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15 abril 2007

Sem título


Um diretor como Francis Ford Coppola, que, como ele próprio afirmou em entrevista, é um “artista-industrial” em cuja filmografia, no entanto, acumulam-se êxitos indiscutíveis do ponto de vista da criação cinematográfica (O poderoso chefão – todos, A conversação, Apocalypse now, No fundo do coração, para ficar, apenas, em quatro exemplos), ao realizar O homem que fazia chover (The rainmaker), em 1997, ilustrando, para o cinema, um best seller de John Grisham (sobre as agruras da profissão de advogado e suas máfias subjacentes), pretendeu usar seu talento em função de uma história bem contada e que pudesse envolver o espectador. Neste particular, conseguiu o intento. O erro está em se exigir dos cineastas que sempre façam o mesmo filme, ou que consigam, a cada realizado, superar o anterior. Mas em The rainmaker, que acabei de rever em DVD, se não se pode compará-lo a outros filmes do realizador, não se pode, também, condená-lo, mas dizer que é um filme que atende perfeitamente ao propósito de sua elaboração: direção de eficiência dramática impressionante, com um sentido de duração das tomadas único, timing perfeito, elenco que se afina aos personagens o que faz o casting brilhante, e uma fábula com toques de imaginação ficcional, ainda que possa ser reduzida a um filme de tribunal. Toques laterais, porém, humanizam o relato, a escrita coppoliana: os diálogos de Matt Dimon com Claire Danes, vítima de um marido brutal e pela qual o rapaz se apaixona (Matt é um advogado de causas perdidas, um idealista que, por acaso, por causa da mudança de um juiz, vê possibilidade de ganhar um causa de valor humanitário), os diálogos entre o advogado e suas clientes, certas situações a latere que Coppola as trata com singular poeticidade, etc. Jon Voight, que se destacou como o ingênuo rapaz interiorano que se introduz na selva de pedra novaiorquina em Perdidos na noite (Midnight cowboy, 1969), é o advogado da companhia fraudulenta de seguro cujo presidente é Roy Scheider. A veterana Teresa Wright tem uma participação simpática, assim como Dean Stockwell.

Revendo Cinema Paradiso, belo e sensível filme de Giuseppe Tornatore, que saiu em versão estendida em DVD com quase 3 horas de projeção, há um momento em que é projetado na velha sala de exibição La terra trema, de Luchino Visconti, todo filmado numa aldeia de pescadores e falado em dialeto próprio. Observei que há forte influência de La terra trema em Barravento, de Glauber Rocha, filme, aliás, que era muito falado naquela época, quando o neo-realismo era uma fonte inesgotável para os cinemas novos do mundo todo. Mas voltando a Nuovo Cinema Paradiso, foi bem ter visto a sua versão estendida, mas a outra que passou nos cinemas, cortada por Franco Cristaldi, o produtor, concentra melhor a temática, que fica diluída no filme de maior duração. O cinema cede, neste, lugar ao romance entre Jacques Perrin e Brigitte Fosey (que não aparece no Cinema Paradiso que foi visto nas telas). O fato é que a música de Ennio Morricone assombra. Trata-se de um gênio em sua especialidade. Ganhou, merecidamente, um Oscar especial, que lhe foi entregue por Clint Eastwood. É um monstro sagrado. Um dos poucos partituristas que ainda resistem ao lixo do cinema contemporâneo.

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