Nascido em meados do século passado, 1950, comecei a ir ao cinema aos 5 anos de idade, portanto a partir de 1955. Minha formação cinematográfica se deu com o chamado cinema de gênero, quando reinava, absoluto, o cinema americano da era dos grandes estúdios. Ficava fascinado com os westerns de John Ford, Anthony Mann, Howard Hawks, entre tantos, com os musicais de Minnelli, Stanley Donen, com as comédias de Billy Wilder, Frank Tashlin, entre outros, o film noir, os épicos, enfim certos clássicos que ficaram imortalizados pelo engenho e pela arte de seus realizadores. Via muita chanchada do cinema brasileiro, com os inesquecíveis Oscarito, Grande Otelo, Ankito, Zé Trindade.
Mas o motivo do post de hoje é fazer uma pequena homenagem a um cômico que fez a alegria dos cinéfilos nos anos 50 e 60 e que parece estar completamente esquecido: Cantiflas, comediante mexicano cujo nome real é Mario Moreno. Morreu em 1993, de câncer, aos 82 anos. Ficou milionário com o cinema, porque seus filmes feitos no México ultrapassaram as fronteiras de seu país e foram vistos em quase o mundo inteiro. Na década de 50, a maioria de suas fitas era dirigida por Miguel M. Delgado e distribuida pela Pelmex. Houve um momento especial do cinema mexicano, quando despotavam Maria Felix, Arturo de Cordova, Pedro Armendariz, entre tantos outros, a fotografia brilhante de Gabriel Figueroa, nos melodramas e dramalhões, que Nelson Pereira dos Santos focaliza em O cinema das lágrimas, filme ruim, mas que vale pelo arquivo de trechos dos típicos filmes realizados na época áurea da cinematografia mexicana.
O personagem de Cantiflas usava a calça muito baixa, uma de suas marcas registradas. Acho que o primeiro filme que vi com ele foi O porteiro (El portero), mas me lembro bem de Sobe e desce, que se passa numa loja de departamento, e O bombeiro atômico, O engraxate, entre outras. De repente, convidado a Hollywood aparece na superprodução A volta do mundo em 80 dias (Around the World in Eighty Days, 1956), de Michael Anderson, numa produção de Michael Tood, que inventou uma lente especial para este filme, baseado em Jules Verne e que possui um elenco cheio de astros e estrelas em pequenas pontas: Frank Sinatra, Marlene Dietrich, Fernandel, etc. Cantiflas faz Passepourt, criado do aristocrático David Niven, que aposta, no seu clube, que seria capaz de dar a volta ao mundo em 80 dias. No itinerário, apaixona-se por Shirley MacLaine (em seu segundo filme ou terceiro, o primeiro, O terceiro tiro, de Hitch), mas esta, no final, entra no clube, que somente os homens podiam entrar, e os quadros caem das paredes, imagem que me ficou, menino que era ao vê-lo. Quatro anos depois Cantiflas foi chamado para outra superprodução, Pepe (1960), dirigida pelo especialista em musicais George Sidney, filme que não existe em DVD nem nos Estados Unidos e cuja cópia em VHS, por rara, tem preço altíssimo. Vi Pepe várias vezes adolescente. Também, mania da época, um elenco de astros e estrelas em pequenas pontas, a saber: Shirley Jones, Maurice Chevalier, Bing Crosby, Richard Conte, Bobby Darin (na época, marido de Sandra Dee), Sammy Davis Jr, Jimmy Durante, Zsa Zsa Gabor, Judy Garland, Greer Garson, Hedda Hopper (famosa colunista e fofoqueira menos temida, porém, do que Louella Parsons), Peter Lawford, Janet Leigh, Jack Lemmon, Kim Novak, André Previn (partiturista que aparece como ele mesmo, assim como muitos desse cast fabuloso), Donna Reed, Debbie Reynolds, Edward G. Robinson, Cesar Romero, Frank Sinatra, Charles Coburn, Dean Martin, Tony Curtis.
Uma das imagens é de A volta ao mundo em 80 dias, vendo-se, nela, David Niven e Cantiflas.
4 comentários:
Mario Moreno. Grande figura. Sua calça baixa, como você bem lembrou, e a rebolar quando dançava, mostrando o molejo de mexicano, a bunda a mexer de forma cômica. A "conversa mole pra boi dormir".
Incrível... inesquecível Cantinflas, o vagabundo, inspirado nitidamente em Carlitos (Charlot), adaptado a uma linguagem terceiro mundista.
Isso realmente nos comunicava diretamente, sem intermediários.
Lembro-me de um filme (Um dia com o diabo) em que ele vai à guerra, morre e vai parar no inferno. Pois bem, o seu papo mole (e altamente enrolado) faz o 'Belzebú' chorar de pena... hehehe
Bem lembrado.
Fez tanto sucesso, que originou cópias no próprio cine mexicano, como Tin-Tan (lembra-se).
E eu iria mais longe ao dizer que certos trejeitos de Oscarito tinham um quê de Cantinflas.
Cantiflas,quem não se lembra?
Bonita HOMENAGEM.
um abraço
meus parabéns por se lembrar de Cantiflas. Tenho 31 anos, mas o primeiro filme que vi dele foi mesmo "A volta ao mundo em 80 dias" e eu tinha 13 ou 14 anos. Depois vi os outros. Hoje, me lembrei desta fase, procurei na internet algo a respeito, e meveio o seu blog. Parabéns por recuperar em mim a memória da minha adolescência com esse gênio. Abraços.
Hoje(27/12/08) em casa um vizinho emprestou me um dvd do filme "volta ao mundo em 80 dias",e aquele cara engraçado que lembrava charlie chaplin,fiquei curioso e procurei no google para saber quem era ele,virei fã desse cara,sou ator e tenho meu lado humoristico,vou procurar assistir mais filmes dele.
Sheena Tramp
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