Desaparecida a fase do filmusical clássico, cujo último exemplar se dá com Gigi (1958), de Vincente Minnelli, os anos 60 se notabilizam pelas superproduções musicais, a exemplo de My fair Lady (1964), de George Cukor, A noviça rebelde (The sound of music, 1965), de Robert Wise e, deste mesmo, Amor sublime amor (West side story, 1961), A moedinha da sorte, de George Sidney, Funny Girl (1968), de William Wyler, entre outros. Poucos, nesta década, os musicais simples e despretensiosos como os da fase do grande Arthur Freed na Metro. Minnelli, o grande renovador do gênero, retira-se para a incursão em melodramas admiráveis e comédias românticas, a atender, apenas, a um pedido: o de dirigir, já no ocaso da década, Um dia claro de verão, com Barbra Streisand, Jack Nicholson, Yves Montand, apenas satisfatório. A Fox, a não perceber que os tempos mudam, insiste em filmar Hellô Dolly! num momento em que a juventude explode em Woodstock e o filme se torna, em termos de bilheteria, anacrônico para a época, mas não para os apreciadores dos grandes espetáculos do gênero. A Fox vai à falência com o resultado pífio da bilheteria.
Positiviamente Millie (Thoroughty Modern Millie, 1967), de George Roy Hill, pelo encanto, pelo frescor, situa-se quase como um oásis no cinema dos esfuziantes anos 60. Preterida por Jack Warner em My fair lady no papel de Elisa, feito por Audrey Hepburn, apesar de ter comparecido neste, nos palcos da Broadway, durante quase dez anos, dia após dia, Julie Andrews é convidada por Walt Disney para fazer Mary Poppins, belo espetáculo dirigido por Robert Louis Stevenson e, surpreendentemente, tira o Oscar de melhor atriz das mãos de Hepburn. Daí para a frente, uma carreira plena de sucessos, principalmente depois que faz a simpática aspirante ao claustro de um convento que se apaixona por um barão em A noviça rebelde, um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos.
Positivamente Millie tem sua ação localizada nos loucos anos 20, precisamente em 1923, e em Nova York. Julie é uma moça do interior que chega à cidade disposta a fisgar um marido rico. Escolhe seu patrão Trevor (John Gavin), mas este prefere sua amiga Dorothy (Mary Tyler Moore), que é raptada por uma quadrilha de escravas brancas. Mas tudo se ajusta muito bem no final com algumas surpresas. Com este argumento, Roy Hill faz um filme divertido e inteligente, recheado de belas canções e pontuado de alusões ao cinema mudo já que a sua ação se passa em pleno apogeu da estética da arte muda. Quando Millie está a pensar, por exemplo, aparecem letreiros na tela, como naquela época, e ela olha para a câmera a solicitar a cumplicidade ou a perplexidade do espectador. Há, também, uma conjugação de gêneros: o musical com o filme de mistério. Há momentos de antologia: o início, por exemplo, quando um travelling no corredor de um hotel mostra uma cesta grande sendo conduzida por alguém, que abre uma porta e, com um frasco e um algodão faz desmaiar uma das hóspedes, que é depositada na cesta. Logo a seguir, a câmera sai de um anúncio de jornal para focalizar Julie Andrews a chegar à Nova York, quando se dá a apresentação dos créditos. Excelente também a gag do elevador antigo, que só se locomove através do sapateado. E um momento de magia com a performance de Carol Channing, quando canta em sua mansão a fazer de seu corpo um instrumento de jazz.
Positivamente Millie é o quinto filme de George Roy Hill (diretor hoje completamente esquecido), nome conhecido nos palcos da Broadway dos anos 50 (como ator e diretor) e, desde 1956, na TV americana (como diretor) e autor de telepeças televisivas. Sua carreira no cinema começa com Contramarcha nupcial (Period of adjustment, 1961), versão da peça de Tenessee Williams, com Jane Fonda, prosseguindo com Na voragem das paixões (Toys in the Attic, 1962), O mundo de Henry Orient (The word of Henry Orient, 1964) e Hawaii (1966). Em 1970, obtém enorme sucesso com Butch Cassidy, com Paul Newman e Robert Redfordm ciom os quais pretende continuar o êxito em Golpe de mestre (The sting, 1973). Realiza notável versão do livro de Kurt Vonnegut Jr em Matadouro 5 (Slaughterhouse 5, 1971), Vale tudo, Quando ás águias se encontram, O mundo segundo Garp, entre outros. Era um dos diretores preferidos de Paul Newman.
O grande crítico carioca Salvyano Cavalcanti de Paiva, quando o filme foi lançado no Brasil, em 1968, escreveu o seguinte: "Eis-nos em pleno domínio da evocação, aliás da dupla evocação: um filme de ritmo ágil que transmite completa vibração à platéia. Antigo no que reconstitui como exemplar digno dos musicais da Era de Ouro; antigo também no que apresenta como reedição feliz da década de 20, do primeiro pós-guerra, a Idade do Jazz, de F. Scott Fitzgerald, gim de banheira, mangas cavas e mini-saias, cabelos à taradinha, sapatos de saltos quadrados, colares enormes, primeiros cigarros femininos, fordecos velozes, etc. E moderno, bem moderno, no processo narrativo, pois Throughty Modern Millie é um filme musical estupendo de graça, de sentimento, de arte. Flui o enredo, as canções, os bailados originalíssimos - são as melindrosas e os almofadinhas que retornam, é o musical típico de novo entre nós. (...) A partitura de Elmer Bernstein, os arranjos de André Previn, a coreografia repleta de inventiva de Joe Layton, tudo se combina harmoniosamente para captar o estilo da Era de Jazz. Um filme delicioso, encantador, jubiloso."
Positiviamente Millie (Thoroughty Modern Millie, 1967), de George Roy Hill, pelo encanto, pelo frescor, situa-se quase como um oásis no cinema dos esfuziantes anos 60. Preterida por Jack Warner em My fair lady no papel de Elisa, feito por Audrey Hepburn, apesar de ter comparecido neste, nos palcos da Broadway, durante quase dez anos, dia após dia, Julie Andrews é convidada por Walt Disney para fazer Mary Poppins, belo espetáculo dirigido por Robert Louis Stevenson e, surpreendentemente, tira o Oscar de melhor atriz das mãos de Hepburn. Daí para a frente, uma carreira plena de sucessos, principalmente depois que faz a simpática aspirante ao claustro de um convento que se apaixona por um barão em A noviça rebelde, um dos maiores sucessos de bilheteria de todos os tempos.
Positivamente Millie tem sua ação localizada nos loucos anos 20, precisamente em 1923, e em Nova York. Julie é uma moça do interior que chega à cidade disposta a fisgar um marido rico. Escolhe seu patrão Trevor (John Gavin), mas este prefere sua amiga Dorothy (Mary Tyler Moore), que é raptada por uma quadrilha de escravas brancas. Mas tudo se ajusta muito bem no final com algumas surpresas. Com este argumento, Roy Hill faz um filme divertido e inteligente, recheado de belas canções e pontuado de alusões ao cinema mudo já que a sua ação se passa em pleno apogeu da estética da arte muda. Quando Millie está a pensar, por exemplo, aparecem letreiros na tela, como naquela época, e ela olha para a câmera a solicitar a cumplicidade ou a perplexidade do espectador. Há, também, uma conjugação de gêneros: o musical com o filme de mistério. Há momentos de antologia: o início, por exemplo, quando um travelling no corredor de um hotel mostra uma cesta grande sendo conduzida por alguém, que abre uma porta e, com um frasco e um algodão faz desmaiar uma das hóspedes, que é depositada na cesta. Logo a seguir, a câmera sai de um anúncio de jornal para focalizar Julie Andrews a chegar à Nova York, quando se dá a apresentação dos créditos. Excelente também a gag do elevador antigo, que só se locomove através do sapateado. E um momento de magia com a performance de Carol Channing, quando canta em sua mansão a fazer de seu corpo um instrumento de jazz.
Positivamente Millie é o quinto filme de George Roy Hill (diretor hoje completamente esquecido), nome conhecido nos palcos da Broadway dos anos 50 (como ator e diretor) e, desde 1956, na TV americana (como diretor) e autor de telepeças televisivas. Sua carreira no cinema começa com Contramarcha nupcial (Period of adjustment, 1961), versão da peça de Tenessee Williams, com Jane Fonda, prosseguindo com Na voragem das paixões (Toys in the Attic, 1962), O mundo de Henry Orient (The word of Henry Orient, 1964) e Hawaii (1966). Em 1970, obtém enorme sucesso com Butch Cassidy, com Paul Newman e Robert Redfordm ciom os quais pretende continuar o êxito em Golpe de mestre (The sting, 1973). Realiza notável versão do livro de Kurt Vonnegut Jr em Matadouro 5 (Slaughterhouse 5, 1971), Vale tudo, Quando ás águias se encontram, O mundo segundo Garp, entre outros. Era um dos diretores preferidos de Paul Newman.
O grande crítico carioca Salvyano Cavalcanti de Paiva, quando o filme foi lançado no Brasil, em 1968, escreveu o seguinte: "Eis-nos em pleno domínio da evocação, aliás da dupla evocação: um filme de ritmo ágil que transmite completa vibração à platéia. Antigo no que reconstitui como exemplar digno dos musicais da Era de Ouro; antigo também no que apresenta como reedição feliz da década de 20, do primeiro pós-guerra, a Idade do Jazz, de F. Scott Fitzgerald, gim de banheira, mangas cavas e mini-saias, cabelos à taradinha, sapatos de saltos quadrados, colares enormes, primeiros cigarros femininos, fordecos velozes, etc. E moderno, bem moderno, no processo narrativo, pois Throughty Modern Millie é um filme musical estupendo de graça, de sentimento, de arte. Flui o enredo, as canções, os bailados originalíssimos - são as melindrosas e os almofadinhas que retornam, é o musical típico de novo entre nós. (...) A partitura de Elmer Bernstein, os arranjos de André Previn, a coreografia repleta de inventiva de Joe Layton, tudo se combina harmoniosamente para captar o estilo da Era de Jazz. Um filme delicioso, encantador, jubiloso."
Vejam os dez minutos iniciais de Positivamente Millie em meu outro blog: http://setaroandreolivieri.blogspot.com/ (Momentos da arte do filme)
7 comentários:
Grande Setaro, "curioso sim amigo ouvinte, curiosíssimo", assim dizia um saudoso radialista, que tinha um programa de grande audiência no rádio sergipano, na década de 60. Lembrei disso e não resisti. Caro amigo de blog, Twitter e Facebook, no meu finado computador, além de ter um arquivo com fotos pesquisadas por quase dois anos e vários textos prontos para postagens, eu sabia manusear as ferramentas de vídeos e ilustrações. Hoje estou com um notebook emprestado de minha esposa, até poder comprar outro computador, pois o meu já era. O problema maior do “Fetiche de Cinéfilo” e do “Feitiço de Cinema” é que continuo alimentando a esperança de que o técnico, agora já com todas as condições, extraia do HD todo o banco de imagens, e as pastas de arquivo de textos, podendo assim continuar as postagens com qualidade e já prontas. Sinta o desânimo e o drama que tudo isso tem provocado. Mas jamais vou desistir, nem que comece tudo outra vez. Apesar do “Fetiche” ser um blog mais trabalhoso do que os demais, que são de textos, mas o prazer estético de fazer é muito grande, tanto que um dos maiores voyeur do Fetiche sou eu mesmo. Para terminar, esta semana o técnico me ligou e disse que conseguiu eliminar todos os vírus e que o trabalho agora seria mais rápido. Estou ansiosamente aguardando e o técnico e a tecnologia, da qual não entendo nada, me judiando. Mas quando o sofrimento é pela arte, a causa é nobre. Um abraço, do não menos curioso, Armando.
Gostei do artigo! Thoroughly Modern Millie é um dos últimos musicais dos anos 60 que ainda obteve sucesso crítico. É um filme feliz, simpático e muito bem construído.
Só uma observação - Julie Andrews passou quase dois anos na Broadway (não dez) com o espetáculo de My Fair Lady. O contrato era de dois anos mas em decorrência de problemas consecutivos em suas cordas vocais ela conseguiu ser liberada três meses antes do contrato terminar. Depois ela retorna ao mesmo papel, em Londres.
Caro Armando,
Esclareceu-me a questão, que a tinha como surrealista, mas que, agora, assume ares bastantes realísticos. Já perdi muitos arquivos (de textos, inclusive), quando o computador pifava. Mando-os, agora, todos para o "Documentos do Google", ainda que os deixe também no meu pc.
Obrigado pelo esclarecimento, Lorena. Vi 'Minha bela dama', assim se chamava 'My fair lady' no Brasil, adolescente, no Teatro Carlos Gomes, com Paulo Autran e Bibi Ferreira. O impacto foi enorme porque a primeira vez, 1963, que ia ao teatro.
Julie foi injustiçada quanto a "My Fair lady". Até porque Audrey era uma bonequinha de luxo mesmo. Nada contra a atriz cujo charme é indiscutível e foi protagonista de grandes realizações com grandes realizadores.
Mas é que Julie, sem sombra de dúvida, fazia mais o tipo de uma ignorante personagem de Pigmaleoa, tendo-o vivido intensamente no teatro. Política de bastidores, esta é a verdade.
Mas brilhou, como você mesmo refere.
"Positivamente Millie" é incrível, como tambem "Mary Poppins" ou "Victor ou Vitoria".
Considero 'Victor ou Victoria', do grande Blake Edwards, uma das maiores comédias do cinema em todos os tempos.
Quanto a My Fair Lady, ainda estou em processo de negação, pois acho um pecado não existir qualquer registro na íntegra da época em que o musical estava na Broadway, com a Julie Andrews, a verdadeira Eliza Doolittle.
E, sim, todos temos de concordar que Victor Victoria é uma das maiores comédias do cinema, tipicamente Edwardiana, por assim dizer. Um filme cuja temática era tremendamente controversa para a sua época, com a história de uma mulher fingindo ser um homem fingindo ser uma mulher. A única incoerência do filme é que a princípio, a personagem de James Garner se apaixonaria por Victoria ainda sem saber que ela é, de fato, uma mulher. E Blake Edwards, na época, sob pressão das velhas politicagens de estúdio, acrescentou a cena onde King se esconde no banheiro de Victoria e descobre toda a farsa, para amenizar o fato de que um homem podia estar se apaixonando por outro.
Mas enfim, foi um dos poucos trabalhos de parceria entre Blake Edwards e a própria esposa Julie Andrews, que se tornou um sucesso.
Um de meus favoritos!
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