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08 dezembro 2007

Todas as mulheres do mundo



Elogio à beleza da mulher amada e do amor, crônica da vida ociosa de Ipanema e Leblon no ápice de seu encantamento como paraíso da alegria de viver, Todas as mulheres do mundo (1967), de Domingos de Oliveira, pode ser considerada como uma das melhores comédias do cinema nacional em todos os tempos. Realizada nos sisudos tempos do Cinema Novo, quando a discussão da problemática do drama do homem brasileiro surgia como preocupação principal dos cineastas, Domingos de Oliveira, aqui em sua obra de estréia como realizador, nada contra a corrente e propõe o retrato de uma geração, na sua busca pelo amor, visto no filme como uma necessidade vital. A inspiração, veio-lhe de Leila Diniz (que poucos anos depois se tornaria uma figura emblemática da vida carioca), que fora sua mulher por um tempo, mas houve a separação, dolorosa para Domingos, porque ainda a amava. Segundo declarações do cineasta, Todas as mulheres do mundo é um filme feito com o propósito de reconquistá-la.
O cinema de Domingos de Oliveira é um cinema que reflete as relações afetivas e amorosas. O realizador sabe construir seus textos em função da explicitação dos mistérios do amor. Todas as mulheres do mundo, surpreendentemente em se tratando do primeiro filme de Oliveira, possui uma estrutura narrativa ágil e inteligente, diálogos ricos, engraçados e envolventes. Apesar de uma produção realizada com pouco orçamento, com as locações feitas em casas de amigos e no próprio apartamento do autor, além das externas em pontos do Rio de Janeiro, o filme se realiza dentro das restrições impostas pela produção. Há uma dinâmica rítmica que faz lembrar alguns filmes do inglês Richard Lester nessa fase. O filme revela que Domingos de Oliveira estava a par das últimas novidades conquistadas pela linguagem cinematográfica naqueles anos efervescentes dos 60. Assim, materiais de diversas procedências se inserem no desenrolar da narrativa, como livros abertos, desenhos, e uma fala coloquial nova no cinema brasileiro da época.
O cineasta, após o sucesso de Todas mulheres do mundo, fez vários outros filmes ainda na mesma década: Edu, coração de ouro (1968), As duas faces da moeda (1969), e, ainda, um documentário sobre um fenômeno da época: É Simonal. (filme pouco referido quando se comenta a filmografia desse realizador) A década de 70 lhe propiciou uma obra atípica: A culpa, entre outras. Depois de um lapso de tempo sem fazer cinema, voltou em 1998 com Amores, que se aplica a tratar do relacionamento amoroso entre os indivíduos, assim como outros que se lhe seguiram: Separações (2002), Feminices (2004), e Carreiras. Todos realizados com pouca verba e no sistema de cotas, compartilhadas pela equipe.
Em Todas as mulheres do mundo, dois amigos se encontram. Um, Flávio Migliaccio, é celibatário, não acredita no amor. O outro, Paulo José, pensa o contrário, e conta a sua história. O filme, portanto, desenrola-se em flash-back, a mostrar o encontro de Paulo com Leila Diniz, que vem a conhecer numa festa. O filme é o retrato apaixonado do relacionamento dos dois: o cotidiano deles, suas brigas e separações. Mas o seu amor por ela fez com que ele abandonasse ‘todas as mulheres do mundo.’ É a celebração de Leila Diniz, mulher bela, cativante e de esfuziante personalidade que veio a se tornar uma celebridade dos agitados anos 60. Envolvente, belo, Todas as mulheres do mundo é uma obra que, além de marcar uma época, retratando-a, é também, uma análise arguta e bem humorada dos sentimentos humanos.
Quando o vi em 1967, surpreendi-me pela sua narrativa moderna, ágil, envolvente. Mas ainda se segura passados 40 anos. É um clássico. O texto, escrito por mim, tirei-o do blog da Casa de Cinema, onde o filme pode ser encontrado (http://www.blogdacasadecinema.blogspot.com/) A Casa de Cinema é uma locadora onde se pode encontrar preciosidades da sétima arte. Para contato, ligar para Robert Midlej: 3334.4409. Fica à rua Odilon Santos, Shopping Rio Vermelho.

3 comentários:

Jonga Olivieri disse...

"Como diz leila Diniz... homem tem que ser durão...".
Caramba, você me empurrou no tempo.
Independente de achar "Todas as mulheres..." uma comédia que marcou o seu tempo, antes de mais nada, a Leila... bom, ela foi o símbolo emblemático de uma geração. Não só de mulheres, mas uma corrente de pensamento e comportamento humanos.
Lembro-me que soube de sua morte em um bar de Ipanema, mais precisamente na Praça General Osório, centro de tudo, centro da fuzarca ipanemense, da banda, enfim...
E alí, tomando um chopinho com minha mulher, então recém-casados, ficamos chocados com o desaparecimento tão prematuro e doloroso da atriz (dublê de musa e símbolo) nas lonjuras de um vôo interrompido na Índia. Doloroso momento que não esqueço, jamais.
Quanto a Domingos de Oliveira tem o seu papel marcante e marcado na comédia nacional de todos os tempos. Por toda a sua obra, mas principalmente por este bem lembrado filme marcante em sua obra.

André Setaro disse...

Domingos, Jonga, é um cineasta atípico no panorama do cinema brasileiro. No meu comentário do blog, fiz alusão a uma possível influência de Richard Lester na estrutura narrativa de 'Todas as mulheres do mundo'. Lester, naquela época, meados dos anos 60, tinha feito dois filmes com The Beatles, e outros bastante originais pela agilidade do desenvolvimento, a exemplo de 'A bossa da conquista' ('The knack...'), que, se não me falha a memória, vimos juntos no saudoso Tamoio. Mas há em 'Todas as mulheres do mundo' influências de realizadores que estavam, nesta época, dinamizando a linguagem cinematográfica, a exemplo de Godard, Truffaut, etc. A introdução de materiais de procedência diversa, como livros abertos, charges, caricaturas, vem do cineasta de 'Acossado'. Domingos soube, como poucos, absorver o dinamismo narrativo de sua época. Lançado no cine Ópera foi um grande sucesso de bilheteria e lançou a mitológica Leila Diniz, que se consagraria definitivamente na antológica entrevista cheia de palavrões devidamente 'asteriscados' que deu em 'O Pasquim'.
Suas comédias posteriores, ainda que seu o viço de 'Todas as mulheres do mundo', são muito bem humoradas, e refletem, com maestria, o espírito carioca da República de Ipanema, como 'Edu, coração de ouro', 'As duas faces da moeda'.
Nascido em 1936, tem 71 anos de idade e não aparenta. Está lépido e fagueiro em seu programa do Canal Brasil, 'Todos os homens do mundo'. E não pára de trabalhar, a escrever e dirigir peças de teatro, e fazer filmes de baixo orçamento como 'Carreiras'.
A morte de Leila Diniz foi um choque. Lembro-me de a ter recebido estupefato. E Drummond fez uma poesia para ela: "Leila para sempre Diniz".

Jonga Olivieri disse...

Lembro perfeitamente de termos visto o citado filme de Lester, que, aliás, revi por várias ocasiões, por acha-lo excelente.
E realmente a influência dele em Domingos de Oliveira é evidente.