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06 agosto 2007

Cinco ligações afetivas



O bloguista e crítico Rafael Carvalho do blog Cinematógrafico XXI (http://www.cinematografo21.blogspot.com/) me passa uma corrente para que escolha os cinco livros que considero essenciais na literatura. Tarefa difícil que me exigiria (assim como escolher os melhores filmes) um certo tempo e uma certa pesquisa memorialística. Mas decido fazê-la já. Escolher cinco é muito pouco, pois aprecio com entusiasmo algumas dezenas de livros (ao contrário do cinema contemporâneo, do qual é complicado, no final de cada ano, escolher cinco melhores). Com pena de ter deixado obras essenciais de fora, o resultado é o seguinte:

1) OS IRMÃOS KARAMAZOV. de Fiódor M. Dostoiévski. Segundo escreve o gênio russo, trata-se da 'história de uma família', mas, na verdade, é um livro que investiga o ser humano nas suas profundezas, traçando rico painel do homem e de sua condição. Transcende a literatura para se situar como um monumento da humanidade. Ninguém pode deixar de lê-lo antes de morrer. Colocaria, também, Crime e castigo.

2) O VERMELHO E O NEGRO (Le rouge et le noir), de Stendhal. Ponto de partida do romance moderno, uma crônica exemplar de uma província francesa do século retrasado e de seus hábitos, usos e costumes. A trajetória de Julien Sorel é pontilhada de incidentes que faz deste livro uma obra-prima de observação social e humor.

3) DON QUIXOTE, de Cervantes. Precursor de tudo que se faria em termos de literatura a seguir. Na classificação do crítico americano Harold Bloom, que situou como o cânone ocidental Hamlet, de Shakespeare, para o romance moderno não seria Cervantes o detentor deste cânone? Uma narrativa desenvolvida com uma inteligência assustadora: há comentários a latere sobre a ação que se desenrola, e até mesmo congelamento da imagem. Cervantes traumatizou duramente todas as gerações que lhe seguiram.

4) MADAME BOVARY, de Flaubert. Os desejos íntimos da mulher, que, casada com um médico de província, são analisados com singular poeticidade pelo escritor francês, que desvenda, aqui, a alma feminina. Flaubert revela suas fantasias recônditas, e a sua Emma Bovary, pela sua singeleza, pela maneira com a qual o autor a trata, está definitivamente imortalizada na história da literatura.

5) QUNCAS BORBA, de Machado de Assis. Acredito que Machado está em pé de igualdade com os grandes escritores do século retrasado. A demora na sua celebração veio por causa de ter escrito em português. Mas tem uma obra fundamental. Muitos destacam Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro como seus dois momentos sublimes. Sem desconsiderar estes, que são geniais, do ponto de vista afetivo fico com Quincas Borba, Rubião Braz, e Sofia, seus personagens. A descrição que Machado faz de Sofia não fica muito longe da de Flaubert, não!

A foto é de Dostoiévski

2 comentários:

Anônimo disse...

Setaro, nobre amigo, como sempre estou aqui a ler e ler suas palavras nesse blog viciante. Apenas uma mensagem aqui e pra convidá-lo a ler uns pensamentos desconexos que escrevi sobre John Huston na minha página... Abraços e boa semana!

Anônimo disse...

Caro Setaro, obrigado por sua contribuição à corrente, é um lista respeitável. Crime e Castigo está na minha lista e provavelmente Os Irmãos Karamazov será a próxima visita que farei ao universo do escritor russo. Interessante ver Quincas Borba na lista, já que quando se fala de Machado sempre Memórias Póstumas e Dom Casmurro aparecem como suas melhores obras. Mesmo assim, é um ótimo livro.

Em relação ao fato de você ter me tratado como "crítico", creio não ser essa a palavra ideal. Estou apenas começando a escrever algumas impressões cinéfilas e sou novo também, mas quem sabe não tenho futuro nessa difícil carreira? Vontade não falta. Com certeza, o seu blog é uma grande inpiração para isso. Grande abraço, ate!!!