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31 agosto 2009

De coração partido




O repórter fotográfico ad hoc Jonga Olivieri (ad hoc porque, na verdade, é um publicitário tarimbado e faz um free lance para este blog com sua máquina digital) enviou mais duas fotos de dois cinemas do Rio de Janeiro: em cima as ruínas do Plaza e embaixo o Metro-Passeio (a imagem à esquerda o mostra em plena atividade e a da direita é a atual). Admirador dos cinemas cariocas, este bloguista sente o desaparecimento das magníficas salas da Cidade Maravilhosa e vê, aterrado, as ruínas do Plaza, enquanto as pipocas e as guloseimas triunfam nas salas dos complexos, quer sejam os Multiplex, quer sejam os Cinemarks (e assemelhados). No Metro-Passeio, que tem este nome porque ficava em frente ao Passeio Público, vi vários filmes, e me recordo, especialmente, de A filha de Ryan (Ryan's daughter, 1970), quando o cinema instalou projetores na bitola de 70mm. Dirigido por David Lean, com a sua habitual competência de narrador, Ryan's daughter, filmado na Irlanda, no telão do Metro-Passeio irradiou emoção pela sua belíssima fotografia a mostrar Sarah Milles com sua sombrinha sendo carregada pelo vento implacável sob os olhares argutos de Robert Mitchum e sob a batuta melódica de Maurice Jarre. Fazer o quê diante de uma sessão tão estimulante? Na saída, ir ao Amarelinho na Cinelândia para pensar o filme aos goles parcimoniosos de chopes bem tirados (aqueles chopes somente encontradiços no Rio de Janeiro). Era o que se poderia chamar de uma tarde inesquecível como matinée cinematográfica. Acredito que meu repórter fotográfico também deve ter se atirado aos pés do divino Chopp carioca (e aqui a maiúscula se faz mais do que necessária).
Tirei, e sem pedir licença, estas informações que vão abaixo, do site de Luiz Darcy, Saudades do Rio, que falam sobre o Metro-Passeio. Vamos a elas:
"O Metro-Passeio, inaugurado em 1936 na Rua do Passeio nº 62, chegou a ter 1821 lugares e, como se vê na foto, ficava ao lado da loja da Mesbla (em determinada época a Mesbla propôs arrendar o Metro para exibir sessões gratuitas para os seus clientes). O Metro-Passeio foi o segundo cinema do Rio a ter ar refrigerado (o primeiro foi o pequenino Varieté, que funcionou na Av. Atlântica nº 1080, de 1935 a 1942). É um exemplo de "art déco": o uso da verticalidade bem acentuada com suas linhas em direção ao infinito sugere um arranha-céu típico da cidade de Nova York."
E mais, e do mesmo site, uma notícia de jornal, com a ortografia da época:
"Um dos eventos mais sensacionaes do anno de 1936, foi sem duvida alguma a inauguração do Cine Metro. O Rio ganhou um de seus mais bellos e confortaveis cinemas. Deante de todos os factores que se apresentaram nesso novo cinema, não mais tornou-se crível a permissão das casas antigas com as mesmas pretensões. Foi o ponto de partida para uma remodelação, um melhoramento em regra. A cinematographia no Brasil ficou dividida em duas epocas: antes e depois do Metro".
Um comentário de Ana Lúcia no mesmo site (http://fotolog.terra.com.br/luizd:422):
"A Cinelândia é um "jardim precioso" de estilos arquitetônicos grandiosos. Há, na Praça Floriano, uma sucessão de prédios art-decó e semi-art-decó. Além do cinema Odeon (totalmente art-decó) o Metro BoaVista é um excelente exemplo deste estilo, que foi moda no Rio, mais encontrado nesta região. Os cinemas Metro foram um marco de excelência em salas de cinema, com prédios sempre muito bem projetados, em estilo sempre lindíssimo, muito acima dos outros cinemas todos, em termos de luxo e conforto internos. Mas, a mim me parece, às vezes, que o brasileiro em geral, não gosta de luxo e conforto, não gosta de ver belos prédios. Levando-se em consideração que os governantes são eleitos pelo povo e, em tese, o representam, o que se vê é sempre, na história do Rio, a substituição da tradição e da beleza pelo modernismo de gosto duvidoso. E do conforto das antigas salas de cinema pelas salinhas pequenas ou pelos grandes "depósitos de cinéfilos".
P.S: O Metro Passeio foi assim denominado em substituição a seu antigo nome Metro Boa Vista.

14 comentários:

Jonga Olivieri disse...

O coração partido foi o que senti ao contemplar a situação do Plaza.
A do Metro ex-Passeio, ex-Boavista, como bem explica na sua matéria ainda passa meio batida, pelo menos não choca.
Nós que pegamos o cinema em atividade sentimos a sua falta, mas quem passa por ali e não sabe, vê um prédio normal.
Mas o "velho" Plaza...
Ali assisti "O Príncipe Valente" (1954) de Henry Hathaway, uma superprodução com um elenco estelar como James Mason, Janet Leight, Debra Paget, o próprio Robert Wagner.
Mas assiti também "Godzilla" (o japa - original), também de 1954.
Voltando aos Metro (os três), tinham um ar condicionado de se parar no auge do verão para ficar na sua porta e sentir aquele gelinho gostoso. Na época, este aparelho (hoje tão comum) ra artigo de luxo.
É isso aí, Professor. Vamso continuar fotografando e registrando a memória dos cinemas que se foram nesta Rio de Jnaeiro cheio de cinemas iguais nos Multiplexes da vida!

André Setaro disse...

Falou, Jonga. Vou lhe solicitar um trabalho, também free lancer, o de tirar umas fotos de chopps cariocas.

Jonga Olivieri disse...

Será um prazer... digo, um duplo prazer!
Brindisi!
Ou, mais apropriadamente por se tratar de cerveja: toast!

Tucha disse...

Parece que estas magnificas salas de cinema vão ficar mesmo na nossa memória. E nem só estas luxuosas salas cariocas, mas os pequenos cinemas das pequenas cidades. A minha cidade Ilhéus, chegou a ter acho que 4 salas de cinema. Depois de mto tempo sem nenhuma agora tem um "duplex", o antigo cinema foi dividido em 2 salas.

Jonga Olivieri disse...

Mais uma, André, o blogue que você indicou (Saudades do Rio) para mostrar o cinema Metro é simplesmente sensacional.
Já o adicionei aos "Meus Favoritos"...

Julio disse...

Olá, Setaro! Já viu "Amantes", de James Gray? Lindo filme, um dos melhores do ano, desde já. Prova cabal de que bom cinema não se faz com roteiros espertinhos, cheios de reviravoltas (este em questão chega até a ser previsível, em diversos momentos) mas sim com imagens, belíssimas imagens, atores, som... Ah! Cabe a recomendação: não sei como está a projeção no Multipocaplex Iguatemi (se for em película, vou rever o filme por lá), mas não aconselho a exibição digital (do Cine Glauber e Cinema do Museu): a cópia está escura, as cores esmaecidas, quase um DVD (mal) projetado. Uma lástima!

Rafael Carvalho disse...

Olá professor Setaro, tudo bem?

Meu nome é Rafael Carvalho e trabalho na assessoria de imprensa da Mostra Cinema Conquista que se realiza aqui na cidade de Vitória da Conquista. O senhor já participou várias vezes do evento. Estamos organizando o mailing e gostaríamos de atualizar o email do senhor para possíveis contatos. Meu email é rafasomebody@hotmail.com. Aguardo resposta, então.

Abraço!!!

André Setaro disse...

Os cinéfilos, caro Júlio, estão a engolir moscas com as projeções digitais que não se encontram a respeitar o formato original dos filmes. Alguns filmes vistos em digital parecem realmente DVD mal projetadol. Creio valer um artigo a chamar a atenções daqueles que gostam de ver os filmes na sua integridade.

André Setaro disse...

Jonga, sim, um duplo prazer. Fotografa o chopp, antes, bem entendido, e depois o bebe.

Romero Azevêdo disse...

Ótimas fotos Jonga.Lembro que o Metro Passeio/Boa Vista foi o primeiro do Rio a utilizar projetores com lâmpada Xenon, aposentando o velho sistema de carvões( isso nos anos 1970)

André Setaro disse...

Você está sumido, Romero. Mas, voltando ao Metro Boa Vista/Passeio, lembro-me agora do Cine Mesbla, pequeno, que ficava no último andar do prédio dessa casa comercial. Por algum tempo, serviu como teatro, mas a partir de 1970 também passava filmes. Se não me falha a memória, foi lá que vi, com Jonga, "Agora você é um homem", primeiro longa de Francis Ford Coppola. Vi outros filmes também no Mesbla, a exemplo de "Shane", quando foi relançado no Brasil.

Jonga Olivieri disse...

Obrigado Romero. Continuarei a pesquisa.
Mas, para além disso o Professor Setaro me passou uma tarefa de tirar fotos de chopes espumantes, chopes maravilhosos.
Fotos que teem que ter alma.

Romero Azevêdo disse...

Alguns trabalhos extras na UFCG( elaboração de um projeto político-pedagógico para um novo curso de graduação em Comunicação)me ocupam e me afastam( temporariamente, é bom frisar !)do blog mais atraente e inteligente da Web World.
Quanto ao cineminha do último andar da Mesbla só lembro mesmo do teatro , onde aliás nunca botei os pés.O primeiro de Coppola ví no velho Babilõnia aqui mesmo. A trilha sonora , do grupo Lovin Sponful, inclui a bela canção "Lonely".

Jonga Olivieri disse...

Fui muito no Cine Mesbla. Você até lembrou de termos visto um filme do Coppolla que eu nem me recordava.
Era "pequena, porém decente" aquela sala.