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07 maio 2007

Cinemas na Soterópolis



Quando comecei a freqüentar cinema e, principalmente, a partir do momento em que dei início aos comentários de filmes no jornal baiano Tribuna da Bahia, em 1974 – lá se vão 33 anos, o mercado exibidor baiano não era dominado por multinacionais, havendo, a controlá-lo e programá-lo, algumas companhias. A Condor, toda poderosa, comandada por Aloísio Ribeiro, e que tinha, como diretor administrativo dos cinemas, Francisco Pithon, a possuir, em seu controle, as melhores salas de exibição (Guarany, Tupy, Tamoio, Liceu, Popular, e Timbira, esta última em Feira de Santana). A Directa, dirigida por Adálio Valverde, que influía no Capri, Excelsior, Pax, Aliança, Rio Vermelho, e Nazaré. O majestoso Jandaia, independente. A Art, que surgiu modesta, numa salinha do Comércio, instalada para administrar o Bristol ( e também o ‘poeira’ Astor), que logo depois se transformou nos cinemas Art 1 e Art 2, a ter, como seu gerente, o pernambucano José Fernandes da Paz. E a Embrafilme, empresa brasileira, sustentada pela ditadura militar, criada como um ‘mimo’ aos cineastas brasileiros formadores de opinião nas mesas de bar da zona sul carioca. À frente desta, Nivaldo Mello Lima.

Em meados da década de 70, a indústria cinematográfica hollywoodiana atravessava uma grande crise, e a Condor foi a primeira empresa a intuir que os cinemas iriam fechar as suas portas. E aceitou a proposta da CIC (Cinema Internation Corporation), que viria a mudar para UIP (United International Pictures), transferindo seus contratos para esta. A classe cinematográfica protestou quanto a transferência do contrato do Guarany (cujo imóvel era propriedade do Governo do Estado) para uma multinacional. Os gritos não deram efeito imediato, mas, a longo prazo, quando a CIC, já querendo sair do negócio, perdeu o simpático cinema da Praça Castro Alves para a Embrafilme, que, numa jogada inédita e pioneira, e pela primeira vez no Brasil, passava a exercer poder no terreno da exibição, ainda que sua atuação, nesse campo, restrita à Bahia.

Com a saída de cena da Condor, e com a decadência progressiva do centro da cidade, as salas exibidoras instaladas neste foram também se acabando. O Popular fechou, o Liceu o acompanhou (já estava difícil e perigoso freqüentá-lo), o Tupy se desgarrou, virando casa de espetáculos pornográficos e ‘point’ de encontros ‘heterodoxos’, o Tamoio foi comprado pela Orient (de Aquiles Mônaco, que então surgia no mercado), e o Guarany, após a gestão embrafilmiana foi para em mãos da Art Films. Da esfera da Directa, o Capri sofreu sinistro em 1980 (penso ter sido incendiado de propósito), o Pax, o Aliança, o Rio Vermelho seguiram, assim como o Nazaré, o mesmo destino: foram fechados. O último dos moicanos parece ter sido o Jandaia, que também desapareceu. Atualmente, todos os cinemas citados estão fechados.

A partir de 1975, surgiram a Art Films, como já foi dito, e a Orient. A primeira foi se fortalecendo, principalmente após a construção do Shopping Center Iguatemi, e a instalação, nele, de dois modernos cinemas: Iguatemi 1 e Iguatemi 2. E o Bristol, seguindo a tendência de transformar salas grandes em duas menores, deu lugar aos Art 1 e Art 2. Quem mandava no circuito exibidor, neste período, era a Art, comandada com competência e engenho por José Fernandes da Paz. Os dois ‘Iguatemis’ eram a sensação do mercado. E o centro de compras não era o templo de consumo atual, ainda tinha certo acanhamento e encanto, sobre ser as salas com a melhor programação da cidade. O mesmo se pode dizer dos cinemas do Politeama, ‘filhos’ do antigo Bristol.

1998 foi o ano em que tudo mudou em termos de mercado exibidor com a entrada em cena do complexo Multiplex. Julho, precisamente, deste ano. As 12 salas do complexo deram um golpe de misericórdia nos poucos ‘cinemas de rua’ que ainda tentavam sobreviver: portas fechados para o Art 1, o Art 2, Guarany, Tamoio, entre outros. Com a chegada do Multiplex – que depois seria instalado no Aeroclube, houve um aumento na freqüência dos baianos ao cinema. Constatou-se uma demanda reprimida de 35%.

Se, por um lado, as salas do Multiplex oferecem conforto e boa projeção, por outro, no entanto, instalaram um modelo consumista de cinema mais propício a algazarra do que à contemplação do filme como espetáculo e expressão artista. Hoje em dia, vai-se ao cinema como se vai ‘shoppear’, ou melhor: a ida ao cinema é, apenas, uma das fases do processo de ‘shoppeamento’. O comportamento da platéia mudou, acompanhando a cultura degradante da atualidade, e é um grande sacrifício se ver um filme numa das salas do complexo num sábado de tarde, por exemplo. Reinam, absolutos, não o filme na tela, mas os celulares ligados, as conversinhas ao pé do ouvido, as risadas fora de hora, as pipocas mastigadas com estrépito, enfim, o caos.

Sob a perspectiva de um amante do bom cinema, que gostava de assistir a um filme naquele ‘estrondoso’ silêncio das antigas salas, sacudidas, às vezes, por uma piada bem articulada, considero a entrada em cena do Multiplex como a chegada de um rinoceronte ao mercado exibidor. Apesar da comparação um tanto quanto esdrúxula, penso, ao entrar numa das salas do Multiplex, sempre, na maravilhosa peça de Eugene Ionesco chamada ‘O rinoceronte’ (‘Le rhinocéros’). É tal e qual.

8 comentários:

Anônimo disse...

Em relação ao comentário na lista da ABCI (cuja imensa maioria dos e-mails deleto de imediato): Esse blog nunca é perda de tempo, meu amigo. Abrs!

Saymon Nascimento disse...

Tem freqüentado o Itaigara. Projeção perfeita e platéia dócil, mesmo que eu tenha a nítida sensação de que ninguém entende nada.

Minha sala preferida da cidade é a 8 do Aeroclube, que pego em sessões tardias para fugir dos barulhentos. A sala é larga e longa, sem essa inclinação que virou padrão. A gente entra pelo lado. Parece sala antiga, a gente fica longe da tela. Infelizmente, quase nunca tem coisa boa em cartaz.

Jonga Olivieri disse...

Aqui no Rio, tinhamos os cinemas de Severiano Ribeiro e Livio Bruni.
Havia também outras cadeias.
A multinacional era da Metro. Mas era excelente.
Severiano Ribeiro continuou, dando um updgrade no seu visual e ambiente para poder sobreviver aos Cinemark, etc da vida.
Mas ainda mantém o Roxy e o Palácio nas ruas.
De resto temos os estações Unibanco.
O cinema mudou, reconfigurou-se, foi inundado pelas pipocas e refrigerantes...
De resto, o cinema como alguns poucos conheceram acabou mesmo...

André Setaro disse...

Jonga é da minha geração e conheceu bem o esplendor dos cinemas. Infelizmente, esta é a verdade: a nova geração não pode ter idéia do cinema como 'função', da época de ouro das salas de exibição. No Palácio do Rio de Janeiro, por exemplo, após comprar o ingresso, andava-se um 'quilômetro', pisando em tapete aveludado, bem vermelho, fundo, até chegar à sala de projeção. Uma 'viagem' preparatória.

Anônimo disse...

Porque essa queixa toda?
Eu gosto de pipoca no cinema, e não preciso de ir ao cinema para pemsar.

Anônimo disse...

Setaro, fui seu aluno nos 80, ainda no Canela. Trampeei, hoje escrevo para ludibriar a morte. Leio sempre seu blog. Está muito bem, cada vez melhor. Abr. Carlos Barbosa

André Setaro disse...

Não se encontra em questão,'piripiponpom' o gostar ou não gostar de pipoca, mas a comilança imposta pelo consumismo desenfreado verificado nas salas de cinema. E porque os espectadores se comportam, quando dentro de uma sala de exibição, como débeis mentais, comem também a pipoca com muito barulho, com um mastigar ansioso de mandíbulas postas em ação para azucrinar, para fazer barulho. A pipoca é apenas um dos elementos desse processo monstruoso de massificação, de anestesiamento, de torpor. A pipoca em si é até gostosa. Nada contra. Como-a quando tenho oportunidade. Mas nunca no cinema.

Anônimo disse...

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Mon francais n'est pas tres bon, je suis de l'Allemagne.

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