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31 março 2009

...E lá se foram eles


Duas mortes quase no mesmo dia: a de Ankito e a de Maurice Jarre. O primeiro, grande comediante das chanchadas nacionais, e o segundo, imenso compositor de partituras inesquecíveis (coincidentemente, quando da morte de Jarre, postei um comentário sobre Remo Usai, o maior partiturista do cinema brasileiro). A frequência das notícias de falecimento é assustadora. Praticamente, de dois em dois dias, se tem a informação da ida de uma personalidade importante do universo das artes.

Comecei a ir ao cinema nos anos 50, como já disse aqui inúmeras vezes, e, nesta época, predominavam as chanchadas, que vi quase todas. Posso estar errado, mas creio que Ankito (assim como Zé Trindade) foi aproveitado por Herbert Richers para fazer concorrência aos filmes de Oscarito (da Atlântida). Grande Otelo, que era o parceiro habitual de Oscarito nas chanchadas da Atlântida, transferiu-se (e, neste ponto, não sei explicar direito) para a empresa de Herbert Richers para fazer dupla com Ankito. Será que houve algum atrito de Grande Otelo com a Atlântida? Romero, socorra-me! Vou procurar pesquisar no excelente livro sobre a chanchada de autoria de Sérgio Augusto e que se chama Este mundo é um pandeiro. O fato é que, em meados dos anos 50, Oscarito ficou sem a companhia de Otelo. Não creio que tivesse sido uma mal entendido entre este e Oscarito, porque o grande cômico não brigava com ninguém. Mas onde está Grande Otelo em De vento em popa, O homem do sputnick, entre outros? Grande Otelo passou a trabalhar em parceria com Ankito: De pernas p'ro ar (19560, de Victor Lima, Metido a bacana (1957), um sucesso de bilheteria sem precedentes, Pé na tábua (1957), de Victor Lima, É de chuá (1957), de Victor Lima, Garota enxuta (1959), de J.B. Tanko, Pistoleiro Bossa Nova (1959), de Victor Lima, Vai que é mole (1960), de J. B. Tanko, Um candango na Belacap (1960), de Roberto Farias, etc. Era um comedianté notável mas nunca um gênio como Oscarito.


Maurice Jarre foi um partiturista que deu muita força aos espetáculos cinematográficos musicados por ele, principalmente os filmes de David Lean. Para ser lembrado sempre. Gosto imensamente de quase tudo que fez, principalmente das partituras de Passagem para a índia e de A filha de Ryan, ambos de Lean. E destaco a sua música transcendente em Toute la memoire du monde (1956), de Alain Resnais,
La tête contre les murs (1959), de George Franju. E deste mesmo surpreendente diretor francês, Os olhos sem rosto (Les yeux sans visage, 1960), além de Judex, que não vi, mas ouvi dizer que tem partitura impressionante.

Acredito que Jarre, sobre ser um artista excepcional e de fina sensibilidade musical, depois que ficou famoso aceitou muitos trabalhos de encomenda que não lhe inspiravam. Ghost, por exemplo, filme execrável, que tem partitura assinada por ele, não a deixou registrada na minha memória, assim como outras obras menores que Jarre partiturou. Mas é a sobrevivência que comanda o espetáculo até que, um belo dia, a Implacável ou, como dizia Machado de Assis, a Indesejada das gentes, vem buscar os terráqueos de plantão. Que a terra lhe seja leve, Maurice Jarre!!

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