O governo quer proibir a divulgação de documentos importantes da História do Brasil, e a proibição está sendo articulada justamente por aqueles que estão com medo da História. Pela importância do assunto, publico abaixo um brado retumbante do documentarista Sílvio Tendler, que recebi por e-mail. Ele está com toda a razão. E abrindo as devidas e imprescindíveis aspas:
"Estamos assistindo, perplexos, à enorme conspiração contra a verdade, a história e a memória.
O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores, dois ex-presidentes da República, políticos de diferentes matizes, se unem para que o Brasil não conheça a sua verdade.
Já é difícil fazer filmes, livros e peças de teatro sobre personagens reais -- mesmo os de vida pública --, sem autorização do próprio ou de familiares e herdeiros. Agora, a pá de cal chega com a intenção de trancafiar documentos para que a verdadeira História não se revele.
E quem orquestra essa trama contra o futuro do Brasil? Sim, porque povo sem memória é povo sem futuro e estaremos sujeitos eternamente a sermos alimentados por contos da carochinha. Mas, afinal, o que querem esconder de nós? Quem bateu, torturou, mandou prender e arrebentar? Quem negou passaportes, quem expedia os tenebrosos atestados ideológicos, que impediam o acesso à escola ou ao emprego?
Estive duas vezes no Smithsonian Institute em Washington. Na primeira, percorri uma exposição que retratava as condições de vida dos negros nos Estados Unidos e as lutas pela conquista dos seus direitos cívicos.
Estavam ali expostas todas as mazelas de uma sociedade que destinava banheiros públicos e bebedouros diferentes para negros e brancos. Escolas diferentes, lugares separados nos transportes públicos, os mais confortáveis e em maior quantidade sempre destinados aos brancos. E se faltasse lugar, o negro sentado deveria ceder o lugar ao branco. Uma sociedade que queimava jovens por razões de cor se expunha ali como um ato de superação do passado, de construção do novo.
Na segunda vez assisti a exposição que tratava das condições de vida dos imigrantes japoneses e seus descendentes nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Vi coisas que nem os livros escolares nem o cinema americano me contaram. Vi fotos de lojas de japoneses atacadas por norte-americanos enfurecidos com os ataques japoneses a Pearl Harbor, imagens de famílias sendo recolhidas aos campos de concentração nos Estados Unidos para isolar o perigo amarelo e imagens de batalhões de jovens soldados nipo-americanos para guerrear diretamente contra o exército japonês como uma afirmação do patriotismo norte-americano!
A exposição termina com uma carta do então Presidente Ronald Reagan pedindo desculpas à comunidade japonesa pelas humilhações impostas.
Querem nos impedir de saber a verdade sobre a guerra do Paraguai, ao que parece, uma verdadeira carnificina praticada para atender interesses de poderoso banqueiro inglês. Nós não podemos saber o que os paraguaios sabem e contam a seus filhos, por quê?
Resistirão almirantes, generais e marechais à lupa da História? Suas biografias corresponderão às narrativas descritas nas pinturas das grandes batalhas? O silêncio que nos impõem deve ser a razão porque não cultivamos nossos heróis e não preservamos sua memória, a total falta de identificação de identidade com eles.
Os que nos negam conhecer a verdadeira História do país são cúmplices das carnificinas, dos torturadores, dos alcaguetes a soldo do Estado; dos que ordenaram censurar jornais, revistas, peças de teatro e músicas.
Não podemos nos calar e aceitar como fato consumado essa violência da censura que tentam nos impor.
Construir um país livre representa lutar para conhecer a história. Não queremos cultivar falsos heróis e, a partir de hoje, personagens da história oficial estarão sob suspeita, enquanto não nos deixarem conhecer os documentos que abrigam verdades, que, mesmo dolorosas, devem ser reveladas."
3 comentários:
Era uma vez uma candidata a presidente que era a favor da abertura de toda essa documentação.
Hoje há uma presidenta que é a favor que o povo continue achando que um calhorda como o tal do Tiradentes é um grande representante nacional que merece até um feriado nacional.
Quanto aos verdadeiros heróis como o da independência do Brasil ( 2 de Julho) nem os próprios baianos sabem direito sobre eles.
Até quando vamos continuar a glorificar falsos heróis. O mesmo SAFADO (Sarney) que é a favor desse ato, foi também aquele que tirou do túnel do tempo do senado a cassação do "Fernandinho cheira tudo".
Setaro, também estou indignado com essa tentativa de proibição de revelar documentos históricos. Acho que nem durante a ditadura militar se chegou a pensar em tal coisa! O pior de tudo é que a Dilma chegou a apoiar tal excrescência. Chega de Sarney e Collor! Parabéns ao Silvio Tendler pelas sábias palavras. Vou tomar a liberdade de reproduzir esse post no meu blog.
Abs.
Você tem toda razão, caro Sérgio. O que se quer na verdade é uma excrescência.
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