maiori (cidade da costa Amalfina, onde Rossellini realizou vários de seus filmes - L'amore, Paisà), na Itália, como organizador da Jornada Internacional de Cinema da Bahia, agora em outubro último, Guido Araújo é contemplado com o Troféu Paulo Emílio Salles Gomes concedido pelo Conselho Nacional de Cineclubes no momento em que, neste ano, o movimento cineclubista completa 80 anos de atividades no Brasil.
O fato é que o Clube de Cinema da Bahia vai voltar às suas atividades. Recebi de Guido Araújo uma mensagem na qual convoca todos os amigos cineclubistas baianos para uma assembléia na próxima sexta, dia 12. Eis um trecho dela: "estamos convidando os amigos e ex-sócios do Clube de Cinema da Bahia de outras épocas, para que, juntos, possamos em Assembléia, reerguer o CCB, já com estatutos adequados aos tempos atuais. A data agendada para o reencontro dos amigos do CCB, será no próximo dia 12 de dezembro, sexta feira, a partir das 17 horas, sala 05 do ICBA, no emblemático espaço do Instituto Goethe, que sempre esteve ao lado das promoções cinematográficas dos cineclubistas baianos e da Jornada de Cinema da Bahia."

6 comentários:

Jonga Olivieri disse...

meu caro Professor Setaro,
Por seu intermédio, os meus parabéns a Guido... e os meus parabéns a você também, cujo interesse e impulso ao cinema baiano (cuíca) brasileiro é indiscutível.
Fiquei feliz com a notícia. senti --no âmago de sua essência-- um clima de reerguimento da mentalidade progressista do cinema baiano daqueles tempos. Afinal, antes de Glauber não se sabia de Glauber. E, antes do futuro que se aproxima já aténão se conhecem alguns nomes que têm surgido e a gente observa a cinematografia desta "boa terra" se reafirmando. Ou tentando fazê-lo.
Meus votos de um sucesso enorme nesta nova empreitada.
Deste filho da Bahia (embora longe dela),
Jonga Olivieri

André Setaro disse...

Lembro-me que você conheceu o Clube de Cinema da Bahia quando as sessões eram no cinema Guarany aos sábados pela manhã. Em 1967, reformado o Popular, que era um 'poeira', surgiu o Cinema de Arte da Bahia, que Walter da Silveira pensou em transformar no 'Paissandú' baiano. O filme de estréia foi 'Terra em transe', de Glauber Rocha, que ficou duas semanas em cartaz. Mas recordo-me também que, uma vez, você conversou com o grande crítico baiano, quando da exibição de 'Uma lição de amor', de Ingmar Bergman, que você disse a ele não ter gostado. Walter ficou estupefato porque admirava muito o filme.

Anônimo disse...

Setaro, o nosso Guido ri não à toa. Achei interessane a sincronia da data, 12 de dezembro, e o horário vespertino coincidindo com a fundação da nossa Academia Paraibana de Cinema. Como não acredito em casualidade, mas em causalidade, vejo nessa convergencia um grande momento para o cinema( e cinéfilos)em nossa região. Gostaria de estar aí engrossando as fileiras dessa verdadeira Academia Baiana de Cinema.

André Setaro disse...

Vou sugerir a criação de uma Academia Baiana de Cinema. Aliás, já fiz pequena sugestão nesse sentido numa postagem sobre o mapeamento da filmografia baiana. Você, agora, imortal, passa a outra condição existencial, porque a imortalidade difere da mortalidade. Mas você incorreu em erro, desculpe lhe dizer, considerando que você é uma espécie de 'papai sabe tudo' do cinema. 'Ontem, hoje e amanhã', em cópia DVD não se encontra no formato original, que é cinemascope, e soube também que as legendas estão ilegíveis. Vittorio DeSica, que realizou algumas obras primas (entre elas, 'Ladrões de bicicleta' e 'Umberto D') atravessa, nos anos 60, uma fase muito comercial, a realizar comédias de encomenda como '7 vezes mulher', com a grande Shirley MacLaine, 'pau para toda a obra', em fita de episódios fraquinha, quase tuberculosa. Lembro-me também de 'Toureiro sem sorte', com Peter Sellers. Mas há poesia em 'Um lugar para os amantes ' e mesmo no melodrama castigado pela crítica chamado 'I girassoli', com, novamente, Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Revi recentemente, porque quando vi no cinema tinha gostado muito, 'Matrimonio à italiana', mas não senti o mesmo entusiasmo, o filme parece que envelheceu. E filme quando envelhece não é como o vinho, que quanto mais velho, melhor.

Anônimo disse...

Você tem razão, na verdade o scope é apenas nos créditos dos episódios, quando começa mesmo a janela "abre" para o 4 x 3 da Tv. As legendas não achei muito ruim. Quanto ao envelhecimento dos filmes citados concordo com você mas faço uma ressalva: é nos filmes velhos que a bela Sofia está mais jovem e isso paga o ingresso, não ?
No mais, apoio integralmente sua idéia para a criação da Academia Baiana, vão em frente !

Anônimo disse...

Icbano, eu era um e nao sabia. Ja fumei alguns baseados nos fundos do ICBA. Mais uma expressao da falta de opcoes dessa perversa metropole provinciana.