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03 abril 2008

O artesão de sonhos

O artesão de sonhos é um documentário realizado por Petrus Pires e Paulo Hermida sobre o grande cineasta baiano que foi Roberto Pires. O primeiro, filho deste, está a resgatar a memória do pai, um dos maiores artesãos do cinema brasileiro, como se pode verificar pelos depoimentos e pelos trechos do documentário. Há alguns momentos preciosos, a exemplo da avant-première de Redenção, primeiro longa baiano, no cine Guarany, há quase quarenta anos atrás. E trechos deste filme cujo pioneirismo é indiscutível e realizado com uma lente anamórfica (cinemascope) inventada por Roberto Pires.
A estrutura de O artesão de sonhos se estabelece pelos depoimentos de pessoas que conviveram com o grande cineasta, trechos de filmes e material de arquivo onde se vê Pires a trabalhar durante a rodagem de alguns de seus filmes, além de fotografias fixas. Há momentos de inspiração por parte de Petrus e Hermida, principalmente na parte final, quando, aproveitando uma cena de Abrigo nuclear (1980), no qual o próprio Roberto Pires trabalha como ator, mostra este a olhar para uma tela e, nesta, aparecem algumas informações sobre ele, como se Pires estivesse a ler o que os cineastas escreveram. A imagem, de repente, do close up do realizador, congela a alegria em seu rosto. Em outro momento, há um saque bem funcional de montagem: uma ambulância que sai em Césio 137 (1990) para, corte, outra entrar em cena em disparada, mas, nesta tomada, em A grande feira (1961).
Zenilton Barreto, Orlando Senna, Oscar Santana e César Pires (filho também de Roberto) são os depoentes de O artesão dos sonhos. Zenilton fala sobre o projeto de Césio 137, a investigação feita pelo cineasta para saber toda a verdade acerca do acidente que vitimou várias pessoas em Goiania. Roberto entrevistou com vagar um a um dos sobreviventes e o resultado é a sinceridade e a pungência de Césio 137. É bem possível que o câncer que o matou tenha sido uma conseqüência de seu contato com o objeto radioativo durante a rodagem do filme, que, entre outros atores, tem Nelson Xavier e Joanna Fomm nos principais papéis. Césio 137 foi o derradeiro filme de Roberto Pires, sua despedida do cinema. Tinha, quando morreu, e já feitos alguns registros, o projeto de Nasce o sol a 2 de Julho, cujo roteiro é de Rex Schindler e narra os episódios culminantes da vitória dos baianos durante a sua data magna, quando conquistaram a independência dos portugueses.
Orlando, que saiu da Secretária do Audiovisual do Minc direto para a Tv Brasil, conta que foi assistente de direção de Roberto em Tocaia no asfalto, um thriller que demonstra o talento de Pires e tem duas seqüências fundamentais como registro e prova de sua competência como metteur en scène: a tentativa de assassinato de um político dentro da Igreja de São Francisco e a sua consumação no cemitério do Campo Santo. A abertura é explosiva com o tiro certeiro que Roberto Ferreira (Zé Coió) toma na testa. Orlando Senna explica como foi feito.
Oscar, que trabalha com Pires desde Redenção, disse que Roberto Pires não foi à avant-première deste filme pioneiro. Porque não gostava de agitação. Pires não era de dar entrevistas, nunca gostou de aparecer. Era pessoa de lhano trato, discreta. O artesão de sonhos dá uma visão geral de sua importância como diretor de cinema. É o maior realizador que o cinema baiano já teve, descontando, aqui, Glauber Rocha, que é internacional.
O documentário de Petrus Pires e Paulo Hermida tem o resgate e a inteligência de nos fazer lembrar, pelo itinerário documental, a figura exemplar de um grande realizador, de um pai e de um artesão de sonhos, que se tornaram realidade.
Clique no foto do cartaz para vê-lo ampliado em outra janela

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Deve ser um documentário interessante este sobre Roberto Santos.
Gosto, particularmente do título "O artesão de sonhos", que define muito bem a essência do cinema.
"Tocaia no Asfalto" e "A Grande Feira", creio, são as obras mais conhecidas do diretor baiano, apesar de "Redenção" ter a importância de ter sido a primeira.
Já "Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia", um filme baseado em depoimentos das vítimas do acidente nuclear ocorrido em Goiânia em 1987 e estrelado por um elenco como Joana Fomm e Paulo Betti, entre outros, foi um trabalho muito discutido à época de seu lançamento.
Espero que "O artesão de sonhos" tenha sucesso, uma forma de deixar marcada a sua obra.

Anônimo disse...

Viva Roberto Pires !
Setaro, o artesão dos sonhos não pode ficar confinado nas prateleiras dos filmes não exibidos. Eu por exemplo gostaria de ter uma cópia em DVD para exibição em sala de aula( ministro a partir do próximo dia 23 a disciplina "Cinema Brasileiro" no curso de graduação em Arte e Mídia da UFCG.) Como fazer ?