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07 maio 2007

Girando a manivela


Vejo sempre o Canal Brasil (66 da Sky/Net). Sábado passado, no Tarja Preta, programa de entrevistas de Selton Mello, o convidado foi Gustavo Dahl, cineasta (O bravo guerreiro, Uirá, um índio em busca de Deus, Tensão no Rio), e gestor institucional, como ele próprio se declarou quando deixou, em 1982, de fazer filmes, dedicando-se a gerir uma distribuidora na extinta Embrafilme a convite de Roberto Farias, que então era o seu presidente. Dahl, nome muito conhecido daqueles que viveram o Cinema Novo, estudou no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma, Itália, juntamente com seu colega Paulo César Saraceni (há necessidade de uma revisão de seus filmes, que são importantes, a exemplo de Porto das caixas, que tem extraordinária análisae perfuratriz de Andréia Ormond do site Estranho Encontro - está linkado aí do lado, bastando um clique, Crônica da casa assassinada, O viajante). Mas o que me chamou a atenção na entrevista, e que veio corroborar a minha assertiva de que o cinema está morto, foi o que Dahl contou a respeito de sua chegada a Roma no inesquecível 1960 (falar nisso se fosse escolher um ano para ficar, nele, a vida inteira, escolheria o de 1958), quando, simultaneamente, estavam em cartaz: A doce vida (La dolce vita), de Federico Fellini, A aventura (L'avventura), de Michelangelo Antonioni, Rocco e seus irmãos (Rocco i suoi fratelli), de Luchino Visconti. Fato único e exemplar de um momento histórico.

Se Saraceni tem uma filmografia a considerar, o fato é que O bravo guerreiro, filme sobre a angústia de um deputado consciente na inconsciente política partidária brasileira, envelheceu, é falado demais, gritado demais. E Uirá, ao contrário, silencioso demais, mas sem que, deste silêncio, possa fazer emergir alguma poética. Não vi - e gostaria de ver - Tensão no Rio, que me parece, pelas imagens que assisti no Canal Brasil, soltas, o melhor filme de Gustavo Dahl, que é uma pessoa muito bem articulada e bastante inteligente, mas que, infelizmente, não possui o touch.

O programa de Selton Mello é muito bem conduzido. Já o Sem Frescura, de Paulo César Pereio, está pachorrento, com seu entrevistador com uma diccão irreconhecível para quem conhece o bom ator que foi, falando para dentro, e com um non chalance que me parece forçado. Mas o pior dos programas é o Retalhão, de Zéu Brito, por causa de suas gargalhadas constantes e despropositadas. Talvez se mitigasse as suas risadas...

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