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17 julho 2007

De saco cheio


Sem querer tirar o mérito do seminário internacional de cinema e audiovisual que se realizou em Salvador - e no qual fui agredido durante uma mesa redonda sobre cinema baiano, com gente de nomeada, evento importante para a Bahia, que não se discute, gostaria de comentar sobre o excesso de mostras, festivais, e que mais outros nomes tenham, que se verifica pelo Brasil afora. Em qualquer 'cafundó de Judas' há um festival, quando não uma mostra, ou uma retrospectiva de qualquer coisa. É a festa patrocinada pelos cofres públicos. Em alguns casos, os eventos servem para se ganhar dinheiro. A coisa é muito simples, bastando, para isso, que o organizador tenha aptidão para captar recursos, seja pessoa dinâmica - como se exige de um corretor de imóveis e, antigamente, de um vendedor de enciclopédias, e, por falar nisso, onde é que este último anda? Abre-se uma empresa, devidamente registrada, cujo objetivo seja a organização de um evento cinematográfico etc e tal. Pronto. A captação pode ser feita por meio de legislação que facilita o processo, e há empresas públicas doidas para patrocinar, a exemplo da Petrobrás, e algumas privadas. Basta observar no cartaz de um desses eventos a quantidade de empresas patrocinadoras. É o que se dizia em priscas eras: uma mão na roda.

Mas o que queria também comentar aqui, além do excesso, é que os festivais atuais (sejam eles intitulados de seminários, mostras, retrospectivas, panoramas, etc) abusam na programação concentrada. A mostra internacional de São Paulo, por exemplo, tem perto de 500 longas, sem contar os curtas, os eventos paralelos. Quem participa dela tem ficar full time à disposição, a ver filmes de manhã, de tarde, e de noite. Creio salutar que, nas mostras do tipo, haja espaço para se tomar uma cervejinha, curtir a ressaca no dia seguinte (geralmente quem vai às mostras é pessoa de fora que fica em hotel a gozar de certas mordomias) no hotel, etc. Mas da forma que elas são programadas há a exigência de que seu participante seja um maratonista, ainda que a ficar sentado por horas seguidas a ver um filme. Para fugir ao aspecto mundano dos festivais de cinema, Guido Araújo, há trinta anos atrás, ao criar o evento que viria a ser conhecida como Jornada de Cinema da Bahia quis enfatizar com Jornada a seriedade do evento com o objetivo de não passar a imagem de festival mundano. Mas, na minha opinião, creio que um certo mundanismo é necessário para se relaxar, conhecer pessoas, beber, tomar um drink à beira da piscina.

Quando se fazia um festival de cinema em décadas passadas, geralmente as programações eram mais suaves de modo a permitir o 'relax'. E em mostras de filmes, nas quais não havia mesas redondas nem quadradas, geralmente se programava um filme por noite, dois no máximo. Finda a sessão, as pessoas se reuniam num barzinho aconchegante e tinham o dia seguinte para dar uma volta pela cidade, curtir um pouco a paisagem. É um problema meu, sei disso, mas não tenho mais saco nem paciência para acompanhar mostras, seminários, festivais. Quando muito seleciono alguns programas, embora, hora chegada, bate-me o abacate da preguiça de locomoção.

4 comentários:

Anônimo disse...

Estimado professor Setaro, fiquei indignado com o que li nos jornais de hoje. Já estava para lhe mandar um e-mail agradecendo os elogios a minha pessoa e a Zingu!. Porém, quando vi essa situação e o quanto a sua fígura tinha sido mal interpretada, eu fiz uma espécie de manifesto em sua defesa no meu blog em www.cineterceiromundo.zip.net
Espero que goste, e agradeço aos elogios a minha publicação e pessoa.

Julio disse...

Setaro:
Bem apontado. Creio mesmo que o maior problema desses festivais está no excesso. Têm-se filmes em demasia - como os quase 500 que vc aponta na Mostra de São Paulo - e muito pouco tempo para vê-los (sem falar na disputa pelos diretores mais cultuados e filmes premiados). Pena que esse investimento na quantidade não se reflita na qualidade: na maioria das vezes, essa orgia de filmes revela-se de uma chatice atroz e a experiência de participar de uma mostra é quase aflitiva (como o tormento causado por não conseguir ver AQUELE filme cujo horário choca com outro igualmente ansiado). Esses eventos acabam valendo mais pelas mostras paralelas e por uma ou outra surpresa que meses depois acabam lançadas em nosso circuito. Que venham festivais menores e com uma curadoria mais criteriosa.

Jonga Olivieri disse...

No final das contas, a gente sai das exibições confundino os títulos, as cenas, embralhando os diretores. É uma overdose de exibições.
Como você disse, os festivais a que a gente assistia tinha o complemento essencial de longas discussões sobre o filme asistido. Regadas a um bom papo, regado a loura gelada.

André Setaro disse...

Sem querer ser abusivo, mas já o sendo, digo que muitos da nova geração que, metidos a críticos de cinema, escrevem-nas, o que estão a fazer é uma imitação de crítica, mas nunca uma crítica de cinema propriamente dita como a elaborada por um Moniz Viana, um Biáfora, um Sérgio Augusto, um Paulo Perdigão, um Ely Azeredo, entre tantos que passaria o dia, aqui, neste 'post', a citar. Os 'imitadores da crítica' infestam, hoje, a internet. Cinema virou futebol, isto quer dizer: qualquer um se sente um crítico de cinema e se sente apto para dar palpite e 'crítico' ainda por cima. Valhei-me Nossa Senhora do Perpétuo Socorro!!!