O crítico de O Estado de São Paulo, Luiz Carlos Merten, escreveu em seu blog (que recomendo: http://blog.estadao.com.br/blog/merten/) sobre a figura singular de Walter da Silveira cuja obra completa (quatro volumosos livros) foi publicada no apagar das luzes do governo passado. Não fui ao lançamento porque no cativeiro hospitalar a esperar a hora e a vez de me submeter, para continuar vivendo e assistindo a filmes, a uma cirurgia de revascularização do miocárdio, a popular 'ponte de safena'. Pedi a um amigo que pegasse os meus exemplares. Quando, já restabelecido, veio me trazê-los vi que estava a resfolegar, pois os quatro volumes não possuem a leveza das penas de galinhas. A foto que ilustra o post ( não achei no Google nem no Msn uma foto de Walter da Silveira) é a da Sala Walter da Silveira, cinema alternativo vinculado à Fundação Cultural do Estado da Bahia. Mas vamos logo abrindo as aspas para o texto de Merten:
"Tenho certeza de que já falei, aqui, da minha admiração por Walter da Silveira, crítico que descobri na biblioteca do Colégio Israelita-Brasileiro, em Porto Alegre, quando lá trabalhava, no começo dos anos 70. Um dia fui procurar o que havia sobre cinema nas estantes e encontrei aquele volume – As Fronteiras do Cinema –, com uma seleção de críticas de Walter na imprensa baiana. O que ele escrevia sobre Kurosawa, Resnais e Antonioni pode ter ficado datado, ao não acompanhar o desenvolvimento desses autores, mas os textos sobre Trono Manchado de Sangue, Hiroshima Meu Amor e a trilogia da solidão e da incomunicabilidade permanecem irretocáveis. O passeio que Walter da Silveira dá pela história do cinema é tão brilhante quanto sucinto e vai ser sempre referência para quem o ler e acreditar, como ele e sua geração – alguns de nós ainda acreditam nisso –, que o cinema é um instrumento do humanismo. Pois bem. Cheguei hoje na redação e encontrei na minha mesa um pacote bem pesado. Abri e encontrei os quatro volumes que o Funcultura e o Governo da Bahia estão editando em homenagem a Walter da Silveira, com organização e notas de José Umberto Dias. O título, Walter da Silveira – O eterno e o efêmero, sai do discurso dele de posse na Academia Baiana de Letras, em 1966. Como eopígrafe, há uma frase – Fiquem essas palavras para lembrança de meus pais na memória de meus filhos. Foi uma coisa que me tocou tanto que quase choro, ao transcrevê-la. Folheando ao acaso, encontrei na página 70 do terceiro volume o que talvez estivesse procurando, inconscientemente – Walter da Silveira entrevista Glauber Rocha. Os dois analisam Redenção, de Roberto Pires – e Glauber diz que o filme inventou a técnica e inventou a produção do cinema da Bahia; Roberto quase repetiu os Lumière na Bahia, ele acrescenta. Também discutem o barroquismo no autor de Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, que Glauber define como seu filme baiano rodado no Rio. Glauber não se considerava barroco porque, como dizia, não queria estar preso a nenhuma escola ou tendência. Mas ele achava importante o sentido do barroquismo e dizia que sua tradição, inerente à baianidade, podia ser transmitida até o cinema. Vou procurar mais textos do Walter da Silveira sobre Glauber e/ou o Cinema Novo. Ainda estou sob o impacto da revisão que Nelson Pereira dos Santos fez de sua obra no Recife, negando sua vinculação com o Cinema Novo. Sabe lá o que vou descobrir agora pelo olhar de uma testemunha crítica (e privilegiada) daquela época. Mesmo que não descubra nada nesse sentido, vai ser bom reencontrar o pensamento de um grande crítico. A dedicatória, assinada pela filha de Walter, fala na lembrança do ‘companheiro imortal’ que ele, com certeza, foi."
3 comentários:
Setaro! revi ontem "On the Waterfront", Brando, mais brando que nunca Brando. Tenho certeza que aprecia...
Walter da Silveira.
Tivemos a honra de conhece-lo (você, melhor que eu).
Mas é insesquecível a sua paixão pelo cinema. E seu conhecimento sobre o mesmo.
Indubitavelmente um dos maiores conhecedores da sétima arte que o Brasil já teve.
Walter da Silveira não foi somente o maior crítico de cinema baiano, mas um dos maiores do Brasil. Não se deveria nem chamá-lo de crítico, mas de ensaísta, tal a sua erudição, tal a vastidão de seu conhecimento, tal o seu estilo barroco e fulgurante.
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