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16 abril 2008

A estesia e Vincente Minnelli



Minnelliano de carteirinha, tenho por este estilista do cinema americano uma grande admiração. Introdutor da modernidade no filmusical americano (vindo da Broadway nos anos 40, revolucionou o gênero em obras fundamentais como Agora seremos felizes (Meet me in St.Louis, 1944), O pirata (este, principalmente), A roda da fortuna (The band wagon, um comentário amargo e ao mesmo tempo esfuziante sobre o crepúsculo do musical ainda em 1953), foi um realizador versátil que não se restringiu ao musical. Soube construir dramas ásperos e eficientes sempre com o rigor de sua mise-en-scène, a exemplo de Assim estava escrito (The bad and the beautiful), Deus sabe quanto amei (Some came running), A cidade dos desiludidos (Two weeks in other town). Mas, ainda assim, fez comédias admiráveis como Papai precisa casar, Brotinho indócil, Teu nome é mulher.

Assim estava escrito é um filme destinado à estesia do cinéfilo. A partitura de David Raskin, as interpretações, a luz que esculpe os personagens, com um claro/escuro de tirar o fôlego, e a articulação da linguagem cinematográfica à maneira de Minnelli. O tempo, fê-lo esquecido, pouco citado, quase não visto, ainda que existam em DVDs muitos de seus filmes. A expressão minnelliana é característica de um cinema de um tempo no qual havia uma estilização na maneira de representar o real, de traduzir a realidade. Não canso de ficar vendo The bad and the beautiful (tenho-o em DVD). Não sei até que ponto a nova geração possa sentir tanta estesia como eu sinto a ver esta obra-prima. A verdade, porém, é que esta obra me deixa completamente em pânico estético. O resto é conversa fiada.

3 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Minelli que inicilamente foi coreógrafo de filmes como "Ziegfeld Follies" (versão de 1946), teve sua grande obra em "O pirata" (1948) com Gene Kelly, mas dirigiu também "Gigi" (1958), que é um filme bem leve, ao estilo dos "romãnticos e lacrimogêneos" da década correspondente (e lhe deu um Oscar), e que tem a presença da "doce" Leslie Caron, Maurice Chevallier e seu "velho charme" francês.
Gosto também de "Os quatro cavaleiros do apocalipse" (Four horsemen of the apocalypse), com Glenn Ford, o inesquecível Genn Ford. Mais um que assisti no velho e bom 'ar-condicionado' geladíssimo do Metro Copacabana, numa tarde de um sábado qualquer chupando drops Dulcora (às vezes ia na Kopenhagen e comprava o drops de lá que era melhor ainda)...
Saudades daquele tempo mágico!

Stela Borges de Almeida disse...

Professor, assistirei neste final de semana The Bad and the Beautiful e ficarei atenta ao pânico estético, é um novo conceito pra mim mas como aprendi no seu curso sobre o poder da fuga estética, sei que vc. está falando com propriedade. Um abraço e até breve.

Jonga Olivieri disse...

A frase (cavalo não desce escada), se não é de autoria dele, foi popularizada por Ibrahim Sued nos idos dos 1960/70.
O dito colunista -- que se comparou a 007 em título de livro -- e cuja melhor situação foi a de entrevistar um "poliglota" e dizer ao vivo e em preto e branco(afinal, na época não havia TV a cores), virando-se para a câmera, que lhe deu um close, falou: " O fulano de Tal aqui fala várias línguas... portanto ele é um 'troglodita' (sic)".
Mas, a pergunta me deixou pensativo e em dúvidas atrozes. Após algumas elocubraçoes chegeui à conclusão que se descer, cai.