Seguidores

02 julho 2007

Desafio à corrupção




Nunca vi Desafio à corrupção (The Hustler, 1961), de Robert Rossen, porque, quando do seu lançamento, em 63, 64 - antigamente os filmes demoravam dois, três anos, para chegar ao Brasil, e ainda mais um bom tempo para entrar no circuito soteropolitano; quando ia ao Rio, por exemplo, ia muito a cinema e, de volta, os filmes vistos demoravam a chegar; adolescente, achava isso uma façanha, ter visto primeiro certos filmes importantes e, naquela época, havia muitos filmes importantes ao contrário dos tempos que correm povoados de mixórdias - não tinha idade. The Hustler era rigorososamente proibido até 18 anos e, contando 13, 14, não pude entrar. Ainda nesta mesma idade, consegui uma carteira falsa de estudante que me dava 18 anos. A classificação por idade era muito severa: 5 anos (livre), 10 anos, 14 anos, 18 anos e, de vez em quando, um filme de 21 anos para efeito mais comercial do que censório.


Estou a embaralhar as coisas, porque queria dizer algumas palavras sobre The Hustler. Mas voltemos à classificação etária dos filmes. Havia, além do porteiro, fardado, gravatinha borboleta, sempre em pé, um comissário de menores para impedir a entrada destes em filmes proibidos. Mas o comissário tinha uma hora que saia. Havia maneiras para se entrar, no caso de menores. Uma delas era a compra do ingresso inteira, pois não se precisava apresentar a carteira de estudante, mas, mesmo assim, tinha o risco do porteiro desconfiar e barrar. Outra maneira era através da falsificação das carteiras de estudantes, que se podia conseguir com amizades no grêmios das escolas. Não era muito fácil, pois precisava ter amigo influente no grêmio. Naquela época, as carteiras eram todas padronizadas com faixas: azul (menores de 14 anos), vermelha (entre 14 e 18), e verde (maiores de 18 anos. Quando tinha menos de 14, consegui uma vermelha, e aos 15, 16, arranjei uma verde.


Mas o fato é que nunca vi na vida Desafio à corrupção, de Rossen, com grande interpretação de Paul Newman, entre outros grandes atores com George C. Scott, Jackie Gleason. Filme adulto sobre a errância e a desilusão, a falta de caráter, e o jogo de sinuca. Martin Scorsese, com o mesmo Paul Newman, quis repetir The Hustler em A cor do dinheiro, que é apenas um pálido reflexo do filme de Rossen, este, sim, considerado uma quase obra-prima do cinema americano. Será que tem em DVD?

5 comentários:

Saymon Nascimento disse...

Coincidência, tenho uma cópia baixada da internet, ótima, com legendas em espanhol. Ainda não vi o filme - baixo tanto coisa, alugo também, alguns acabam ficando para trás. Vou te providenciar uma cópia.

André Setaro disse...

'The hustler' é uma obra de referência quando se estuda o cinema americano. E, segundo muitos críticos, o melhor desempenho de Paul Newman, que se encontra, dizem, inexcedível nesta obra de Rossen. Scorsese é um admirador fanático deste e quis imitá-lo, sem êxito, em 'A cor do dinheiro'. Mas o filme, de 1986, deu o Oscar a Newman.

Jonga Olivieri disse...

Também não vi o filme.
Mas, lembrei-me de como alguns cinemas eram rigorosos na questão da idade. Principalmente o São Luiz e o Roxy. Era quase impossível passar pelo porteiro, gerente e a trupe toda...

André Setaro disse...

Em Salvador, havia porteiros e porteiros. Alguns eram mais flexíveis, deixavam entrar desde que o menor não fosse tão menor assim, e faziam mesmo vista grossa. Outros se destacavam pela exigência extremada. Lembro-me que o porteiro do Tamoio era do último tipo, exigente, gostava de exercer o poder, e, muitas vezes, mesmo com a apresentação da carteira de estudante, fazia questão da carteira de identidade. Nenhum menor conseguia entrar com o porteiro do Tamoio na porta, no seu expediente. Recordei-me agora do Clube Bahiano de Tênis que, com a falência dos clubes sociais, transformou-se em 'delicatessen', abrigando a Perini. Para quem o frequentou em seus tempos áureos, como eu, é uma tristeza. Entrava no Bahiano, um clube meio metido a aristocrático, com carteiras alheias, principalmente de parentes, primos da mesma faixa etária. Inesquecíveis seus bailes carnavalescos, seu 'réveillon'. Mas havia um gerente desse clube, Waldyr, que conhecia todos, mas todos mesmo, os associados pelo nome e sobrenome. Nenhuma pessoa que não fosse sócia conseguia entrar 'se Waldyr estivesse na porta', como se dizia. E, de repente, espanto-me em estar contando isso num blog que se quer de cinema. Mas tudo tem a ver com tudo. E, além do mais, aos 56, sinto o passado imenso, e a necessidade, urgente, do 'recuerdo'.

Saymon Nascimento disse...

Sim, com o estímulo, vi o filme. Impressiona como, mesmo sem vc ter visto, sabe exatamente o que o filme é exatamente - adulto, desesperançoso, desiludido, enfim, tudo o que se fazia muito no cinema dos anos 60, do A sangue Frio de Richard Brooks a O Indomado, de Martin Ritt. Aliás, nesse último, o personagem de Paul Newman tem até suas relações com o tipo fracassado de The Hustler, e aluz é preaticamente a mesma.
Eu ainda prefiro o filme de Ritt, tanto no todo, quanto no trabalho de Newman, mas isso em nada depõe contra o filme de Rossen, que até termina bem sem que o final pareça falso. Ah, vale notar também a presença angustiada e perfeita de Piper Laurie. Belo filme.