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08 junho 2007

Salvador: cidade morta e doente

Peço licença a quem de direito para publicar a crônica que li hoje em A Tarde, e que tirei da internet, de autoria do jornalista Cláudio Leal, que no seu retorno à Salvador, após temporada parisiense, quando desfilou em Pigalle ao lado de Catherine Deneuve, escreveu o texto que transcrevo. Que focaliza Salvador como cidade morta ao que acrescentaria: e doente. Mas há pessoas que ficam pensando em baleias, porque estas, coitadas, podem desaparecer. O abacate já está batido e creio que vou pedir para colocar, nele, umas pedras de gelo. O título do artigo é Cidade Morta.
"A morte do jornaleiro Careca, amigo de derramados papos, me fez percorrer o museu do que perdemos, em Salvador, por fatalidade ou por omissão. Na esquina da Rua do Tira-chapéu, charmoso nome que um dia a canalhice há-de substituir, senti que aprendemos a aceitar uma cidade imersa em barbáries, a cada dia mais insuportável pela perda de sua diversidade humana, a iluminar o cotidiano. Hora de confessar: cresce, rapidamente, a sensação de não-pertencimento a Salvador. E quem terá matado esta cidade?
Os pedestres caminham acuados pelos carros. Canteiros nus, passeios estreitos e o urbanismo mais tolo e "requalificado" nos afastam das ruas. Oscilamos entre ilhas, apressados, sem vitrines nem calçadas para os vagabundos. Sim, sou um.
Suportamos uma das classes políticas mais indolentes do País, incapaz de planejar o crescimento da Cidade da Bahia, arborizar suas vias e livrar o Centro da decadência. Complementa-a uma elite predatória, que submeteu a riqueza histórica da primeira Belacap a um amontoado de espigões. Emparedada a Vitória, falta lotear o Passeio Público (anda aos ratos, vê lá).
E como dói desviar os olhos da ocupação ilegal do frontispício de Salvador, abaixo do bairro do Santo Antonio, celeremente devastado por casas de espertalhões. A encosta, que divide a Cidade Alta e Baixa, é um sítio histórico, referencial do cancioneiro popular, eixo da nossa alma poética. Mas a Prefeitura é incapaz de ouvir qualquer pedido que exija sensibilidade. Nada faz para conter esse crime. Um dia, não haverá por que ouvir Elizeth Cardoso cantar Ary Barroso: "Quando eu nasci/ Na Cidade Baixa/ Me enrolaram numa faixa/ Cor de rosa de cetim". Alto e baixo estarão ligados pela brutalidade.
Não se arrisque a andar de trem. Este ano, o trem suburbano descarrilou duas vezes e ninguém foi responsabilizado. Ao prefeito, deve parecer um fenômeno natural. Com essa eficiência, vamos inaugurar, em breve, um metrô. Não se arrisque a morrer. A Quinta dos Lázaros atingiu seu limite e os mortos devem se dirigir aos cemitérios municipais. Fuzilaram com granitos a Praça da Sé e a Ponta do Humaitá. Cinema envidraçadoplex na Praça Castro Alves. Ainda falam em hotéis para Itapagipe. Que não toquem nesta faixa de terra; com armas, resistiremos.
Pregadas à miséria física, outras misérias de espírito: artistas amarrados a editais (por que não concorrem ao Bolsa Família?); empresários que nada investem em cultura, exceto em livros de luxo e em iates e cervejinhas para a corte; um teatro que convida ao sono e, em transe, à histeria; universidades incapazes de promover debates; o transporte coletivo entregue aos sábios do Setps; e a pior educação entre as capitais brasileiras.
Terra desolada, Salvador vive a noite da alma. E não há expectativa de reação. O ano eleitoral de 2008 se desenha obscuro. Nenhum dos candidatos às batatas é merecedor da confiança do eleitor, lombrosiana até. Haverá mais e mais noites e atentados à memória. Que seja rápida, essa morte."

Claudio Leal - Jornalista da Editoria Opinião. E-mail:
cleal@grupoatarde.com.br .

7 comentários:

Anônimo disse...

Uma excelente bosta! essa critica do Sr. Claudio Leal. Porque ele foi a Paris agora, só agora, se arvora a "critico de cidades". Parece aquelas madames frescas e inconsequentes do nosso ridiculo hi-society, que voltando da Zoropa torce o nariz e diz: "Ai, mas que ralé!!"
Ora, a mudança se dá com propostas de mudanca, externa ou interna. Faça alguma coisa, antes de criticar. Junte-se a passeata das baleias, se acha isso o mais premente e necessário. Jogar merda no ventilador é facil. E organizar e mudar, quem se dispoe?

Anônimo disse...

Fique firme, Setaro. Abr. Carlos Barbosa

André Setaro disse...

Tenho acionado o moderador de comentários. Quem faz um comentário neste blog não o tem publicado imediatamente, pois a mensagem vai primeiro para a minha moderação, quando posso publicar ou recusar. Publico geralmente, recusando mensagens chulas ou descabidas. Mesmo os comentários pesados, com linguagem chã, como a da senhora Carla Pedrosa, têm o meu 'nihil obstat'. A língua, afinal de contas, é dela mesma, não é mesmo?

Jonga Olivieri disse...

Tristeza saber de Salvador assim. Há anos nãovou aí. Talvez ainda bem. Guardo recordações de uma cidade gostosa e antiga. Quem sabe, o melhor é não voltar para não amargar e guardar a imagem que ainda tenho.

André Setaro disse...

Apesar da imensa alegria que teria em revê-lo, creio melhor ficar aí em seu canto, no Rio, ainda que muito violento, esperando, sempre, e torcendo, para que uma bala perdida não entre no seu cérebro, o qual ainda tem muito para produzir e dar a conhecer. Se vier a Salvador, e como pessoa que a conheceu em seus belos anos, quando aqui passou bom período, vai se deparar com uma 'cidade morta', como bem disse o jornalista Cláudio Leal. Para Salvador apenas convergem aqueles que gostam de carnaval industrializado, tomar porres em camarotes made in Lícia Fábio, ou circular pelas mesas fartas do Trapiche Adelaide. Neste caso, venha e vá à Praia do Forte, 'point' de uma pequena burguesia e classe média estranguladas pela crise. Chove demência no pedaço soteropolitano.

Anônimo disse...

só ha civilizaçao quando ha educaçao.triste bahia.

Anônimo disse...

educaçao é a soluçao.