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26 maio 2009

Revisão crítica do cinema brasileiro

A crítica cinematográfica no Brasil sempre se caracterizou pelo desprezo absoluto ao cinema popular, ao cinema feito para agradar o grande público e, por questões ideológicas, sempre fez vista grossa a projetos que não se enquadravam nas suas expectativas de um registro mais engagée, a exemplo da coerente e bela filmografia de Walter Hugo Khoury, desconsiderado pela intelligentsia como proposta de um cinema alienado e fora da realidade brasileira. O preconceito, aliás, está patente desde as chanchadas cariocas que foram desprezadíssimas pela chamada autoridade crítica, e somente vieram a ser apreciadas décadas depois (o livro Este mundo é um pandeiro, de Sérgio Augusto, é um exemplo). O vírus cinemanovista contaminou de tal maneira os bem-pensantes que, de certa forma, veio a provocar a contraproducente mania autorística que tanto prejudicou a feitura de obras menos pretensiosas e mais adeptas ao mercado cinematográfico. Não se pode deixar de considerar, por outro lado, que o Cinema Novo projetou o país no exterior e produziu algumas obras-primas do cinema brasileiro (Deus e o diabo na terra do sol e Terra e transe, de Glauber Rocha, Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, Os fuzis, de Ruy Guerra, entre outras).
Se a chanchada era execrada, a predileção pelas temas nobres também deixou de lado todo um cinema mais popular feito de comédias de costumes que, sem uma exegese mais elaborada, foi tachado sem mais nem menos de pornochanchadas, além dos filmes oriundos da Boca do Lixo paulistana como os exercícios de sensualidade explícita assinados por cineastas como Cláudio Cunha, Afrânio Vidal, Alfredo Sternheim, Jean Garrett, entre muitos outros. Premiava a crítica os filmes oriundos das panelinhas costumeiras, idealizados na zona sul carioca entre um chopp e outro nos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Andrea Ormond, no seu original blog Estranho Encontro, está a fazer uma verdadeira revisão crítica do cinema brasileiro, a resgatar um período significativo da cinematografia nacional que ficou fora do, por assim dizer, anais críticos oficiais. Seu trabalho é inédito, feito com lucidez e coerência, numa escrita bem articulada, a devolver ao cinema nacional o quanto foi perdido pelo preconceito, pelo desprezo, e, por que não? pela estupidez por parte de um crítica desenvolvimentista e assanhada na procura desesperada do novo e do engajado.
Já a contar com um grande acervo de críticas, a se constituir numa universidade sobre o cinema brasileiro não autorizado pela intelligentsia, o blog de Andrea Ormond, concorde-se ou não com suas opiniões, é de competência inegável e merece uma obrigatória visita para, pelo menos, aprender-se alguma coisa sob outro ponto de vista que não os correntes na imprensa brasileira. Eis aqui o seu endereço: http://estranhoencontro.blogspot.com/
Para se poder ler o que está escrito na imagem é necessário um clique nela para a devida ampliação em outra janela.

11 comentários:

Adilson Marcelino disse...

Caro Setaro,
O Estranho Encontro é leitura obrigatória e diária.
Como também o é o seu blog.
Um abraço,

Marcelo Miranda disse...

De fato, Setaro, o trabalho de Andrea na prospecção do cinema brasileiro "fora do eixo" é fundamental à pesquisa e memória nacionais. E também importante esta sua divulgação aqui no blog. Outro trabalho merecedor de destaque na mesma linha é o de Adilson Marcelino, que tem um site dedicado especialmente às figuras femininas da nossa tela. O endereço: www.mulheresdocinemabrasileiro.com /// Fiz uma entrevista com Adilson sobre este trabalho há alguns meses, que pode ser lida copiando este link: http://www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdEdicao=1162&IdCanal=4&IdSubCanal=&IdNoticia=99960&IdTipoNoticia=1

Gabriel Carneiro disse...

De afto, o que há de melhor na internet sobre cinema brasileiro.

André Setaro disse...

O site de Adilson Marcelino, Marcelo, sempre o visito e o conheço há algum tempo. Você precisa fazer uma visita, se já não a fez, a seu blog 'Insensatez' cujo endereço pode ser encontrado aqui ao lado neste blog.

Marcelo Miranda disse...

Setaro, o blog do Adilson também é leitura e diversão garantida! Legal a dica, como sempre. Somos "conterrâneos" de cidade, ele e eu residimos em Belo Horizonte. Abraço!

Andrea Ormond disse...

Setaro, sempre percebi em vc a coragem e a erudição imensas, dessas que fazem falta na crítica cinematográfica. A intenção do Estranho Encontro é a de nadar contra as obviedades que vc bem apontou. Lutar contra essa falta de vontade de se abrir olhos ao que não é clichê. Agradeço este belo post; vindo de vc, o torna ainda mais precioso. Está guardado, desde logo, num escaninho muito especial da memória. Abraços

Jonga Olivieri disse...

Excelente o blogue Estranho Encontro.
Excelente também esta sua postagem. Valeu!

André Setaro disse...

Obrigada Andrea por suas palavras.

Adilson Marcelino disse...

Obrigado Marcelo pela indicação do site e obrigado Setaro pela indicação do blog.
Tais indicações vindas de vocês me enche de alegria.
Abs

Anônimo disse...

Grande professor Setaro, o blog da Andrea é genial e ela merece todo reconhecimento que está tendo. As críticas dela são muito inteligentes e ela tem um olhar muito sensível pelos nossos realizadores. Espero que ela continue fazendo este bom trabalho por muitos anos.

Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com

www.

Romero Azevêdo disse...

Setaro, grande indicação. O site é inteligentíssimo e esbanja charme, sem falar na dignidade. Gosto muito do cinema brasileiro, especialmente dos anos 50,60 e 70 e vibrei com as críticas a filmes como "Em familia", "Roberto Carlos em ritmo de aventuras" , "Meu pé de laranja lima" e "Minha Namorada"( numa fria tarde do outono carioca vi por acaso uma filmagem desse filme na rua Montenegro- hoje Vinicius de Moraes-, era um travelling com Pedro Aguinaga e Laura Maria). Sobre o cinema brasileiro "oculto" e ignorado pela "inteligentzia" recomendo também o depoimento de 2 horas e 25 minutos dado por Sganzerla ao MIS de S. Paulo e que integra os extras do DVD "Sem essa, Aranha" lançado pela Lume Filmes.
P.S. Sua entrevista no K-7, como sempre, desafina o coro dos contentes.