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09 janeiro 2008

Preparador de elenco. O que é isso?



Creio de uma inutilidade hercúlea a existência de um preparador de elenco para a direção de atores nos filmes brasileiros (ou estrangeiros) como atualmente virou um modismo. Estou até com um certo desconfiômetro quando vou ver um filme que tem seu elenco preparado por fulano ou sicrano. Segundo leio e ouço falar, na preparação do elenco há uma verdadeira sessão de psicanálise e os atores sofrem o pão que o diabo amassou. Em alguns casos, chega-se à tortura chinesa. Um bom diretor tem que saber dirigir seus atores. É o contato diretor-ator que estabelece as nuances interpretativas, salvo se o cineasta é um incompetente. Aliás, no cinema brasileiro, são poucos os realizadores que possuem familiaridade com a dramaturgia e, por isso, contratam um preparador, que faz lembrar aqueles preparadores de lutas radicais. Aqui vai o meu protesto contra esta preparação de elenco. Mas qualquer realizador tem a sua liberdade. Se despreparado, que tenha, como muleta, o tal preparador. Mas tudo, na minha opinião, não passa de grande falácia.

15 comentários:

Anônimo disse...

Caro André, estou de acordo com sua perplexidade diante dessa falácia que se estabelece no tal cinema da retomada. Outro dia ví um curta e na ficha técnica tinha "diretor técnico", "diretor cênico", "diretor de imagem", "diretor geral". Que danado quer dizer isso ?
Seguindo a onda tem festival por aí com "júri técnico", "júri artístico", "júri de diálogos", "júri de interpretação" e por aí vai.
Eu acredito na máxima que diz: "Quanto menos tem a se dizer, mais se fala".

Anônimo disse...

Ei, Setaro. No último Cine PE, em Recife, no ano passado, um jornalista perguntou ao Leonardo Medeiros (um dos nossos grandes atores brasileiros) se ele tinha se submetido ao preparador de elenco contratado por Philippe Barcinski em "Não por Acaso". Leonardo deu de ombros e apenas disse "eu não considero ser necessário um preparador de elenco. Essa é minha opinião, então não fiz. Agora, se alguém sente necessidade disso, vá em frente. Mas eu não participo".

Falou e disse um cara que entende.

André Renato disse...

No Brasil, parece que são poucos diretores mesmo que têm familiaridade com o trabalho do ator, particularmente com a atuação específica para cinema. Cansei de ver filmes cheios daquela afetação teatral ou televisiva, ou simplesmente com atuações duras, não-naturais. Nos trabalhos universitários de cinema de que já participei, é difícil encontrar alguém que saiba ou sequer que se preocupe em dirigir de verdade os atores. O contato diretor-ator de que falaste é tudo mesmo!... Abraço!

Anônimo disse...

Se voce reclama do preparador de elenco, imagine a criação em forma de oficina, como alguns filmes do recente cinema baiano foram feitos. Me traz excelentes recordacoes das criacoes coletivas da decada de '70.

André Setaro disse...

Nada tenho contra esta figura moderna do 'preparador de elenco'. Mas a vejo como uma excrescência no processo de criação cinematográfica. É apenas uma opinião. Acredito que não tenha valor nenhum, mas tem seus defensores radicais, que o consideram o 'avatar' para se atingir grandes interpretações. E sinto-me na vontade de ser um pouco grosso: preparador de elenco e merda é a mesma coisa. Já ouvi testemunhos do imenso sacrifício ao qual são submetidos atores importantes e alguns desses preparadores muitas vezes aplicam métodos sado-masoquistas. Ainda bem que não sou ator, porque poderia ser perseguido por eles depois que 'postei' este desabafo. As pessoas vivem muito em torno de modismo e 'novidades'. É preciso se acabar com isso. Domingo passado, no programa de Marília Gabriela, GNT, Selton Mello disse à entrevistadora que não acredita em preparador de elenco. Mello, que faz um excelente programa no Canal Brasil, "Tarja Preta", acabou de dirigir o seu primeiro longa, "Feliz Natal", e falou a Marília da importância que existe na relação diretor-ator. Pensei agora em Ingmar Bergman e em seu trabalho de construir os seus personagens no contato 'tête-a-tête' com os seus intérpretes. Um filme que tenha preparador de elenco não deveria captar recursos nem receber qualquer tipo de financiamento.

Cassiano Mendes disse...

Concordo com André Setaro sobre a grande falácia modernosa que é a instituição do preparador de elenco. Até que ponto chegamos? O filme brasileiro vive no atoleiro da captação de recursos e os roteiros precisam se moldar aos 'gostos' das empresas para que possam ser financiados. O preparador de elenco, e já sofri em mãos de um, sádico imenso, é, nas palavras de Setaro, uma excrescência. Filme que saiba que tem preparador de elenco eu não vou ver de jeito nenhum. Soube de uma moça bonita que, convidada a inteirar o 'cast' de um filme brasileiro, em mãos de uma preparadora (sim, era mulher) de elenco, ficou três meses num hospital com as pernas quebradas. Aconteceu de, numa dessas 'sessões preparatórias, a 'comandante' do elenco fê-la subir num muro alto e ela, em súbita tontura, caiu deste e ficou estatelada no chão com as pernas quebradas e, num delas, com o fêmur partido. Não, não vou dizer qual foi o filme. Muita gente já sabe dessa história cruel.

Alessandra disse...

Interessante é que nunca tinha ouvido falar de preparador de elenco. Que coisa mais absurda! O que o preparador faz? Dirigir os atores, acho, é tarefa do diretor. Já pensaram Antonioni a dirigir A Aventura com um preparador sadomasoquista a encher o saco de Gabrielle Ferzetti e Monica Vitti? Ou a querer psicanalizar esta, com jargão psicanalítico modista, como é corrente nos dias atuais? A solicitar à bela italiana que regresse à infância para fazer emergir seus traumas? Impensável. E um preparador de elenco para John Ford? Deixei-me soltar, aqui, uns frouxos de riso que é bom para disopilar o fígado. O blog de Setaro se caracteriza pelo humor ácido, não se deixa contaminar pela mediocridade ululante. Quero parabenizá-lo.

Saymon Nascimento disse...

Setaro, seria mais honesto se o tal preparador recebesse um crédito de co-direção. Se um diretor não trabalha com os atores, faz o quê? É só um guarda de trânsito?

Mas, enfim, o importante é o resultado. Vários filmes que têm o preparador são muito bons.

E o sado-masoquismo com atores é do tempo de Dreyer, em O Martírio de Joana D'Arc. Só que, ali, era o diretor que dirigia tudo, e o resultado foi maior do que quase tudo que o cinema já produziu.

Lars von Trier quase matou (e foi morto) por Bjork em Dançando no Escuro, e maltratou a pobre Nicole Kidman em Dogville. O resultado fala mais alto...

Anônimo disse...

Setaro, a contimnuar assim, em breve aquele letreiro obrigatório em certos filmes vai ser ampliado e leremos: "Nenhum animal foi maltratado nesse filme, exceto os atores"

Jonga Olivieri disse...

Sempre existiram grandes diretores cujo principal foco não eram os atores.
É uma arte à parte a direção de atores num filme, e, por vezes assistimos desastres irreparáveis em excelentes produções. Justo porque o ator não sentindo segurança na direção (dos atores), titubeia.
A existência desse apoio aos realizadores que têm a auto-crítica de não ter a habilidade de conduzir seus intérpretes, creio ser um recurso válido.
Nem todos podem ser tudo ao mesmo tempo... e, obviamente a interpretação é fundamental em um filme.

André Setaro disse...

Meu Caro Jonga,

Um diretor de cinema que trabalha com a ficção tem de, necessariamente, saber dirigir seus atores. O contato ator-diretor é fundamental. Vejam os casos de Lars Von Trier com Bjork, entre outros, Dreyer com Falconetti, Walter Hugo Khoury com suas atrizes, entre tantos. O preparador de elenco é um modismo que foi introduzido há alguns anos e considero uma 'aberratio' no processo de criação do cinema. Não se pode ser conivente com as tantas bogagens que estão a se impor sobre o rótulo de 'avançado'. É tudo uma farsa. Digo e repito. De agora em diante vou verificar se determinado filme tem preparador de elenco. Em caso afirmativo, não vou vê-lo.

Anônimo disse...

Opa, entrei como anônimo porque não sei mexer direito nessas coisas.
Um amigo meu me indicou essa troca de idéias, uma vez que também sou a favor do relacionamento diretor-ator. No meu primeiro curta universitário, devido a minha inexperiência, tive que recorrer ao preparador e senti que fui negligente.
Depois disso, comecei a estudar técnicas de interpretação e de direção de atores. Dos professores mais antigos, prefiro o trabalho do Sanford Meisner e da Stella Adler (ambos alunos do Stanislavsky); entre os mais recentes, David Mamet e Judith Weston.
Agora, no meu filme de graduação (em processo de montagem), trabalhei sozinho com os atores e foi muito recompensador.
Gostaria de saber quem mais aqui é cineasta (estudante ou não) e quais métodos aplica na direção de atores.

Paulo Marcelo (São Paulo - SP)

Unknown disse...

entrei akisó pra fazer pesquisa

Gabriel disse...

Olha eu nao sou contra a preparaçao de elenco nao, no teatro o preparador de elenco é um papel muito importante agora no cinema acho que nao tem necessidade, pois para fazer um filme claro que vao contratar atores bons que tenham uma certa experiencia.Para nós do teatro ele é muito importante pois em cenas de choro que tenha que fazer caras e bocas ele nos prepara e nos dar dicas como fazer naquela cena como fazer naquela outra cena e ele ajuda muito o diretor. O diretor quer assim o preparador de elenco nos prepara para isso que o diretor quer, muitas vezes o diretor nao tem nenhuma experiencia quer desse jeito daquele outro mais nao sabe na verdade como fazer e sim o preparador sabe fazer, entao resumindo o preparador passa tudo pra gente o que tem que fazer agora depois, cinema é horrivel nao tem necessidade cinema sim sou contra ao preparador de elenco e no cinema eles puxam mais, sao agrestes

Anônimo disse...

assusta me tanta prevenção. Felizmente vejo cinema, teatro e até TV (por que não?) como formas artísticas diversas e, sinceramente prefiro as bem acabadas. Vejo o preparador como alguém com olhar, alguém com sensibilidade, experiência e competência e que muitas vezes, num mundinho de carinha bonitas, consegue tirar água de pedra e que quando tem a sorte e o prazer de pegar um ator/atriz sensível pode fazer a diferença. Já virou folclore essa estória de tortura, quem ama arte de verdade se joga!