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27 janeiro 2008

Filme baiano é seqüestrado pelo produtor



A confusão está armada. Em 2005, o realizador baiano José Umberto Dias ganhou concurso de roteiros do Minc com Revoada, filme que tenta resgatar o cangaço no cinema brasileiro através da fuga de cangaceiros do bando da Lampião após a morte de seu chefe.

Revoada assinala a segunda incursão longametragista de José Umberto, cujo primeiro filme de longa duração, O anjo negro, data de 1973, há, portanto, 35 anos que espera uma segunda chance para poder se expressar pelas imagens em movimento de maneira mais efetiva e profissional. Nunca deixou, no entanto, de fazer filmes, a registrar, em sua carreira, iniciada em 1967, com Perâmbulo, e com destaque maior em Vôo interrompido (1969), média metragem que se considera o primeiro filme realmente marginal baiano, uma incursão por todas as bitolas. Quando do boom superoitista, realizou, entre outros, Urubú e Brabeza, a obter prêmios em festivais nacionais. O cangaço sempre esteve nas suas cogitações e em sua fita de estréia no longa, O anjo negro, há uma alusão explícita com a introdução de um personagem que é cangaceiro. O registro, porém, ficou mais forte quando conseguiu finalizar A musa do cangaço, nos idos dos 80, depoimento exclusivo de Dadá, que foi mulher de Corisco, que, aqui neste filme, faz surpreendentes relatos sobre a vida dos cangaceiros. Corisco e Dadá foram estilizados em Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, o grande filme do cinema brasileiro. O primeiro, em interpretação inexcedível de Othon Bastos, e Dadá personificada por Sônia dos Humildes.

Mas o que interessa saber é que José Umberto, depois de tanta luta, um verdadeiro calvário, uma via-crucis, para realizar Revoada, tomou uma rasteira quase no final da escapada, a bout de souffle. Amargurado com o que aconteceu ("Há dor que a palavra é intraduzível."), José Umberto lamenta a sorte: "O cinema é uma arte infeliz", que diz ter ouvido da boca russa de Tarkovski. O que ele conta é estarrecedor e não pode ficar sob o pano quente das conveniências, como é praxe no cinema baiano: "Meu filme foi "seqüestrado" pela dupla diabólica Rex Schindler/Walter Webb da casa do montador Severino Dadá, no Rio de Janeiro"

Vítima de um problema de saúde grave, que precisou da intervençao cirúrgica, segundo o realizador a 'dupla diabólica' se aproveitou de sua condição de inválido para exagerar a gravidade de sua doença e, assim, intervir no copião e levá-lo para longe. A deduzir de seus comentários, o autor do "seqüestro" parace que foi Walter Webb, mas com o apoio e a conivência da velho produtor Rex Schindler. Está a se repetir, como farsa, a história de Barravento mais de quarenta anos depois, quando o controle do filme foi retirado das mãos de Luís Paulino dos Santos, num verdadeiro golpe, para instalar o comando sob Rex Schindler e Glauber Rocha. Tenho, eu aqui André Setaro, um grande respeito pela figura de Rex Schindler e fiquei estarrecido, a ser verdade o que se conta, o seu ato e o seu comportamento de seqüestrador de fitas, um homem que, atualmente, se diz tão cristão e tão evangélico.

Conta Zé: "Rex entrou no concurso MINC só por eu não ter CGC. Somente. Pois sou o AUTOR de todo o projeto, como você sabe. Assim que ele foi aprovado (coisa que ele não esperava nem contava), eu saí da condição de Autor e passei à situação de Refém: nunca vi um extrato bancário do R$Hum milhão recebido do erário público!"

Este post é apenas o primeiro de outros. A história continua. E já se encontra na Justiça Federal uma Ação Popular com Pedido de Liminar. Aguardem.

A coisa é, como estão a ver, simplesmente estarrecedora.


Um comentário:

Anônimo disse...

Cara, estou estarrecido com o que fizeram com o filme de José Humberto! Espero que ele tenha conseguido ganhar a causa na Liminar e recuperado aquilo que é dele!