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08 maio 2009

É para matar ou curar?

Passei, em novembro e dezembro de 2006, quase dois meses hospítalizado. Tive um cinematográfico enfarte agudo do miocárdio e penei até que fossem implantadas duas majestosas pontes de safena. A bem da verdade, fui muito bem tratado pelos médicos e enfermeiras, ainda que algumas destas, principalmente quando no inferno do Centro de Tratamento Intensivo - as famigeradas UTIs, gostassem de exibir autoridade porque, frustradas, precisam, nestas oportunidades, exercer poder. E nada melhor para o exercício do poder do que em cima de um paciente, de um ser temporariamente inválido. Mas de um modo geral, feita a ressalva, sou muito crítico em relação a médicos, que, na sua grande maioria, tirante as sumidades de praxe, são arrogantes e ignorantes. Lembrei-me deste artigo ao ler a notícia de que a Faculdade de Medicina da UFBa foi considerada uma das piores do Brasil pelo MEC. A bem da verdade, esta faculdade era considerada um centro de excelência há algumas décadas atrás, com sumidades da área como Estácio de Lima, Fernando Carvalho Luz, Fernando São Paulo, entre muitos outros. O que está a acontecer? Estamos rolando ladeira abaixo? O texto que vai abaixo foi tirado da internet e quem o escreveu foi Sérgio Gwercman.
Dr. Vernon Coleman, tem 57 anos, gosta de escrever livros de ficção e já publicou 12 romances. Divide seu tempo entre o interior da Inglaterra e uma cobertura no centro de Paris. Sofre de "cotovelo de tenista" nos dois braços por causa da má postura ao digitar. Diz que os hospitais mais matam do que curam e que é preciso ser muito saudável para sobreviver a um deles.

Por Sérgio Gwercman
Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências, Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo : "Como Impedir o seu Médico de o Matar" Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica - para ele, a grande financiadora da decadência - e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos.

Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente?

Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família. Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o quão rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso. Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis. Ao lado do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na testa dizendo "Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde"
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Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos?
A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas. Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões racionais sobre utilizá-los ou não em seus tratamentos.

Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes?
A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes empresas farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo caridade de igreja. Acompanhando didaticamente alunos do 6º ano (prestes a entrar na vida profissional) constatei que apenas 5% conhecia a farmacocinética dos produtos que propunham aos pacientes. Entre profissionais experientes não consigo estimar, no entanto suponho ser porcentagem menor, pois a prática usual em vários empregos com períodos extensos e irregulares diminuem a possibilidade de aprender, especialmente bioquímica e farmacologia. Para aumentar este problema, temos alterações periódicas na composição dos produtos comerciais com vistas a aumentarem o preço, por serem considerados medicamentos novos. O que dificulta mais ainda o escasso tempo médico dedicado à atualização.

E o que os pacientes deveriam fazer?
Enfrentar doenças sem tomar remédios?É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios. Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do processo natural de autocura do corpo. Problemas no coração podem ser tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercícios e controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um médico. Mas não de remédios.Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico?É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas. É muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis e capazes de fazer mais bem do que mal.

Que problemas os remédios causam?
Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão, confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e disfunções sexuais como frigidez e impotência.Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida?Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o doente com remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo. Aqui no Brasil pudemos constatar o mesmo durante greve prolongada de médicos no Rio de Janeiro

Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?
Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer dizer que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas, muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o treinamento adequado. Medicina alternativa não é necessariamente melhor ou pior que a medicina ortodoxa. O melhor remédio é aquele que funciona para o paciente.
Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário?Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que não sabiam nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raios-X e mesmo assim faziam diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente. Infelizmente tenho constatado mais agravantes neste aspecto de exames:
1- 70% dos resultados de exames onde os pacientes referem que estão normais (ditos pelos médicos que solicitaram) tenho encontrado alterações documentadas no próprio exame (constado nos valores de referência). Isto reflete dupla negligência; do médico que não valorizou a alteração e do paciente que não se dignou a comparar seus resultados com os valores de referência fornecidos.
2- Alguns exames esclarecedores muitas vezes não são solicitados ou valorizados, entre eles cito dois que são pungentes: marcadores tumorais e pesquisa de sangue oculto nas fezes.
3- Realizam exames que já não têm nexo em nosso contexto, como, por exemplo, a mamografia (o ultrassom de mamas é muito mais sensível nos processos iniciais, como tem noticiado fartamente nossa imprensa popular há 3 anos e as publicações técnicas há 7 anos).
4- Solicitam exames caros e arriscados sem indicação clínica adequada (o exemplo aqui é do cateterismo cardíaco - embora eu sempre insista neste assunto, aconteceu com minha família dois acidentes com o contraste durante cateterismo, um por indicação monetária e não clínica e o outro com indicação clínica que resultou em óbito durante o exame)
5- Aonde é importante os exames laboratoriais ao invés de exame físico, a maioria insiste no exame físico. Aqui o exemplo mais pungente é o toque retal para avaliar próstata, pois o ultrassom pode mostrar dezenas de vezes melhor do que a palpação, indicando nodulações (ou outras alterações) internas ou na face anterior onde não é possível palpar. Semelhante perspectiva podemos assumir perante o toque vaginal para avaliar útero e ovários.
6- Solicitam exames complexos e/ou arriscados sem terem realizados os exames mais simples e inócuos previamente. Aqui podemos utilizar o exemplo do ecocardiograma (ultrassom cardíaco) sem Eletrocardiograma ou Rx de tórax prévios. Aqueles que quiserem entender melhor sobre exames, sugiro o link indicado nos meus link favoritos: Guide to Clinical Preventive Services, of Columbia University Medical Center.

Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas?
Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados. Qual o sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas farmacêuticas ganham com um sistema como esse.

O que você faz para cuidar da saúde?
Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos colaterais

10 comentários:

ARMANDO MAYNARD disse...

Caro Setaro, sempre achei o comportamento dos médicos e advogados arrogantes e prepotentes. Os advogados acham que o terno e a gravata são suas armaduras, já os médicos o jaleco e o estetoscópio. Aliás, até hoje não entendo porque os médicos, mesmo quando estão carregando sua pasta na mão, continuam usando o estetoscópio pendurado no pescoço. Sempre achei que as faculdades de direito ensinam ao advogado abordar o acusado com um tipo de arrogância intimidatória, deixando o préjulgado em desvantagem de defesa. Já o médico, com um poder de alguém dono do paciente, pois o considera uma pessoa leiga, que não sabe e entende nada de sua doença, tanto que se ousarmos falar qualquer coisa, eles dizem logo que o nome está errado e que nós lemos na internet e que hoje é uma mania do paciente querer saber da doença mais do que o médico. Como toda regra há exceção, é claro que tem muitos médicos e advogados que são pessoas humanas e educadas, que tem paciência e consideração e olham o paciente e o cliente com respeito humano. Não gosto de remédio, acho que a diferença do remédio para o veneno está na quantidade. Hoje as farmácias vendem igual ao mercadinho e ultimamente para facilitar, se juntaram, pois tudo começa na boca mesmo. Além do brasileiro se automedicar, por dificuldades de ter acesso ao péssimo Serviço Público de Saúde, de uma precariedade discordada somente pelo presidente Lula, que sempre acha que tudo está bem no Brasil, o pobre povo brasileiro ainda é submetido a massificante propaganda pela televisão, com remédios sendo indicados por algum artista global. O remédio, essa droga oficializada, tem nos efeitos colaterais, seu grande mal. Vicia e acomoda as defesas do organismo, deixando de criar anticorpos, ficando o mesmo dependente, nunca podendo deixar de usar. È bem verdade que tem casos que realmente são necessários que o paciente seja medicado, mas acho que pela desinformação, o brasileiro toma muito remédio. Brinco de que hoje, ao encontrar os amigos da minha geração, já não pergunto mais sua idade e sim quantos remédios o mesmo está tomando. É preciso que nos aproximemos mais da natureza, procurando em nosso lazer, o campo e o mar, para nos desintoxicarmos de tudo que em excesso vem nos angustiando e estressando, como a correria do dia-a-dia, a grande quantidade de notícias, o consumismo exagerado. Tudo isso tem afetado demais a nossa saúde, principalmente o modo como nos alimentamos. Hoje se faz refeições rápidas e esse prazer é pouco aproveitado, dificilmente hoje se reúne toda a família em torno de uma mesa na hora das refeições, onde antigamente tinha-se o costume de se ficar conversando. A sesta já é um hábito do passado. Por tudo isso, nossa saúde está sendo trocada por bens de consumo, quinquilharias descartáveis pela velocidade tecnológica. È uma correria para o túmulo. Um abraço, Armando. [recomentarios.blogspot.com]

André Setaro disse...

Concordo inteiramente com sua opinião. No meu caso, tomo remédios por real necessidade, pois sou hipertenso e realizei uma intervenção cirúrgica: aspirina infantil, pressat, atenolol e higroton. A entrevista com o médico americano, achei-a bastante lúcida e coerente. Ele tem razão no que diz.

Jonga Olivieri disse...

Caramba! Um verdadeiro compêndio de medicina!

Anônimo disse...

Setaro, por que o filme "Máfia de Branco", italiano de 1973(salvo engano), sumiu do mapa ? Nunca foi reprisado, não foi lançado em VHS, não apareceu no DVD e acredito que no Blue-Ray também não aparecerá. O que houve com este filme ?

Romero Azevêdo disse...

O comentário sobre "Máfia de Branco" é de nossa autoria, esqueci de por o nome.

André Setaro disse...

Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de fevereiro de 1977

"Curiosos destinos de certos filmes: "Bisturi, a Máfia Branca", do italiano Luigi Zampa, realizado há 7 anos passados,denunciando o comercialismo da medicina moderna, tem sido implacavelmente perseguido no Brasil pelas entidades médicas, em nome de um discutível "código de ética". Embora denunciando fatos ocorridos na Itália, a carapuça deve ter servido a muitos médicos brasileiros que tem pressionado suas associações para impedirem a exibição do filme, liberado pela Censura Federal em 1972, sem cortes.

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Lançado no cine São João, em 1972, "Bisturi, a Máfia Branca" ficou apenas dois em cartaz e apesar das boas rendas obtidas a Fama Filmes o retirou de cartaz, pressionada. Em Belo Horizonte, no ano passado, o fato repetiu-se, sendo então denunciado nacionalmente pela revista "Veja". Uma publicação oficial de médicos condenou o filme, conclamando a classe a boicota-lo de todas as formas, utilizando os meios de pressão possíveis para impedir que o público o assistisse.

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Mas apesar disso o filme de Luigi Zampa continua a ser exibido, embora esteja em vias o seu prazo de Censura. Ontem, foi relançado em programa triplo no mais poeira dos cinemas de Curitiba, o Arlequim, espremido entre um filme de lutas orientais orientais ("O Dragão Contra o Tigre Chinês") e uma misteriosa produção nacional, que chega sem qualquer informação maior ("Terra Quente"), Inclusive, tratando-se de um cinema popular, com programa triplo, geralmente constituindo de reprises, a exibição desse filme passaria totalmente desapercebida, mas como há centenas de espectadores interessados em conhecê-lo, aqui fica a dica: apesar do mau cheiro do cinema, hoje o mais abandonado da circuito da Fama Filmes, e incômodos horários (aproximadamente às 15 e 19,15 horas, o filme está sendo projetado) vale a pena conhecer essa denúncia sobre os raros maus médicos e que, estranhamente, vem sofrendo tão tenaz campanha por parte das entidades da classe. Afinal, carapuça pode servir a alguns profissionais que não honram ao juramento de Hipócrates, mas coletivizar a campanha compromete toda a classe."

Anônimo disse...

algumas reclamações eu discordo. tem médicos bons e médicos ruins, advogados bons e advogados ruins, jornalistas bons, outros ruins, assim como cinéfilos bons, outros detestáveis. Tratar o paciente como se fosse da família, é uma falácia. Médicos têm direito ao strees, já que não possuem o direito de errar. Não acho que a falta de afeto por parte dos médicos seja um problema. Problema é a imprudência. Pra ser doutor o cara não tem obrigação de gostar de quem quer que seja, mas sim de cuidar bem.

André Setaro disse...

Com todo o respeito, e respeitando a opinião do 'anônimo' acima, este, pelo que parece, é um médico.

Veronica Arteira disse...

Se os médicos necessitassem de atendimento em algum hospital ou consultório onde não tivessem sua identidade profissional reconhecida, iam sentir na pele as agruras de quem depende do atendimento deles, da atenção aos exames, de uma palavra mais agradável quando tudo em volta é o caos. Não generalizo, porque já encontrei alguns bons (e raros)profissionais quando precisei. O pediatra dos meus filhos, que tinha sido meu pediatra, era um deles. Muitas vezes eu saía de seu consultório e guardava a receita na bolsa, porque só a atenção e orientação do Dr. Tacinho, mais que o medicamento, já me dava a certeza de que tudo ia ficar bem.

André Setaro disse...

De médico e de louco, todos nós temos um pouco.