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12 abril 2012

Os 100 anos de Amácio Mazzaropi


Comemora-se, neste 2012, os 100 anos de nascimento de Mazzaropi (9 de abril de 1912). O blog presta uma homenagem a este comediante singular.
Há 31 anos, no dia 13 de junho de 1981, morria, após anos de sofrimento por causa de um câncer na medula óssea, o comediante Amácio Mazzaropi, contando 69 anos de idade. Sobre ter sido um fenômeno extraordinário de bilheteria, Mazzaropi, no entanto, nunca foi prestigiado pela crítica, que sempre considerou seus filmes abaixo de qualquer média, excetuando-se alguns ensaístas que o viam mais sob o prisma sociológico, a exemplo de Paulo Emílio Salles Gomes e Jean-Claude Bernardet. Conta-se, inclusive, que Paulo Emílio, crítico lendário de O Estado de S.Paulo, instado a sair de casa para um debate, demorou a deixar a sua poltrona por estar vendo um filme de Mazzaropi na televisão.
Nunca gostei dos filmes do comediante, mas confesso que os via todos, quando lançados no circuito comercial e, verdade seja dita, os seus melhores são os da primeira fase, quando trabalhava na Vera Cruz. Não se pode, por outro lado, sob pena de omissão histórica, ignorá-lo, pois um artista que fez parte do imaginário cultural brasileiro. Quando, por exemplo, foi lançado O Corinthiano, num cinema da Avenida São João em São Paulo, as filas quilométricas engarrafaram o trânsito paulistano. O Corinthiano, literalmente, parou a cidade.
Nasceu em Taubaté (SP), em 9 de abril de 1912, quando o cinema ainda dava os seus primeiros passos como linguagem, e David Wark Griffith ainda não tinha feito O nascimento de uma nação (The birth of a nation, 1915), ponto de partida do cinema narrativo. Filho de um imigrante italiano, Bernardo Mazzaroppi, com uma portuguesa, o fascínio de Mazzaropi estava nos espetáculos circenses, chegando mesmo a fazer parte, com 14 anos, da caravana do Circo La Paz no qual, no intervalo de um número de faquir, Mazzaropi contava anedotas, ganhando, com isso, pequena gratificação.
Com a morte de seu pai, em 1944, a situação financeira de Mazzaropi se complica e, para sobreviver, aumenta a sua carga horária no teatro - que já se profissionalizara quando saiu dos espetáculos circenses, e, de repente, conquista o público paulistano numa peça intitulada Filho de sapateiro, sapateiro deve ser, que é apresentada no Teatro Oberdan, acumulando o comediante a função de ator e diretor. O jeitão mazzaropiano já está todo ali, tabaréu in extremis, desengonçando, cuja cristalização se dá num programa radiofônico chamadoRancho alegre. Dermival Costa Lima, diretor da prestigiada Rádio Tupi, indo ao teatro ver Filho de sapateiro, sapateiro deve ser, entusiasmou-se com o tipo de Mazzaropi, e o convida para fazer o programa na rádio, que logo, nas suas primeiras audições, estourou em audiência, em 1946, dirigido pelo futuro autor de telenovelas Cassiano Gabus Mendes. Quatro anos depois, o programa estréia na TV Tupi, em 1950, com a participação de João Rastiffe e Geny Prado (que acompanharia Mazzaropi em todos os seus filmes, vindo a morrer esquecida há alguns anos atrás).
Em fins dos anos 40, a burguesia paulista, capitaneada por Franco Zampari, inaugura um grande estúdio com o propósito de dar ao cinema brasileiro uma qualidade que nunca teve: a Vera Cruz. Abílio Pereira de Almeida e o próprio Zampari convidam Amácio Mazzaropi, em 1952, para fazer filmes no estúdio com a finalidade de diversificar a sua produção. E são seus melhores trabalhos, porque há, neles, um artesanato que, aos poucos, com o controle de Mazzaropi de toda a produção, a elaboração da mise-en-scène cai a uma quase estaca zero. Sai da frente (1952), de Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne (o mesmo de Sinhá Moça), Nadando em dinheiro (1953), de Abílio e Carlos Thiré (que se casou com Tonia Carrero, pai de Cecil Thiré), e Candinho (1954), de Abílio, novamente, assumindo o controle direcional sozinho (era melhor roteirista do que diretor) são, talvez, seus trabalhos mais elaborados.
Apesar do sucesso mundial de O cangaceiro, a Vera Cruz começa a entrar em crise e rescinde o contrato com o comediante, que, já famoso, consegue fazer mais alguns filmes em diversas produtoras: A carrocinha (1955), de Agostinho Martins Pereira, Chico Fumaça (1956), de Victor Lima, O fuzileiro do amor (1956), de Euripides Ramos, O gato da madame (1957), de Agostinho Martins Pereira (que tem a esfuziante Odete Lara no elenco), O noivo da girafa (1958), de Victor Lima (o primeiro filme de Mazzaropi que conseguiu fechar o trânsito em São Paulo).
Em 1958, com a venda de sua casa, abre uma produtora, a PAM (Produções Amácio Mazzaropi), para ficar independente dos estúdios e ser seu próprio produtor, além de distribuir seus filmes em todo o território nacional. O comediante revela, com isso, tino comercial. O primeiro filme da PAM é Chofer de praça (1959), de Milton Amaral, ao qual se seguem Zé do Periquito (1960), dirigido por Mazzaropi e Ismar Porto, e Jeca Tatu (1960), baseado em argumento de Monteiro Lobato. No ano seguinte, 1959, é convidado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o famoso Boni, na época da TV Excelsior de São Paulo, a fazer um programa de variedades que fica no ar até 1962.
Por esta época, adquire uma fazenda para a realização de suas fitas, construindo um grande estúdio de gravação, e, logo em seguida, um hotel para o alojamento de atores, além de uma oficina de cenografia. Dentro das dimensões mercadológicas do cinema brasileiro, a PAM Filmes é um estúdio de grande porte, mas reservado às películas de seu dono. Mazzaropi não gostava da crítica, que sempre jogou ladeira abaixo os seus filmes e, numa rara entrevista, disse que lia apenas a revista Tio Patinhas. Tinha um amor platônico por Hebe Camargo, e, já doente, deu a ela a sua derradeira entrevista.
Gostava de aproveitar as temáticas em moda para os seus filmes: quando do apogeu do western-spaghetti, filmou Uma pistola para Djeca (1969), no auge do sucesso da novela Beto RockfellerBetão Ronca Ferro (1970), para tirar vantagem do o êxito de O exorcistaJeca contra o capeta (1976), etc. Morreu sem terminar Maria tomba homem.
O melhor Mazzaropi continua sendo Nadando em dinheiro, feito no início de sua carreira.

2 comentários:

Jonga Olivieri disse...

Não assisti todos os filmes de Mazzaropi, mas ele, sem dúvida faz parte da cultura brasileira, principalmente no capítulo comédia popular!

Anônimo disse...

Apenas corrigindo, Mazzaropi nasceu na capital paulista, na rua Vitorino Carmilo,62, no bairro de Santa Cecília.Lá ele morou até os seus 8 anos,inclusive, apesar de abandonado, o sobrado centenário ainda existe lá.
Até mais.
André Luiz