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17 maio 2009

Da selvageria nas salas de cinema


É um inferno a ida, atualmente, ao cinema para ver um filme, principalmente nos complexos dos shoppings. Mas a falta de educação, a gestualidade brutal, a ausência de respeito, não se restringem apenas às salas dos dominantes centros de compras. Também nas salas alternativas, verifica-se o mesmo comportamento selvagem. Nestas, a maioria é constituída de pseudos-cinéfilos, pessoas que querem aparecer, se mostrar. Mas antigamente não era assim? perguntou-me um gaiato com um saco de pipocas na mão? Não, não era assim, o público se comportava e, nos chamados cinemas poeiras, havia uma certa agitação, gritos, mas tudo em interação com o filme, uma espécie de torcida. Ir ao cinema hoje para mim é um inferno. É preciso escolher as sessões vazias.
Para que o processo de comunicação seja perfeito, segundo dizem os comunicólogos, entre a emissão e a recepção não deve haver ruídos. Estes, no entanto, estão presentes quando se vai atualmente às salas exibidoras de filmes, não importa sejam elas situadas em complexos, sejam elas consideradas alternativas, porque a falta de polidez e educação está generalizada. Entre os ruídos mais notórios que atrapalham sobremaneira a contemplação da obra cinematográfica, e os mais incomodativos, pelo menos na minha visão idiossincrática, estão aqui quatro exemplos:
1) Conversa ao celular. O telefone portátil deve ser desligado por todo o cinéfilo que se preza. Atendê-lo, durante a projeção de um filme, se constitui numa agressão ao próximo, num desrespeito a seu semelhante. A começar do toque da chamada, que se diversifica e tem seu volume cada vez mais alto. E as conversas, as abobrinhas descarregadas, que azucrinam aquele que, querendo apenas contemplar o filme, fica obrigado a escutá-las.
2) A comilança. Se antes tínhamos o barulho do amassar dos sacos de pipocas, e das mandíbulas ansiosas a mastigá-las, atualmente a sala exibidora se tornou um fast food, onde se come de tudo. O espectador, logo quando entra, chega a carregar uma bandeja plena de comida e guloseimas diversas.
3) Conversinhas descabidas. Os espectadores conversam durante o filme, o que incomoda muito. Vale observar que as conversas, geralmente papos demenciais, referem-se aos fatos de suas vidas cotidianas. O filme, impávido, rola na tela, indiferente às combinações urdidas no escurinho da sala.
4) Risadinhas fora de hora. Decididamente, a maioria dos espectadores que vai ao cinema, hoje, não está muito interessada no que se passa na tela, não. O ir ao cinema se constitui, apenas, numa das fases do shoppear. Mas, então, o comportamento das pessoas é completamente dissonante, principalmente quando riem de situações que nada têm de engraçadas. Há, na verdade, um fosso cultural, entre a cultura da platéia e a cultura dos personagens na tela, quando o filme não faz parte do lixo cultural.Há muitos outros ruídos entre a emissão e a recepção de um filme. Mas vamos ficar, por ora, nestes quatro, os mais abusados e irritantes. O fato é que o comportamento da platéia atualmente vem em decorrência de seu comportamento diante da televisão, principalmente nas novelas. A teledramaturgia televisiva, porque um discurso aberto, condicionou de tal maneira o consumidor, que, quando este vai ao cinema, se comporta da mesma maneira que se comporta ao ver televisão, não considerando que o filme, ao contrário da novela, é um discurso fechadíssimo, limitado em seu tempo, em sua duração. Quem gosta de ver um filme com atenção, em silêncio, sofre muito hoje em dias nas salas dos chamados complexos. Mas o interessante é que esse comportamento vândalo não se limita aos Multiplexes, mas está a ser notado, também, nas chamadas salas alternativas, redutos de pseudo-intelectuais e pseudo-cinéfilos.Sacrifica-se, hoje, indo-se ao cinema, a sensibilidade.

Veja-se, na imagem, a contradição: uma propaganda do governo sobre educação pelo vídeo que tem a pipoca como atrativo. O que vejo nisso é a ignorância, a deseducação e o caos.

17 comentários:

Carlos disse...

Tal como você, André, e como cinéfilo inverterado, sinto o mesmo. A experiência de ir ao cinema deixou de ser o que era.

dri disse...

A situação é mesmo deplorável, por diversas vezes deixei de entrar numa sessão simplesmente porque estava excessivamente lotada e sabia que a tortura seria inevitável. Justamente por isso não vou mais ao cinema como ia antigamente, o que é uma pena, pois nenhum LCD do mundo substitui a ligação do espectador com aquela sala tão mágica.

Emmanuel Mirdad disse...

"(...)Uma propaganda do governo sobre educação pelo vídeo que tem a pipoca como atrativo(...)".

Caro, o caos, ainda não. Este, quando virá, vai exterminar com tudo. Eu ainda acredito. Nem que seja um meteoro.

Jonga Olivieri disse...

Nunca é demais comentar sobre a selvageria das salas exibidoras nos tempos em que vivemos.
Isso está a afugentar dos cinemas muita gente que justamente aprecia a arte do filme.

André Setaro disse...

O público, antigamente, fazia silêncio durante a exibição dos filmes, silêncio que era cortado por alguma piada espirituosa, realmente engraçada. Nas salas de segunda categoria, os 'poeiras', havia, como disse no 'post', certa gritaria, mas tudo em função da interação com os acontecimentos dramáticos do filme.

Sei que o celular ajuda muito em certas ocasiões. Mas a sociedade de consumo estimula o seu uso de maneira indiscriminada. E não há nenhum respeito quanto à sua utilização. As pessoas ligam muito seus celulares nos cinemas enquanto da exibição de um filme. E isso é insuportável.

Mas para dar um exemplo de piada engraçada em tempos idos nos cinemas.

Há uma cena em 'Joana D'Arc, com Ingrid Bergman na qual, em plano fixo, ela sobe quase dez degraus de uma escada em direção ao cadafalso. Ao pisar no sétimo, olha para trás, isto é para a câmera, para o espectador. Um sujeito ficou para a segunda sessão somente para fazer a piada. Quando Ingrid está a pisar no sétimo, ele grita: "Joana!". Ela, então, olha para a câmera. E ele: "Não é nada não, pode ir!" E ela então continua a subir.

Allex Rocha disse...

O nosso maior problema é a falta de educação geral. Exceto algumas instituições particulares ou públicas que contribuem de fato para a formação de um Cidadão na sua completude. Não tenho dúvida alguma que vivemos uma barbárie pós-moderna ou para alguns moderna! O fato é que caminhamos para o abismo cultural, sobretudo os jovens e adolescentes brasileiros, com exceção de um “pouquinho de nada”, “um tiquinho” assim!

Stela Borges de Almeida disse...

Professor, nada a comentar depois do seu grito contra a selvageria, concordo, mas não vale generalizar. Assisti ontem um obra prima de Jacques Rivette "Ne touche pas la Hace" ou
"The Duchess of Langeais" ou "Não toque no machado" numa sala silenciosa, atenta, acompanhando os créditos finais para descobrir a trilha sonora. Tudo isso na Província da Bahia, bem no centro da cidade, com estacionamento na porta do cinema, em companhia de gente ainda interessada na sétima arte. Temos ou não escolha?

André Setaro disse...

Os casos excepcionais existem Stela, mas a regra é a bagunça, a demência, a falta de educação e de respeito. Há, e é necessário generalizar, um processo de regressão, de retrocesso, nesta sociedade que é chamada de pós-moderna.

Eduardo César disse...

Lembro que assisti a animação Coraline, no Iguatemi, num domingo à tarde. Achei que seria um inferno. Mas o que vi foi uma sala cheia de crianças silenciosas, entretidas com uma bela história. Até que uns três adultos, certamente os pais, começaram a atender o celular. Lembro de uma dondoca falando, rapidamente, algo sobre a manicure, já no fim do filme. Ou seja, é um problema de falta de educação irritante e grave, de fato. Sou solidário à sua indignação, pois sinto isso também, na pele e nos nervos. Quanto às "salas alternativas", confesso que raramente presencio esse tipo de selvageria. Mesmo cheias, sinto a diferença em ver um filme na Sala do Museu, na Vitória, por exemplo. É bem melhor. Se for um "pseudo-intelectual", que seja, eu não me importo... Se for educado, não vejo problema. Mas, só pra constar, um dos problemas que mais me tiram do sério são os pontapés que dão nas poltronas. Constantemente, nas salas de shoppings, um animal atrás de mim, ou põe os pés na minha poltrona, ou não se importa em chutá-la, diversas vezes.

Anônimo disse...

Mania pós- moderna a falta de educação geral. Isso contribuí para que mais e mais downloads sejam feitos para ser assistidos num projetor caseiro, numa HD qq... E a falta de salas no Brasil deixará de ser sentida...

Anônimo disse...

É André, em São Paulo já faz alguns anos que desisti de Cinemark's e UCI's. Não entendo por que as pessoas pagam para entrar no cinema e conversar. Mas esse tipo de desrespeito ao outro é generalizado. O pior é que não parece que isso diminuirá com o tempo, ao contrário, parece-me que a tendência é piorar.
A única saída que vejo é abrir um cinema onde seja realmente proibido fazer tudo isso que você comenta. Nesse cinema utópico, haveria seguranças que, ao menor sinal de desrespeito, levariam essas pessoas para fora da sala. Aqui em São Paulo ainda há esperança. No Cine Bombril, Espaço Unibanco ou no HSBC Belas Artes ainda dá para curtir um filme sem interrupções ou estresse.

Um abraço,

Fernando Giannini

André Setaro disse...

O inferno, e inferno dantesco, instalou-se nas salas de cinema a tornar impossível a visão de um filme com a concentração necessária.

Rodrigo disse...

Caro Setaro, acho que vc continua exagerando demais nas críticas. A concentração de cada um ainda vale muito, pois tudo isso que vc relcamou em nada me atrapalha. Meu mundo se fecha e Deus pode descer ali que eu não percebo.
Obiviamente, que o problema da educação é crônico e as pessoas exageram e fazem o que querem dentro de uma sala exibidora, mas esse tipo de crítica tem de ser falada com cautela para que não se confunda isso com elitismo. Isso sim seria podre.

André Setaro disse...

Caros Jonga, Rodrigo, Anônimo, Valeska, Eduardo César, Allex Rocha, Stela, Mirdad, Dri e Carlos,

Obrigado pelos comentários.Concordo com a maioria deles. Quanto ao de Rodrigo, que o mundo pode estar pegando fogo e ele não deixa de ficar concentrado naquilo que quer, não posso concordar. Sou pessoa neurastênica, que se incomoda sobremaneira com os ruídos "a latere". Cada um tem a sua natureza, as suas idiossincrasias. Nada de elitismo, mas apenas a vontade que querer ver um filme em respeitoso silêncio. E, além do mais, já sou um homem de idade. Cada um tem suas idiossincrasias específicas. Gosto até de pipoca. Mas não mastigadas a meu lado. Detesto, por exemplo conversar com uma pessoa a mastigar chicletes. Procuro ir embora.

spring disse...

Pelos vistos a educação também anda por aí pelas ruas da amargura.
Abraço cinéfilo
Paula e Rui Lima

Anônimo disse...

Concordo plenamente com o seu desabafo. Poucos são os que respeitam a exibição de um filme com interrupções desnecessárias...
Mas aquela participação na sessão do filme "Joana D´Arc" foi impagável!!!

Anônimo disse...

Concordo com tudo ... e diria ainda para o Rodrigo, e se algum objeto fosse lançado na sua cabeça? Mesmo assim não atrapalharia? Pq foi exatamente isso que aconteceu com pessoas ao meu lado na última vez que fui ao cinema, além da gritaria exagerada, das risadas desnecessárias, das conversinhas paralelas, as "pessoas" do fundo costumam atirar coisas nos outros, latinhas, garrafas e sabe Deus mais o que. Eu to louca pra assistir a Era do Gelo 3 em 3D, mas juro que o caos que eu presenciei na última vez que fui a cinema tá me desanimando total. abraço.