Considero Alain Resnais como um dos meus cineastas preferidos. É um gênio, um renovador que, perto dos 80 anos, em 1997, ainda conseguiu arejar a linguagem cinematográfica com o cativante Amores parisienses (On connaît la chanson), quando estuda o comportamento da gente francesa através de seu cancioneiro popular. Filme original, as canções irrompem das bocas dos personagens nas vozes de cantores emblemáticos como Edith Piaf, Charles Aznavour, Yves Montand, etc, chanssoniers como não mais existem. Resnais tem método próprio e particular, atingindo uma singularidade extraordinária na arte da confecção do filme, pois em cada um convida um escritor para elaborar o roteiro. Assim foi em Hiroshima, mon amour, com Margueritte Duras, O ano passado em Marienbad, com Alain Robbe-Grillet, A guerra acabou, com Jorge Semprun, e por aí vai, sempre um roteirista diferente e de concepção criadora diversa. Resnais é o que se poderia chamar de um regente da mise-en-scène’. Recentemente revi em vídeo Meu tio da América (Mon oncle d’Amérique), obra extraordinária baseada nas teorias de Henri Laborit. Em DVD, acho que não existe. Um assombro, simplesmente, filme pleno de criatividade, de idéias, de invenção de fórmulas.
O que rege a mise-en-scène de Resnais é um apurado sentido de cinema, uma consciência constante de sua especificidade, um uso funcional dos procedimentos cinematográficos, como, poderia dizer, nenhum outro realizador. Amores parisienses, ainda que exibido em sessão especial em mostra francesa e, depois, fartamente dado à apreciação nas salas alternativas da cidade há alguns anos, não soube ser visto nem lido pelos poucos exegetas que se arvoram na crítica de cinema nesta província metropolitana. Talvez pelo desconhecimento do cinema de Alain Resnais, talvez por uma total falta de sensibilidade para que pudessem fruir a magnitude do espetáculo.
Antes de Hiroshima, mon amour, porém, Resnais realizou curtas que podem ser incluídos entre os filmes de maior envergadura feitos na França, transcendendo a pequena duração para se transformar em obras cinematográficas independentes de seu tempo físico. Assim, não se pode deixar de, em se falando de Resnais, citar os maravilhosos Van Gogh, ensaio didático sobre a arte do pintor, com um raro uso artístico do zoom e do travelling, Nuit et brouillard este saiu em DVD e merece ser comprado porque uma obra assombrosa), sobre a memória do nazismo e seus campos de extermínio, e, novamente, a necessidade do recuerdo, Toute la memoire du monde, que focaliza o acervo de uma biblioteca parisiense.
Cineasta da memória, portanto, e desta já falada urgência da recordação. A apresentação de Hiroshima, mon amour, quando a década de 50 chegava ao fim, causou impacto traumatizante entre o público mais informado, embora hoje esteja sendo esquecido – como por ironia num diretor que instituiu a necessidade de recordar e colocou a memória como centro nevrálgico do existir. O seu longa seguinte, em 1961, O ano passado em Marienbad se constituiu num choque, pois Resnais, jogando com o tempo, deu origem a um espetáculo puramente cinematográfico, solapando, com isso, qualquer vestígio de narrativa que pudesse ser posta ‘em ordem’. Criou, na verdade, uma ‘irrealidade’, com a ação transcorrendo nos arcanos da memória de um personagem.
Mon oncle d’Amérique é um filme-ensaio e, neste particular, uma invenção resnaisiana, ainda que Jean-Luc Godard tenha, nos anos 60, realizado obras que podem ser consideradas, também, como ensaios fílmicos, a exemplo de Duas ou três coisas que eu sei dela. Mas o que se poderia conceituar como ‘filme-ensaio’ alcança, aqui, em Mon oncle d’Amérique, uma perfeição que se poderia dizer ter sido inventada pelo autor de Marienbad. Resnais, portanto, é um realizador essencial, um mestre absoluto, o cinema em sua quintessência. O cinema de Alain Resnais sempre me causou assombro e estupefação. Muitos filmes de sua filmografia estão inéditos no Brasil.
Antes de Hiroshima, mon amour, porém, Resnais realizou curtas que podem ser incluídos entre os filmes de maior envergadura feitos na França, transcendendo a pequena duração para se transformar em obras cinematográficas independentes de seu tempo físico. Assim, não se pode deixar de, em se falando de Resnais, citar os maravilhosos Van Gogh, ensaio didático sobre a arte do pintor, com um raro uso artístico do zoom e do travelling, Nuit et brouillard este saiu em DVD e merece ser comprado porque uma obra assombrosa), sobre a memória do nazismo e seus campos de extermínio, e, novamente, a necessidade do recuerdo, Toute la memoire du monde, que focaliza o acervo de uma biblioteca parisiense.
Cineasta da memória, portanto, e desta já falada urgência da recordação. A apresentação de Hiroshima, mon amour, quando a década de 50 chegava ao fim, causou impacto traumatizante entre o público mais informado, embora hoje esteja sendo esquecido – como por ironia num diretor que instituiu a necessidade de recordar e colocou a memória como centro nevrálgico do existir. O seu longa seguinte, em 1961, O ano passado em Marienbad se constituiu num choque, pois Resnais, jogando com o tempo, deu origem a um espetáculo puramente cinematográfico, solapando, com isso, qualquer vestígio de narrativa que pudesse ser posta ‘em ordem’. Criou, na verdade, uma ‘irrealidade’, com a ação transcorrendo nos arcanos da memória de um personagem.
Mon oncle d’Amérique é um filme-ensaio e, neste particular, uma invenção resnaisiana, ainda que Jean-Luc Godard tenha, nos anos 60, realizado obras que podem ser consideradas, também, como ensaios fílmicos, a exemplo de Duas ou três coisas que eu sei dela. Mas o que se poderia conceituar como ‘filme-ensaio’ alcança, aqui, em Mon oncle d’Amérique, uma perfeição que se poderia dizer ter sido inventada pelo autor de Marienbad. Resnais, portanto, é um realizador essencial, um mestre absoluto, o cinema em sua quintessência. O cinema de Alain Resnais sempre me causou assombro e estupefação. Muitos filmes de sua filmografia estão inéditos no Brasil.
Um comentário:
Ano Passado em Marienbad é um filme marcante do cinema. Seja pela sua narrativa, seja pelos elementos da linguagem do cinema.
Resnais é importante demais na história do cinema.
Pena que não conheço toda a sua obra. E pena que também não tenham sido exibidos muitos de seus filmes aqui... coisa que aliás desconhecia.
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