 Quem assiste a um filme como Assalto ao trem pagador (1992), de Roberto Farias, a música incidental é tão perfeita que entra no inconsciente do espectador, assim como em A grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962), ambos de Roberto Pires, entre tantos outros. A saída de cena do maestro Remo Usai representou uma grande lacuna para a música no cinema brasileiro. Nenhum outro pode lhe ser comparado, pois Usai sabia fazer partituras incidentais comparáveis as do cinema americano - que tem mestres insuperávéis: Miklos Rozsa, Victor Young, Max Steiner, Henry Mancini, Dimitri Tiomkim, Bernard Herrmann, Elmer Bernstein, David Raksin, entre tantos!! Vi ontem, domingo, no Canal Brasil, um documentário precioso, de autoria de Bernardo Uzêda, sobre o maestro: Remo Usai, um músico de cinema, que o apresenta ao piano a dar um interessante depoimento.
Quem assiste a um filme como Assalto ao trem pagador (1992), de Roberto Farias, a música incidental é tão perfeita que entra no inconsciente do espectador, assim como em A grande feira (1961) e Tocaia no asfalto (1962), ambos de Roberto Pires, entre tantos outros. A saída de cena do maestro Remo Usai representou uma grande lacuna para a música no cinema brasileiro. Nenhum outro pode lhe ser comparado, pois Usai sabia fazer partituras incidentais comparáveis as do cinema americano - que tem mestres insuperávéis: Miklos Rozsa, Victor Young, Max Steiner, Henry Mancini, Dimitri Tiomkim, Bernard Herrmann, Elmer Bernstein, David Raksin, entre tantos!! Vi ontem, domingo, no Canal Brasil, um documentário precioso, de autoria de Bernardo Uzêda, sobre o maestro: Remo Usai, um músico de cinema, que o apresenta ao piano a dar um interessante depoimento.Em meados da década de 50, Remo Usai tinha uma idéia fixa: ser músico de cinema. E foi aos Estados Unidos tentar se inscrever num curso dado por Miklos Rozsa (Ben Hur, Quando fala o coração...), sumidade absoluta, húngaro, compositor extremamente erudito e criativo.Para fazer o teste, passou alguns dias num biblioteca com o fone de ouvido a ouvir as partituras de Rozsa. E foi aprovado. Na sua volta ao Brasil, começou a fazer partituras para vários filmes, enriquecendo-os sobremaneira.
A saída de cena de Remo Usai, creio, deveu-se aos novos rumos tomados pelo cinema brasileiro, principalmente quando do advento do Cinema Novo, que dava preferência a um outro tipo de musicalidade para o acompanhamento das cenas. O imenso talento de Usai já não servia aos propósitos de um nova maneira de representar o real. Em Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos, por exemplo, a música vinha do ranger do carro de boi. E em Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha, o lado musical estava apoiado numa espécie de cantoria cordelista.
Quero recomendar aqui um site excelente sobre música de filme (http://www.scoretrack.net/), editado por Jorge Saldanha, e tomo a liberdade de transcrever um pertinente comentário sobre a importância de Remo Usai (tirado do site referido e acho que escrito pelo próprio Jorge Saldanha):
                          "O recente evento                                                     MÚSICA EM CENA - 1º Encontro Internacional de              Música de Cinema             não foi relevante só por trazer ao              público brasileiro              nomes como Ennio              Morricone e Gustavo Santaolalla. Ele foi importante também por colocar              na pauta de discussões do meio artístico e acadêmico a música              composta para a tela grande, o que valoriza o trabalho dos              profissionais que lidam com esta arte ainda pouco reconhecida,              pelo menos em nosso país.             Um desses profissionais é o maestro Remo Usai, que por cinco décadas              dedicou-se ao cinema, criando partituras para mais de uma centena de              filmes e documentários nacionais, e inclusive para algumas produções              internacionais rodadas no Brasil. Mesmo assim o nome do maestro, que              inclusive teve aulas com o lendário             Miklos Rozsa, é              desconhecido fora de círculos restritos. Mas, pior do que a falta de reconhecimento de              público e crítica, é a questão dos direitos autorais, que não              permitiu até hoje que o compositor tivesse um retorno à altura do              valor que sua música agregou aos filmes para os quais contribuiu.
           
            Meu primeiro contato com o maestro Remo ocorreu no coquetel do Theatro              Municipal do Rio,  logo após o concerto de Morricone.              Conversamos por um bom tempo, e mantivemos outros contatos nos              painéis que se desenrolaram durante a semana, aos quais o veterano              artista compareceu e onde, inclusive, recebeu merecidas homenagens              dos participantes. Num deles o maestro me presenteou com este CD,              contendo seleções musicais de várias trilhas incidentais que compôs              ao longo de sua carreira. As composições são uma esplêndida amostra da formação clássica              do compositor, e de sua habilidade em combinar elementos              tradicionais da música do cinema com elementos e ritmos típicos do              Brasil.
           
            O CD inicia com "Pão de Açúcar", da              co-produção Brasil/EUA Sugar Loaf, estrelada por Rossano              Brazzi e Ronda Fleming. A música é uma agradável e leve bossa nova              que poderia muito bem ser atribuída a             Henry Mancini              ou Lalo Schifrin,              e nela destaco o excelente arranjo para as cordas. Sem dúvida,              traduz aquele sentimento de "Cidade Maravilhosa" típico dos antigos              filmes. Seguimos com "Assaltantes em Fuga", faixa que integra a              sua partitura mais importante - a do antológico Assalto ao Trem              Pagador, dirigido por Roberto Farias em 1962. A  faixa              é um típico underscore que usa percussão de samba, metais,              cordas e piano para criar uma atmosfera de suspense.  Temos após a bucólica "Tônia", tema              principal do romântico Férias no Sul, que traz um belo solo de              gaita de boca de Maurício Einhorn, acompanhado por cordas.
           
            Temos mais suspense que ação em "A Fuga", outra composição              incidental criada para o filme Manaus, uma aventura              co-produzida por Brasil e Alemanha. O ritmo percussivo e as cordas              evocam uma locomotiva em "Trem Maria-Fumaça", de Pega              Ladrão. O filme ganhou o prêmio principal do Festival              Cinematográfico do Distrito Federal em 1958, e na ocasião Ely              Azeredo, da Comissão Julgadora, destacou o sólido profissionalismo              da música que Remo Usai compôs. Cello, flauta e violão              conduzem a evocativa "O Compasso do Tempo", do filme Pantanal de              Sangue. O documentário Bola de Meia ganhou um prêmio na              Itália, e para ele Remo criou o delicioso tema de mesmo nome pleno              de brasilidade, em ritmo de samba e com vocais femininos típicos de              bossa nova.
           
            Os sintetizadores, substituindo violinos, são ouvidos pela primeira              vez no disco em "Mistério das Origens", do documentário homônimo              feito para a TV portuguesa. Já "Mandacaru", de Mandacaru Vermelho, é              uma canção com ritmo nordestino composta em parceria com Pedro Bloch              e cantada por Os Cariocas.  Remo Usai também compôs para comédias e chanchadas, como Costinha              e King Kong. Para este filme o maestro criou a simpática "A              Dança do Feiticeiro", adicionando à instrumentação tradicional guitarra wah              wah e moog, instrumentos em evidência nos anos 1970. A              melancólica "Um Vira-Lata Chamado Lupércio" é de Os Trapalhões              nas Minas do Rei Salomão, e traz um belo solo de piano que evoca              o lado "chapliniano" desta comédia de Renato Aragão e sua turma.
           
            "Katu", da produção norte-americana How I Lived as Eve,              combina elementos de bossa nova e samba para acompanhar um clube de              nudistas que passa três meses numa ilha deserta do Brasil. Já a              canção "Maria Bonita", do filme Maria Bonita, Rainha do Cangaço,              recebeu letras de Miguel Borges que, juntamente com a orquestração              forte, refletem a determinação da personagem-título. "Boca de Ouro"              é o tema do filme homônimo de Nelson Rodrigues, que destacou a              trilha sonora de Remo usai como uma obra-prima que valorizou              sobremaneira seu filme. A bela "Cachoeiras", do documentário              Cânticos Brasileiros, traz uma emotiva melodia onde mais uma vez              o maestro destaca os violinos, acompanhados por piano, guitarra e              percussão.
           
            "A Batalha Intergaláctica", do desenho As Aventuras da Turma da              Mônica, como não poderia deixar de ser faz referência a                    Guerra nas Estrelas, não diretamente à sua trilha sonora mas sim a "Marte,              O Deus da Guerra", da sinfonia "Os Planetas",          de Gustaf Holst, que foi uma das inspirações de             John Williams para              a trilha sonora do filme de George Lucas. Para esta partitura o              maestro utilizou quarenta músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro              Municipal, o que garantiu a grandiosidade exigida pela orquestração.              Finalmente "O Cerco", de O Caso Claudia, é uma faixa de ação              no estilo das trilhas de filmes policiais norte-americanos dos anos              1970, com base de bateria, baixo e guitarra, sobre a qual metais e              violinos desenvolvem a melodia.
           
            Para encerrar esta resenha com uma consideração final sobre a música              de Remo Usai, deixo para vocês as palavras que escreveu Pedro Bloch,              nas notas da trilha sonora de Assalto ao Trem Pagador: "Tem              momentos de enorme pureza rítmica, curiosa instrumentação, timbres              inesperados, mais fruto de sua fecunda originalidade que motivados              pelo desejo de espantar. A música não procurou, em momento algum,              estrelar a película. Por outro lado, ouvida isoladamente, constitui              por si só obra que dignifica um artista de categoria que serve à              Sétima Arte com imensa nobreza: Remo Usai". Da minha parte, não              poderia dizer melhor. Maestro Remo, foi uma honra tê-lo conhecido."
 
 
2 comentários:
Setaro, num dia triste como hoje que marcou as mortes de Ankito e Maurice Jarre("Doutor Jivago", "Lawrence da Arábia" etc), encontro nesse começo de madrugada este belo post sobre Remo Usai, compositor que nos tira o complexo de vira-latas em relação as trilhas-sonoras do cinema. Vida longa para o grande compositor brasileiro !
Grande Romero,
Se Remo Usai não alcança as dimensões de genialidade como Miklos Rosza (seu mestre), Bernard Herrmann, Max Steiner, entre tantos outros do cinema americano, pode ser comparado aos excelentes partituristas desta grande cinematografia. Nunca vi no cinema brasileiro partituras tão envolventes e precisas como as feitas por Usai. Sabia, como poucos, incorporar o "espírito" das situações, e dar, à narrativa, uma força surpreendente. "Assalto ao trem pagador", de Roberto Farias, "A grande feira" e Tocaia no asfalto", de Roberto Pires, entre outras evidentemente (como analisa bem Jorge Cerqueira) são exemplos irrefutáveis de sua competência. Creio que o cinema nacional perdeu muito com o descaso em relação a Remo Usai, que está aí, ainda que já um senhor idoso, feliz de ter vivido, mas sem a glória que lhe é devida. Mas as suas trilhas, nos filmes, são o testemunho de sua excelência. Um dia serão notadas e glorificadas.
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