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09 junho 2007

Moro, mas não vivo na Bahia



O jornalista Cláudio Leal, em seu artigo Cidade Morta, que está postado abaixo, fala com muita propriedade de uma sensação de não-pertencimento a Salvador. Uma sensação que me atinge nos dias atuais. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, quando era realmente uma Cidade Maravilhosa, vim morar em Salvador desde a infância. Fui criado numa encantadora província onde havia uma efervescência cultural intensa e imensa: os concertos na Reitoria, as montagens de peças na acolhedora Escola de Teatro, as sessões do Clube de Cinema da Bahia, o bar e restaurante Cacique na Praça Castro Alves (sem esquecer do Tabaris), o Ciclo Bahiano de Cinema, Glauber Rocha com a sua coluna no Jornal da Bahia, e mais, muito mais. Viver na Bahia era estar na Praça da Sé, tomar um sorvete na Cubana ou no Belverdere da Sé, andar pela rua Chile, e frequentar a porta da Livraria Civilização Brasileira (que se incendiou, estando, neste momento, dentro do cinema Tamoio a ver Dr. Fantástico, de Kubrick), ou a casa de chá da Lojas Duas Américas (comprei neste um projetor chamado Barlam com fitas de papel), a já citada Praça Castro Alves, o inesquecível Guarany, a Praça da Piedade, o Campo Grande, o Palace Hotel, etc, etc.

Não quero falar mais, porque tudo isso está em decadência quando não já destruído. Viver na Bahia para mim era viver em suas ruas e em seus becos. Passar a tarde na rua Chile. Ir a um escritório na Cidade Baixa pelo Elevador Lacerda ou Plano Inclinado Gonçalves, o charriot. Ir a um médico ou dentista na rua Chile ou Av. Sete (depois é que surgiram os centros médicos, as garibaldis da vida). Vive-se hoje longe da Bahia embora nela morando. Quem mora em Itaigara não mora na Bahia - e Itaigara é somente como exemplo para qualquer bairro que não se situe nas cercanias da velha Bahia), pois um bairro que poderia estar em qualquer cidade brasileira. Daí a sensação muito bem registrada por Cláudio Leal de não-pertencimento à Bahia. Moro, sim, moro na Bahia, mas não vivo nela.

6 comentários:

André Setaro disse...

O Carnaval de Recife, por exemplo, é muito melhor do que o da Bahia. Beagá, por exemplo, tem barzinhos muito agradáveis - inexistentes na soterópolis tão cantada em prosa e verso.

Anônimo disse...

BS, quer viver, va pra "Second Life". E' o bicho!

Pedro Britto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jonga Olivieri disse...

Apesar de ter se diluido bastante, aqui no Rio, ainda existe um comércio de rua mais forte. No centro e em Copacabana ou Ipanema aunda temos uns poucos cinemas e teatros de rua, muitas livrarias.
O problema maior dos shoppings é a sua estandartização. Shopping é shopping em qualquer lugar do mundo... igual. Isto é horrível e despersonalizado.
É como a questão dos bairros -- como o Iraigara citado por você. A Barra da Tijuca aqui é assim. Eu detesto ir à Barra. Quase não vou. Acho aquilo um padrão uniforme e sem calor. Sou um cidadão da urbe.

Pedro Britto disse...

Sua nostalgia - recorrente, diga-se - me entristece* pela pouca idade, mas os não-lugares e a globalização ainda não abarcaram tudo, ainda.

Silvio Monteiro disse...

Ola!
Estava procurando alguma informação sobre os cineminhas Barlam!!!!!!!!!!

Voce ainda o possui, mesmo em frangalhos!!

Estou criando um museu destas raridades. Veja em www.viamaohoje.com.br/museu

silviomonteiro@msn.com
contato@viamaohoje.com.br