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05 junho 2007

Um cinema da inteligência



Robert Altman (1925/2006) é um talento mesmo. Não fosse por M.A.S.H. que deixou, boquiabertos, cinéfilos do mundo inteiro nos anos 70 pela sua fina ironia, comédia desregrada, Altman deixa uma marca, um estilo, uma característica, a da narrativa polifônica, quando focaliza vários grupos de pessoas sem, contudo, dar, à narrativa, uma progressão dramática à Griffith. Nashville é o exemplo mais que perfeito. A polifonia altmaniana influencia toda uma geração de cineastas, como Paul Thomas Anderson - o que é Magnólia senão um filme de Altman sem Altman? Há pouco revi no Telecine Cult, que está um pouco melhor, mas nunca a se comparar ao extinto Classic, Short Cuts (1993), que mostra o way of life de vários habitantes de Los Angeles de forma simultânea, alternada, capaz de dar bem uma idéia do afresco altmaniano, de sua narrativa polifônica. Ninguém sabe estruturar esta narrativa com o mesmo timing dele. Em Short cuts, o crescendo não se situa na estrutura narrativa, mas dentro dos quadros fílmicos, como na discussão entre Matthew Modine e Julianne Moore. Altman dá novo alento ao cinema americano na década de 70, que se vê renovado com seu timing, sua ironia, sua visão de mundo, ainda que, nos 80, não consiga se desenvolver na indústria para se vingar década depois com O jogador, este Short cuts, entre outros, e continuar filmando até morrer ano passado.

6 comentários:

Saymon Nascimento disse...

Bem bom sue filme-despedida, A Última Noite. Fecho perfeito para a carreira dele, filme sobre camaradagem dos artistas e cortinas se fechando. Até agora, acho que meu filme preferido dele é McCabe & Mrs Miller, ou Jogos e Trapaças, ou Quando os Homens São Homens - quantos títulos pra mesma coisa...

André Setaro disse...

Altman é Altman. O Tv Cult está passando também 'Três mulheres' ('Three women'), com Sissy Spacek, Janice Rule, e Shelley Duvall, um estudo de caracteres femininos com um rigor de construção impressionante. Mas o Cult, deformando a obra, adotou o formato 'full screen', quando se trata de um filme em cinemascope, em tela larga, que se vê 'cheia' na programação atual do modernoso 'Cult'. Revendo agora 'O iluminado', como foi dito no blog, e vendo Shelley Duvall, feiosa, talentosíssima, creio que foi o grande Altman que a projetou internacionalmente quando fez 'Popeye', com Robin Williams no difícil papel título e Duvall como Olívia Palito.

Jonga Olivieri disse...

Altman, que começou sua carreira realizando episódios de séries de TV, foi diretor de alguns episódios de "Combate", entre outras. Realmente começou sua projeção com "MASH", que foi um reboliço. Revi há pouco tempo e me fez rir, tanto quanto na época.

André Setaro disse...

Mas se tornou um dos mais inovadores do cinema americano dos anos 70 com suas 'armadilhas polifônicas', a exemplo do citado 'Short cuts', 'Cerimonia de casamento' ('A wedding'), 'Nashville', entre outros. Neste, poucas vezes a fratura exposta do 'american way of life' foi tão bem radiografada.

Anônimo disse...

E a fratura exposta do "brazilian way-of-life", quem foi o cineasta que revelou? Glauber, nao. Quem, quem?

André Setaro disse...

O cinema brasileiro poderia fazer filmes com a temática contemporânea da corrupção, da crise econômica, mas os cineastas se recusam a tratar da maldita contemporaneidade, refugiando-se em temas mais cômodos. Há também o medo de incomodar os colegas que se atrapalharam com a reviravolta do governo PT. Nelson, aquele que teve a audácia de dublar 'O iluminado', tentou alguma coisa em 'Brasília 18 por cento', mas se recusou a mostrar a fratura como ela deve ser mostrada: exposta.