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05 janeiro 2014

Dona Lúcia Rocha: guerreira com voz de ave

Florisvaldo Mattos, jornalista, professor, poeta, amigo e companheiro de Glauber Rocha, pertencente à gloriosa Geração Mapa, que fez história na Bahia, sensibilizado com o desaparecimento de Dona Lúcia Rocha, escreveu um belo poema lavrado em forma de soneto inglês. Ia, neste domingo, escrever alguma coisa em sua memória para o blog, mas a grandeza do poema basta. As palavras abaixo são da lavra do poeta.

EM MEMÓRIA
Morreu Dona Lúcia Rocha, mãe do grande cineasta e lutador pela cultura Glauber Rocha, de que fui amigo, nos ardores da juventude e de ações em favor da arte. Devido a isso, fui por ela honrado (eu como outros) com atenções e afeto, quando ia  aos Barris, fosse a sua casa no nº 13, fosse à da pensão que mantinha no nº 14 (esta hoje um miserável escombro), ambas à Rua General Labatut, ela quase mãe para todos os amigos do filho (Calasans Neto, Fernando da Rocha Peres, Paulo Gil Soares, Sante Scaldaferri, Ângelo Roberto, Fred Souza Castro, Fernando Rocha, e mais). Foi uma autêntica personagem de tragédias, mas que a todas venceu, entre as quais as mortes impactantes dos três filhos, mas morreu sem vencer o último dos dédalos de pedra por onde marchou, o da burocracia oficial e da indiferença empresarial, que a impediu de ver completo e consolidado, no Rio, o Templo Glauber, erguido em memória ao glorioso trajeto cultural de seu filho. Distante, sem poder estar presente a seu velório e féretro, para prestar-lhe homenagem e apresentar minhas condolências a seus netos, faço o que a minha tosca capacidade permite, escrevo e dedico um poema à sua memória de mulher guerreira, que dispensa compungidos sentimentos. E lhe dei o título que me parece mais adequado. Vai abaixo, com meus respeitos.

FOI-SE UMA ANTIMEDEIA
            (À memória de Dona Lúcia Rocha, mãe de Glauber)

A matriarca dos Rocha, Dona Lúcia,
Na vida uma guerreira com voz de ave,
Ardor por juventudes e minúcia,
Com um filho de talento e rosto grave,
Que se foi como um sopro em plena glória,
Com o nome da mãe de luz vestido;
A quem ergueu um Templo de memória,
Obra de quem viveu por céus ungido,
Resolveu percorrer entre as estrelas
O rastro de quem foi um bem precioso,
Estática tão só de ouvir e vê-las
Saudar-lhe a forma do tecer bondoso:
            Só com cabeça e câmera na mão,
            Ela o filho do mundo fez irmão.


(SSA-BA, manhã de sábado, 04/01/2014)

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