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02 agosto 2011

"Os Inocentes", de Jack Clayton

Realizado em 1961, Os Inocentes (The Innocents), encontrava-se, há décadas, fora de circulação até o seu recente lançamento em DVD pela Fox. Dirigido pelo inglês Jack Clayton, que, três anos antes, com Almas em Leilão (Room at the Top, 1958), consolidou-se como um dos principais cineastas do free cinema (a nouvelle vague britânica), Os Inocentes é a adaptação de uma novela curta do famoso escritor Henry James (feita pelo célebre e polêmico Truman Capote e William Archibald), The Turn of the Screw (A Outra Volta do Parafuso).

O filme rechaça, no entanto, a ambigüidade do texto literário e opta francamente pela irrealidade das aparições. O terror, portanto, em Os Inocentes, surge como um recurso para uma abordagem mais profunda da repressão da era vitoriana. E as aparições, neste caso, ao invés de serem, na verdade, tormentos do sobrenatural, constituem-se nas mórbidas corporações do puritanismo e do sexo reprimido da protagonista principal, uma instrutora (Deborah Kerr em um de seus melhores desempenhos) que projeta sobre duas crianças (Pamela Franklin e Martin Stephens) os fantasmas de suas repressões sexuais, e, em conseqüência, causa sua desgraça.

Clayton brilha mais nas cenas exteriores - de sutil perversidade – do que nas interiores (nas quais se repetem os lugares comuns dos filmes de terror ingleses: ruídos inexplicáveis, portas que se abrem e se fecham, etc). De qualquer forma, o realizador é hábil o suficiente para dotar Os Inocentes de uma inteligente descrição do ambiente e da mentalidade da era vitoriana. Vale destacar a brilhante e eficaz fotografia de Freddie Francis – que, posteriormente dirigiria várias fitas de terror para a Hammer, produtora inglesa, e que foi chamado por Martin Scorsese para fazer a fotografia de seu Cabo do Medo, e a inexcedível interpretação de Deborah Kerr – vítima e verdugo da perversa fascinação de seus jovens alunos.

Entre os filmes de Jack Clayton, diretor de raro domínio formal sobre o seu meio de expressão, embora pouco reconhecido e comentado – talvez dada a dificuldade de encontrar as suas obras mais notáveis, os que mais se destacam são este Os Inocentes e Almas em Leilão, seu primeiro longa metragem, um melodrama social sobre a ascensão de um jovem arrivista, muito bem acolhido, na época, pela crítica. Como características de sua mise-en-scène, podem ser detectados rigor expositivo e beleza formal dentro de um estrito classicismo.

Também se pode citar como obra singular de Clayton um filme de 1964: Crescei e Multiplicai-vos (The Pumpkin Ester), que incide sobre estas características e confirma sua interessante personalidade. Nos anos 70, entusiasmado por estes filmes do início de carreira, Francis Ford Coppola o convida para dirigir, nos Estados Unidos, O Grande Gatsby, baseado no romance de F. Scott Fitzgerald, com Mia Farrow no auge de sua carreira. Mas Clayton tinha já perdido o seu mistério como realizador, não dando ao filme a personalidade que tinha tanto quando fez Os Inocentes e os outros citados.

4 comentários:

Gustavo disse...

ANDRÉ, ESTOU TE DESCONHECENDO. SÓ PORQUE VIROU AMIGUINHO DE NAVARRO NAO IRÁ COMENTAR O ÚLTIMO FILME DELE? QUERIA SUA EXPLANAÇÃO, POIS VI E NAO ENTENDI NADA.

Anônimo disse...

Depois de muita busca consegui baixar The Innocents, e só posso dizer fantástico, perfeito em muitos sentidos. E tb quero ver a crítica para O HOMEM QUE NAO DORMIA.

Anônimo disse...

Rapaz,

A hora dos "pensadores baianos" é de cinismo e de retiro.

Pelos tempos que correm, a sociedade baiana se caracteriza por um regime de dependências recíprocas. Eu te poupo e você fica me devendo.

Como vai aparecer um "soldado" me perguntando se estou com saudades do senhor malvadeza. Já deixo aqui a resposta. Não! A única coisa boa naqueles tempos era que sabíamos em que campo os intelectuais e pensadores baianos estavam.

Maria

Francisco Sobreira disse...

Ándré,
Depois de Crescei e Multiplicai-vos, Clayton fez Todas as noites às nove, que, na época, me agradou e que jamais revi. Talvez tenha sido o seu último bom filme, pois, a partir de O Grande Gatsby (que, apesar de decepcionar, é dotado de uma beleza plástico/visual), ele, de fato, perdeu o rumo. Infelizmente. Abraço.