Acordo, ligo e computador e tomo um susto: morre o realizador sueco Ingmar Bergman. Mas aos 89 anos. Todos temos de morrer um dia. Deixou uma grande fortuna crítica, uma das mais lúcidas e coerentes obras cinematográficas de todos os tempos. Foi um verdadeiro mestre. Não tenho tempo de falar dele, apenas de registrar o seu falecimento e transcrever notas de agência noticiosa:
"Segundo a agência de notícias TT, Eva, filha de Bergman, disse que ele morreu em paz em sua casa em Faro, sem informar nem a causa nem o momento exato do falecimento.
O local do velório e do enterro ainda não foi definido. O funeral deve ser aberto apenas a parentes e amigos.
Nascido no dia 14 de julho de 1918 em Uppsala, ao norte de Estocolmo, Bergman dirigiu mais de 40 filmes durante sua longa carreira, nos quais, sempre com uma visão trágica, retratou a complexidade das relações entre homens e mulheres.
O diretor venceu Oscars de melhor filme estrangeiro em 1960, 1961 e 1983.
Bergman cursou o ensino básico em Estocolmo, onde também se formou em Arte e Literatura. Seu pai foi um pastor protestante do qual recebeu uma educação severa e austera.
Estudou na Universidade de Estocolmo e aprendeu a dirigir com um grupo de teatro estudantil levando para a tela grande obras de Strindberg e Shakespeare.
Apaixonado pelo teatro, principalmente o clássico, já na universidade dirigiu uma companhia de estudantes. Após o fim dos estudos, concentrou sua atividade na cena, como autor e diretor.
Após ser ajudante de direção no Real Teatro da Ópera de Estocolmo, esteve à frente do Teatro Municipal de Helsinborg (1944-1946), de Goteborg (1946-1949), de Malmoe (1954-1963) e do Real Teatro Dramático de Estocolmo (1963-1966 e 1985-1995).
Em 1976, se mudou para Munique, na Alemanha, onde também desenvolveu seu talento criativo, e em 1985 voltou à Suécia como diretor do Real Teatro Dramático de Estocolmo. Nesta etapa, fez montagens como A Menina Julie e O Sonho, ambos de Strindberg; Hamlet, de Shakespeare; Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O'Neill; Casa de Bonecas e Peer Gynt, ambos de Ibsen; e Conto de Inverno, de Shakespeare.
No final de 1995, deixou o Teatro Dramático para ficar responsável pelos espaços cênicos da televisão pública sueca STV, onde foram transmitidas obras do diretor.
No cinema, seu começo foi com roteiros que escreveu para projetos próprios e alheios, casos dos diretores Gustaf Molander, Alf Kjellin, Lars Erik Kjellgren e Alf Sjorberg.
Ingmar Bergman, um dos fundadores da Academia Européia de Cinema em 1988, estreou na direção com o longa-metragem Crise (1945) e depois realizou Chove em Nosso Amor (1946), Um Barco para a Índia (1947), Música na Noite (1947), Porto (1948), Prisão (1948), Sede de Paixões (1949), Juventude (1951), Quando as Mulheres Esperam (1952), Mônica e o Desejo (1952), Noites de Circo (1953), Uma Lição de Amor (1954), Sonhos de Mulheres (1955), Sorrisos de uma Noite de Amor (1955) e O Sétimo Selo (1956). É considerado o mestre do cinema sueco.
Bergman começava a ser conhecido internacionalmente como um autor complexo, atormentado e obscuro. Também destacam-se em sua trajetória os filmes Morangos Silvestres (1957, prêmio de melhor direção do Festival de Cannes de 1958), A Fonte da Donzela (1959, Oscar de melhor filme estrangeiro e Prêmio Fipresci de Cannes), Através de um Espelho (1961, Oscar de melhor filme estrangeiro e agraciado no Festival de Berlim), O Silêncio (1963), Vergonha (1968), Cenas de um Casamento (1973), O Ovo da Serpente (1977) e Sonata de Outono (1978).
De volta à Suécia filmou Fanny e Alexander (1982), uma obra sobre sua infância e sobre sua paixão pelo espetáculo, que recebeu quatro Oscar.
Após Fanny e Alexander, iniciou um ciclo de filmes para a TV, como Depois do Ensaio (1984), Diário de uma Filmagem (1986) ou Na Presença de um Palhaço (1997). Em 2003 dirigiu seu último filme, um longa-metragem para a televisão sueca, Saraband.
Seus roteiros posteriores foram levados ao cinema por outros produtores. Foi o caso do dinamarquês Bille August, de seu filho Daniel Bergman e de sua atriz favorita e ex-companheira Liv Ullman. Sua última obra para televisão foi como roteirista de Bergmanova Sonata, em 2005.
Em 2004, a televisão sueca SVT transmitiu um documentário de 180 minutos, a cargo da jornalista Marie Nyreroed, sobre a vida e obra de Bergman na ilha de Faro.
Em 18 de julho, Bergman fez um último relato público, de uma hora e meia, sobre sua vida pessoal e artística em um programa ao vivo da Rádio Nacional da Suécia.
Entre outras homenagens, Bergman possui os Prêmios Erasmus (1965), Internacional de Teatro Luigi Pirandello (1971) e Goethe (1976), a Medalha de Ouro da Academia Sueca (1977), o título de comendador da Legião de Honra francesa (1985) e a Palma de Ouro por sua carreira do Festival de Cannes (1997). É autor de suas memórias, intituladas Lanterna Mágica (1987), e dos livros Imagens (1990) e Conversas privadas (1996), entre outros.
Considerava a si mesmo como um homem de teatro, "é toda minha vida", enquanto o cinema era para o diretor "um trauma e uma paixão", segundo ele.
Com nove filhos, Bergman foi casado cinco vezes. A primeira com Elsie Fischer, com quem teve uma filha. Depois com Ellen Lundstrom, que lhe deu quatro filhos (entre eles uma atriz, Anna). Sua terceira e quarta mulheres foram, respectivamente, Gun Hagberg, com quem teve um filho, e a pianista finlandesa Kabi Laretei, mãe de seu filho Daniel, também diretor de cinema. Sua quinta esposa, Ingrid von Rosen, morreu em 1995.
À margem destes casamentos, Ingmar Bergman teve relacionamentos com as atrizes Harriet Andersson e Liv Ullman, com quem teve sua filha Linn, jornalista.
Após a morte de sua última mulher, Ingrid, em 1995, Ingmar Bergman passou a viver durante grande parte do ano na ilha de Faro, ao norte de Gotlan), no mar Báltico, que serviu de cenário para várias de suas obras.
Comandante da Legião de Honra, membro da Academia de Letras da Suécia e reputado dramaturgo, Bergman revelou sua vida privada e profissional nos livros Lanterna Mágica (1987), Imagens (1993) e Crianças de Domingo (1994), adaptado para a tela grande por seu filho Daniel."
5 comentários:
Morreu, sim. Dizem, inclusive, que ele foi a óbito ao saber que você havia aparecido no Domingo do Faustão.
Sem palavras. Vontade de correr à locadora, pegar várias obras bergmanianas e vê-las seguidamente, em uma singela porém justa homenagem.
Lembrei-me tanto de "Morangos silvestre" e a homenagem do realizador a Victor Sjostrom, diretor de "O coche da morte", um clássico do cinema sueco.
Voicê lembrou bem da sua obra citando "A fonte da donzela", que é um filme pouco comentado, mas, uma obra-prima...
Choremos pois, muito embora tenha tido uma vida longamente normal.
Creio, nunca deverá ser esquecido. Pelo menos enquanto a nossa geração; que conheceu o cinema (como tal) existir.
Sim, enquanto 'a nossa geração que conheceu o cinema como tal' (sic) existir. Sim, é verdade, creio que o cinema, naqueles termos do pretérito, morreu, acabou, não existe mais. A morte de Bergman é sintomático nesse sentido. Há poucas semanas, alguém me perguntou se Bergman ainda estava vivo. Disse que sim, que, ano que vem, 2008, iria fazer 90 anos. Como passa o tempo! Bergmam impressionou bastante, pela densidade, pela poesia, pelo pessimismo, pela maneira de tratar seus temas recorrentes, toda a minha geração. Vi 'Morangos silvestres' como uma revelação, assim como 'O silêncio', que vi pela primeira vez em cópia em 16mm numa casinha no bairro do Rio Vermelho, que patrocinava exibições de filmes raros nos anos 70 nesta bitola. Quem programava era o cineasta Agnaldo Azevedo (Siri), que foi assistente e diretor de produção de Glauber em muitos de seus filmes, e que faz, neste 2007, dez anos de morto. Siri projetava grandes filmes, isto em 1971, 1972, e nunca me esqueço de 'O silêncio', de Bergman, visto integralmente, porque a censura cortou um momento antológico. Havia, nos anos 70, até uma mania por Bergman por parte das pessoas mais esclarecidas no que foi chamado de 'bergmania'. 'Gritos e sussurros', quando lançado em 1974 no cinema Bristol, ficou quase dez semanas em cartaz.
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