Filme-síntese de Fellini, Amarcord é uma festa, súmula de sua estilística como realizador de obras cinematográficas. Realizado em 1973, mas somente lançado no Brasil dois anos depois, em 1975, nunca mais o autor de La dolce vita alcançaria o mesmo nível, a mesma altura como criador. Amarcord é o ponto máximo na carreira de Fellini. Se não o melhor, mas o mais querido, embora, a rigor, seu melhor filme, para mim, seja Oito e meio (Otto e mezzo). Há, no itinerário felliniano pós-Amarcord, uma redundância de suas constantes temáticas e estilísticas. Mas faz parte de um autor completo de obras cinematográficas como ele. Há quem disse que, na verdade, um verdadeiro autor tem, na sua filmografia, apenas uma obra, sendo as singulares apenas variações sobre um mesmo tema. Na trajetória desse artista único, a primeira fase é a mais despojada -mas, nem por isso, menos bela (Io sceicco biano, I vitelloni, La strada, Le notti di Cabiria, Il bidone). A página da virada, por assim dizer, é La dolce vita (1960), discurso moral sobre a sociedade de sua época, que prenunciaria a decadência contemporânea. E Oito e meio a explosão da estrutura narrativa em função de um tempo mais psicológico do que cronológico. Creio que o cinema não foi mais o mesmo depois de Oito e meio.
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